Realizada nos dias 18 e 19 abril, a 5° Cúpula das Américas (reunião que reúne todos os governos do continente, menos Cuba), foi o primeiro encontro do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com os governos da América Latina.A grande imprensa fala de um “clima de harmonia” e da “conquista de uma nova relação sul-norte”. Obama falou de uma “cooperação e interesses comuns”, e até apertou a mão de Chávez, que manifestou seu desejo de “ser amigo de Obama”.
Mas os interesses entre os EUA e restante do continente não são nada comuns. Ao contrário. Sempre foram absolutamente diferentes. Quem ganhou então com a “harmonia” vista na Cúpula das Américas?

Uma conferência a serviço da dominação
Em 1991, a partir das diretrizes neoliberais do Consenso de Washington, o ex-presidente Bush pai lançou a Iniciativa das Américas (precursora da Cúpula), que consistia em impor um acordo de livre comércio em todo o continente, cujo nome seria Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Seu objetivo era eliminar a soberania das nações para permitir que as multinacionais norte-americanas se apropriassem de todos os recursos naturais do continente e permitir uma nova colonização dos países latino-americanos.

A Cúpula da Américas de 2005, no entanto, realizada em Mar del Plata na Argentina, evidenciou o enorme desgaste de Bush e o projeto da ALCA empacou. Mas a implementação da política recolonizadora tomou outros caminhos: os Tratados de Livre Comércio bilaterais (TLCs) firmados entre EUA com países como o Uruguai, Costa Rica e o Chile.

Agora, Barack Obama participou da conferência de Trinidad e Tobago e apresentou sua “nova política”, com o objetivo de recompor as relações com a América Latina e conseguir a “cooperação” de governos que antes estavam enfrentados com Bush. A mudança de governo nos EUA conseguiu como em um passe de mágica trocar a cara desgastada de Bush pelo sorriso de Obama. A política recolonizadora, no entanto, continuou a mesma.

Nada de tão novo
A “nova doutrina” de Obama ofereceu um empréstimo de 100 milhões de dólares a América Latina para micro empreendimentos, uma esmola se comparada à ajuda de trilhões de dólares dada aos bancos falidos do seu país.

A “nova doutrina” é, na verdade, uma mudança na política do imperialismo, forçado pela situação dos EUA, produto da crise mundial e da derrota da “guerra preventiva” no Oriente Médio. Essa situação se expressou na América Latina através de revoluções e levantes sociais que se produziram no Equador, Argentina, Bolívia e Venezuela. Nesses levantes, o ódio ao imperialismo foi uma bandeira levantada pelas massas.

A “nova doutrina” consiste em buscar acordos, consensos, além de aproveitar a imagem de Obama no mundo para impor (agora com formas mais “democráticas e civilizadas”) o mesmo que Bush quis impor aos tiros.
Mas Obama controla o maior poderio militar do mundo e utiliza isso para fazer chantagens. O presidente norte-americano não vai renegar os tiros quando isso for necessário.

Por isso, em uma reunião reservada com os 34 presidentes durante a Cúpula da Américas, “os temas defesa e segurança foram reabilitados por Barack Obama” (Clarín, 20/4). E os eixos foram os mesmos de Bush: narcotráfico e terrorismo. Ocorre a mesma coisa sobre quando Obama fala em retirar tropas do Iraque… mas para levá-las para uma nova guerra no Afeganistão.

A “nova doutrina” não tem nada novo. Os ex-presidentes dos EUA, John Kennedy e Jimmy Carter, fizeram dos “direitos humanos”, da “paz e da democracia” suas bandeiras que ocultaram as políticas de seus governos imperialistas.
Com essa “nova doutrina”, Obama conquistou um triunfo na Conferência: sem muito alarde conseguiu que nela não houvesse exigências ao imperialismo e ainda ganhou a colaboração de todos. A questão central dos Tratados de Livre Comércio (TLCs), a dívida externa e o saque dos recursos naturais realizado pelo imperialismo sequer foram questionados.

A Casa Branca realizou uma séria de manobras para evitar que o bloqueio à Cuba centralizasse o debate na Cúpula das Américas. Por isso, antes da reunião, Obama anunciou a liberalização das viagens de cubanos com familiares ao país e das remessas de dólares para a Ilha. A secretária de Defesa dos EUA, Hillary Clinton, chegou a afirmar que “a política dos Estados Unidos adotada durante 50 anos tinha fracassado”.

Raúl Castro respondeu dizendo que poderia dialogar “inclusive sobre direitos humanos e os presos de Cuba”, aceitando uma ingerência norte-americana que o governo cubano jamais tinha permitido.

“Esquecimentos”
Já os governos latino-americanos, desde o direitista Uribe (Colômbia) passando por Cristina Kirchenner (Argentina) e Lula, rivalizaram para se oferecerem como colaboradores de Obama.

Pouco antes da conferência, os governos da Alba – Alternativa Bolivariana para as Américas, que reúne Venezuela, Bolívia, Paraguai, Nicarágua, Honduras, Dominica e São Vicente e Granadinas- se reuniram para fazer uma declaração que tentava se colocar como “alternativa” à “declaração oficial”.

Contudo, no documento não há uma só palavra sobre a dívida externa. Não existe nenhuma proposta de nacionalização dos recursos naturais, tampouco exige de Obama a desarticulação da IV Frota, que está sendo formada pelo imperialismo para “vigiar” o Atlântico Sul, com objetivo claro de intervenção externa nos países da região. Ou seja, a luta pela soberania e pela libertação do imperialismo ficou totalmente “esquecida”.

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