PSTU promove atividades independentes e defende que um outro mundo só é possível se for socialistaDo dia 27 de janeiro a 1 de fevereiro ocorreu em Belém a nona edição do Fórum Social Mundial (FSM). Depois de anos sendo realizado no exterior, com uma repercussão apagada e consideravelmente desgastado, o evento volta ao Brasil com um novo fôlego.

A nova conjuntura internacional, marcada pela grave crise econômica que coloca o capitalismo em cheque, assim como desdobramentos ou fatos novos, como a eleição de Obama e o ataque de Israel à Palestina, parecem ter atraído a atenção para o Fórum. De acordo com a organização oficial, 133 mil participantes de 142 países se inscreveram. Toda a rede hoteleira da capital do Pará e região metropolitana foi ocupada e as ruas estiveram cheias nesses dias.

Montando o cenário
Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que atraía milhares de pessoas em busca de uma alternativa, essa edição do Fórum foi a mais despolitizada e explicitamente governista. Contou com um pesado investimento do Governo Federal e do desgastado governo estadual de Ana Júlia (PT), a fim propiciar um verdadeiro palanque eleitoral.

Mas o governo foi obrigado a lidar com um problema que aflige a capital paraense: o alto índice de violência urbana. Contra isso, montou um verdadeiro esquema de guerra, principalmente contra a população pobre. Aumentou o efetivo policial, desapropriou casas em locais que seriam utilizados pelo Fórum a preços baixos e proibiu o funcionamento de bares próximos ao Fórum após as 22 horas.

Para se ter uma idéia, foi alardeado o investimento público recorde de R$ 143 milhões para a realização do FSM. A maior parte, porém, foi destinado ao policiamento, cerca de R$ 52 milhões. Foi notícia também a estréia de um novo tipo de arma, que produz choque, utilizado para conter conflitos sociais.

A população de Belém, ao mesmo tempo em que sofria a repressão do PT, via-se também excluído das atividades realizadas pelo Fórum. Só tinha acesso aos locais aonde ocorriam os eventos quem fizesse inscrição, mediante de pagamento de trinta reais. Ou seja, a grande maioria da população via-se reduzida a mera espectadora do que ocorria à sua volta.

Se o cenário montado pelo governo já era lamentável, o conteúdo das discussões impresso pela organização oficial do Fórum não ficava atrás. Mais uma vez, o conteúdo reformista, de um capitalismo de rosto humano. Mesmo o tema da Palestina foi relegado ao segundo plano. Para milhares de ativistas, jovens em grande parte, à procura de uma alternativa a esse sistema, era oferecido velhas receitas que nada mudam.

Para se ter uma idéia do tom oficialista do evento, a principal atividade do Fórum foi a reunião com os quatro presidentes latino-americanos, capitaneados por Hugo Chávez. O presidente venezuelano foi ovacionado pelo conjunto da esquerda, incluído o PSOL. No mesmo dia em que ativistas eram assassinados no país, esses setores se calam diante da repressão para apoiar Chávez.

Um mundo socialista é possível
O PSTU participou do FSM para apresentar um programa que ataque a raiz dos problemas discutidos nesses dias. Questões que vão da ecologia à crise econômica. Com uma pauta que ia da defesa dos direitos e empregos, contra a crise, à defesa da Palestina ante o genocídio de Israel, o partido atraiu a simpatia de vários ativistas.

Tal caráter pôde ser visto já na marcha de abertura. A coluna do PSTU, mesmo sob uma chuva torrencial, foi uma das mais politizadas e animadas. A coluna foi engrossada por trabalhadores da construção civil, que entoavam “Ô, Lula que papelão tem dinheiro pra banqueiro e pro peão só demissão”, sendo aplaudidos nas ruas de Belém.

O PSTU esteve entre as poucas organizações que denunciaram o papel do governo Lula na ocupação do Haiti. Seus militantes tiveram atuação decisiva para a realização do Seminário sindical unificado (leia na página 8). Já a LIT realizou um dos poucos debates que trataram com profundidade a crise econômica. Os militantes do partido atuaram no Fórum apresentando um programa socialista em atividades contra a opressão, tanto de gênero, quanto de raça ou orientação sexual.

Atuaram, sobretudo, no sentido de afirmar que um outro mundo só é possível se for socialista.

*Participaram da cobertura
Priscila Duque, Wellingta Macedo
e Roberto Aguiar.

Post author Diego Cruz, enviado especial a Belém (PA)*
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