Trabalhadores de montadora de trens e metrôs iniciam greve por Plano de Cargos e Salários, Vale -alimentação e participação nos lucrosDurante todo o mês de junho e início de julho, os mais de 900 trabalhadores da CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles) iniciaram a formulação de uma pauta de reivindicações para a melhoria das condições de trabalho e de remuneração dos trabalhadores junto ao Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região. Esta pauta foi apresentada à empresa.

As reivindicações são várias, mas as principais são: Plano de Cargos e Salários com uma progressão real e que atinja o teto da categoria em dois anos de serviço e não em quatro (como quer a empresa e ainda com um teto rebaixado), vale alimentação com o valor mensal de R$250,00 (atualmente é de R$98,00) e Participação nos Lucros e Resultados de R$8.000,00.

O início da mobilização
A CAF Brasil é uma montadora de trens e metrôs. Está instalada na cidade de Hortolândia, na região metropolitana de Campinas e tem origem no País Basco (norte da Espanha). Com 15 meses de inauguração da planta, detém um contrato no valor de R$ 3,2 bilhões para construção de trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e com o Metrô de São Paulo. A fábrica é a principal das Américas, exportando trens e metrôs para os três subcontinentes e talvez até para o Oriente Médio.

Mesmo com tudo isso, a CAF paga um dos salários mais baixos dentre as empresas de porte semelhante na categoria metalúrgica da região. E mais ainda: são os salários mais baixos do setor de construção e montagens ferroviária, que ainda inclui as empresas Amsted-Maxion, Bombardier e Gevisa. Isto se dá porque ela disputa as licitações com preços baixíssimos, achatando os salários dos trabalhadores, o que provavelmente se dará na disputa pelo TAV (Trem de Alta Velocidade, o trem-bala que ligará Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro).

A greve
Após três reuniões do sindicato com a empresa, esta disse que, por ser nova na região, só poderia pagar R$1.100,00 de PLR. Assim que informou tal valor para a direção do sindicato na reunião, os trabalhadores ficaram sabendo e isso gerou uma grande irritação e indignação no interior da fábrica no dia 20 de julho.

Na manhã do dia 21 os trabalhadores entraram na fábrica, mas não iniciaram a jornada de trabalho, ao contrário, desligaram as máquinas, guardaram as ferramentas e se reuniram fora do galpão, esperando a presença do sindicato. Os patrões estavam diante de um fato consumado: uma greve espontânea, iniciada no chão da fábrica. Logo após o início da paralisação o sindicato foi contatado pelos trabalhadores e um carro de som apareceu na porta da CAF, quando se realizou a primeira assembleia da greve.

No dia 23 de julho, a empresa apresentou uma proposta de 1.650 reais de PLR, que foi rejeitada por unanimidade pelos trabalhadores. Ainda antes do fim de semana a empresa iniciou uma ofensiva sobre os trabalhadores, enviando taxis para buscar os fura-greve em suas casas; os líderes de setor começaram a ligar para a casa dos trabalhadores pressionando-os com ameaças de retaliação caso não voltasse a trabalhar.

No dia 27 de julho, a empresa fez uma proposta de R$2.500,00 que novamente foi rejeitada pelos trabalhadores por unanimidade, sobretudo pelo informe de que a CAF não está disposta a dar qualquer estabilidade depois da paralisação. Por conta disso houve pela primeira vez, na quarta-feira, um piquete para impedir a entrada dos taxis. Três deles aceleraram para cima dos operários que estavam no portão e, depois disso, nenhum mais entrou: caso o peão quisesse mesmo furar a greve, tinha que descer do carro e entrar a pé. Alguns tiveram essa coragem, mas outros voltaram para casa.

Graças a essa radicalização, a CAF chamou a comissão de negociação para mais uma reunião, da qual no fim das contas saiu a proposta de R$3.200,00 de PLR e estabilidade de 15 dias: rejeitada mais uma vez. Com isso foi definida uma assembleia que ocorreu no sábado, 31 de julho, na sede do sindicato, onde mais de 100 trabalhadores discutiram os rumos da luta e as táticas a serem utilizadas nesta 3ª semana do movimento. Desde então não houve novo contato da empresa com o sindicato.

Solidariedade de Classe
O PSTU leva sua solidariedade e apoio aos trabalhadores da CAF. Em visita à greve apresentamos nossa visão de que é impossível uma multinacional de tal porte, fundada em 1917 e líder do segmento de produção de trens de passageiros no país, não ter dinheiro para pagar PLR e resolver os demais problemas apresentados pelos trabalhadores.

Sabemos que a crise econômica cobra a sua força na Europa, sobretudo na Espanha, mas sabemos também que aqui no Brasil o setor ferroviário praticamente não foi afetado por essa crise. Além disso, toda a produção é realizada por contratos públicos: uma garantia certa de pagamento.

As vitórias obtidas recentemente pelos metalúrgicos da região, com R$8.000,00 de PLR na Mercedes-Benz e R$5.700,00 na Toyota fortalecem esta luta e as próximas que se darão com a campanha salarial que se inicia. Os operários podem contar conosco no que for possível, principalmente neste momento de eleições que sempre utilizamos e utilizaremos para impulsionar as batalhas de nossa classe contra a burguesia.

Apoio aos trabalhadores! Repúdio à empresa!
Solicitamos que os companheiros enviem moções de solidariedade aos trabalhadores e repúdio à direção da CAF Brasil, exigindo que discuta sobre os números da empresa e em base aos contratos que a mesma tem com a CPTM e Metrô-SP, parando com as mentiras diárias sobre a falta de dinheiro. Enviem mensagens de repúdio para [email protected] e mensagens de apoio para [email protected] e [email protected] .

*Silvia Ferraro é professora e candidata a deputada federal e Marcos Margarido é petroleiro e candidato a deputado estadual de Campinas