Os trabalhadores estão sentindo fortemente o peso das dívidas em seu orçamento. De repente, o que parecia ser um passaporte para um nível de consumo maior, está se tornando um pesadelo, com dívidas que ameaçam escapar ao controle. Todos têm um parente ou conhecido cujas dívidas já assumiram uma dimensão assustadora.

Não se trata de um problema individual, como querem nos fazer crer. Como os mercados não são suficientes para absorver o excedente da produção, devido aos baixos salários e a situação de miséria em que vive grande parte da população, a expansão do crédito alarga artificialmente o crescimento. Os trabalhadores brasileiros passam a ser “convencidos” da sua nova condição de “classe média” e incentivados a comprar mais. Para tanto, o Brasil, com sua política de juros altos e, portanto, muito atrativo para os especuladores de todo mundo, passou a oferecer crédito para as pessoas, que foram ficando cada vez mais endividadas.

Este processo de expansão de consumo, baseada não no aumento da renda, mas no endividamento, vem sendo fundamental para garantir o crescimento econômico brasileiro nos últimos anos está sendo usado como estratégia para expansão dos rendimentos das empresas financeiras. O governo brasileiro, inclusive, fomenta a utilização de créditos consignados para estimular o endividamento das famílias.
A participação das dívidas dos trabalhadores no PIB brasileiro saltou de 3%, no governo de FHC, para 15% no governo Lula! A distribuição de cada modalidade de crédito em 2010, segundo o Banco Central, foi a seguinte: crédito pessoal (37%), aquisição de bens (25%), leasing (10%), cartão de crédito (6%), cooperativas (5%) e financiamento imobiliário (1%).

Bolha de crédito?
Este aumento exagerado de crédito ao consumidor, sem estar sustentado no crescimento industrial e no aumento da renda, pode “estourar” e levar a uma onda de inadimplência.

Como este modelo mostra certo esgotamento, o governo foi forçado a programar várias e significativas alterações em seu curso: promover isenção de impostos para a chamada “linha branca” (eletrodomésticos), reduzir os juros, promover uma avalanche de propagandas mostrando a diminuição dos juros dos bancos estatais e, agora, ampliar os prazos para os financiamentos imobiliários com redução dos juros.

O governo continua apostando na expansão do crédito. O volume cresceu 19,5%, em 2011, e chegou a 49% do PIB. Porém, as taxas de inadimplência preocupam. Em maio, atingiu 4,32% no comércio. No geral, registrou-se um crescimento de 17,3% em relação a abril de 2010. E, neste sentido, qualquer oscilação para cima dos níveis de inflação ou de desemprego pode levar a uma situação de desestabilização e aumento da inadimplência.

Os trabalhadores, portanto, compensaram a queda do seu poder aquisitivo com financiamentos que levam ao seu endividamento. Passou-se a fazer uso de empréstimos para a compra de produtos essenciais para a vida, como roupas, alimentos e remédios, em um cenário de juros altos. Entre as capitais brasileiras, Porto Alegre é a que ocupa o primeiro lugar em comprometimento da renda com dívidas.

Endividamento x lucros dos banqueiros
Enquanto os trabalhadores se endividam, os banqueiros embolsam lucros gigantescos. Em todos os anos do governo Lula e Dilma, a taxa de juros no Brasil foi a maior do mundo, e a taxa de lucros dos bancos maior que nos países imperialistas. Mesmo com a redução parcial dos juros, a taxa no Brasil continua uma das maiores. E os lucros dos bancos continuam fantásticos. O Itaú lucrou 3,2 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2012, que só foi menor na história bancária do país que o lucro do próprio Itaú, em 2011.

A redução dos juros foi extremamente limitada. As grandes empresas pagam ao BNDES (um banco estatal) 8,65% de juros ao ano.

Porque os trabalhadores não podem ter empréstimos com juros tão baixos para as modalidades de crédito pessoal (empréstimos pessoais, cheque especial, cartão crédito etc.) e 0% para financiamentos imobiliários? Porque os bancos, ainda hoje, mandam no país, como faziam no governo FHC.

Mas para mudar isso será necessário estatizar os bancos e colocá-los a serviço dos investimentos necessários ao país.

O que fazer com a dívida dos trabalhadores?
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), quase metade dos brasileiros com dívidas vai pagar apenas parte das contas em aberto e apenas 15% irá pagar absolutamente tudo o que deve. Outros 34%, porém, já afirmaram que não têm condições de pagar as contas atrasadas.

É possível que a crise econômica se aproxime cada vez mais do país e os trabalhadores possam ficar em uma situação muito difícil com seu emprego ameaçado. Mesmo que não venha uma crise, vão existir milhões de crises individuais, com as dívidas impagáveis para os trabalhadores. Para evitar isso, nós propomos três medidas:

-Juros anuais de 8,65% para os trabalhadores (a taxa hoje praticada pelo BNDES para as grandes empresas).
-Reestruturação das dívidas dos trabalhadores, com perdão para as impagáveis e limite máximo de 5% de comprometimento da renda mensal;
-Estatização dos bancos, que devem ficar sob controle dos trabalhadores.

*Liderança do movimento sindical e popular no Rio Grande do Sul e do coletivo Construção Socialista (CS), Érico atua no Sindicato dos Servidores da Caixa Estadual do Rio Grande do Sul (Sindicaixa). Em 2011, os militantes da CS romperam com o PSOL e lançaram carta pública, assinada por 37 militantes, a maior parte educadores. Na carta, criticavam as “táticas desastrosas” do PSOL, como a relação com o PV e as doações de empresas.