Uma trégua suspendeu temporariamente os combates entre os milicianos de Al-Sadr – o exército Mahdi – contra as forças do governo iraquiano, apoiadas pelas tropas anglo-americanas de ocupação do Iraque. O governo Maliki também deu um prazo para que os milicianos depusessem suas armas. Al-Sadr recusou a proposta e o governo iraquiano estendeu o prazo até o dia 8 de abril.

O conflito começou no último dia 25, quando o premiê do Iraque, Nuri al Maliki, lançou uma ofensiva no sul do país para retomar o controle sobre Basra, capital petrolífera dominada por milícias xiitas.

Basra é a segunda cidade mais importante do Iraque, situada no coração da zona petrolífera do país. Mas o enfrentamento entre o exército Mahdi também se ampliou para Bagdá, Kut, Amara, Nasiriya e Diwaniya, as capitais das quatro províncias chaves do sul do Iraque.

A crise levou o governo iraquiano a pedir ajuda às forças americanas e britânicas, que bombardearam Basra tendo como alvo focos da milícia. Contudo, mesmo após seis dias de bombardeios e combates, que resultaram em pelo menos 350 mortes, a milícia de Muqtada Al-Sadr ainda controla Basra. Pelo menos é o que afirma um jornalista do New York Times, que conseguiu ingressar na cidade. Segundo ele, “Não há nenhum lugar que o Exército Mahdi não controle ou não possa atacar ao seu capricho”.

Motivos
Quais são as razões do enfrentamento? As forças de Al-Sadr sempre foram consideradas uma “pedra no sapato” dos planos dos EUA e do governo fantoche de Maliki em “estabilizar” o Iraque. Em 2006, um acordo entre Al-Sadr e o governo impediu a unidade da resistência iraquiana entre os xiitas e sunitas, o que resultou numa relativa estabilização da zona petrolífera. Mas Al-Sadr nunca foi considerado alguém confiável por Washington. A existência de uma milícia armada em pleno motor da economia iraquiana – onde está a Companhia de Petróleo do Sul do Iraque, que extrai e exporta a maior parte do petróleo do país – desagrada imensamente a Casa Branca.

Por outro lado, Maliki e seu partido (Dawa e o CSII – Conselho Supremo Islâmico do Iraque) tentam esmagar as forças de Al-Sadr por razões políticas. O movimento de Al-Sadr está se fortalecendo e poderá conquistar uma grande vitória nas eleições provinciais, previstas para outubro. Uma derrota eleitoral em Basora, como em todo o sul do Iraque, ameaçaria a hegemonia do Dawa e do CSII.

Mediação
Aparentemente, a trégua teve a mediação do Irã. Analistas confirmam que Hadi Al-Ameri, o comandante em chefe da Organização Badr e proeminente membro do CSII, viajou para o Irã para negociar trégua com Al-Sadr. Outras informações também confirmam a participação do comando da Guarda da Revolução Islâmica iraniana nas negociações.

O Irã tem um papel na sustentação do atual governo de coalizão xiita. Foi a república dos aiatolás iranianos que impulsionaram a hierarquia xiita iraquiana e seus partidos políticos, que constituem as forças centrais que formam o governo de ocupação colonial no Iraque. Em outras palavras, o governo do Irã, na prática, colabora com os EUA no Iraque. O mesmo país que repetidas vezes realizou ameaças em atacá-los, utilizando as mesmas mentiras que levaram à invasão iraquiana (armas de destruição em massa etc.)

Contudo, não deixa de ser constrangedor para Bush, diante de suas ameaças contra o Irã, o fato do governo fantoche iraquiano, que iniciou a recente ofensiva, apelar para a mediação de Teerã no sentido de resolver a crise.

Uma conclusão deve ser tirada: mesmo depois de cinco anos, de quatro mil militares norte-americanos mortos, bilhões e bilhões de dólares injetados, as forças ocupantes e seus 140 mil soldados não são capazes nem de controlar a segunda maior cidade do Iraque.