Operários em greve em São José dos Campos, interior de São Paulo, enfrentam os patrões e a CUTA maior manifestação do dia 28 de maio ocorreu em São José dos Campos (SP). Os trabalhadores terceirizados da Revap, refinaria da Petrobras, realizaram uma grande passeata que reuniu cerca de 5.000 operários.

Cantando a palavra de ordem “ô Lula, eu quero ver, a redução da jornada acontecer”, os trabalhadores contornaram pela manhã as instalações da refinaria na rodovia Dutra. Os cerca de 12 mil terceirizados da refinaria estão em greve desde o último dia 16, exigindo reajuste, redução da jornada e melhoria nas condições de trabalho.

Essa importante manifestação, no entanto, não foi dirigida pela CUT. Apesar de o Sindicato da Construção Civil de São José dos Campos e Região ser filiado a essa central, os tercerizados fazem uma heróica greve que enfrenta a direção dessa entidade governista. Os trabalhadores encontraram, porém, um forte ponto de apoio na Conlutas.

Rebelião de bases
A greve da construção civil em São José avança para sua terceira semana. Forte e radicalizada, tornou-se uma das maiores greves na região nos últimos anos. E só foi possível devido a uma verdadeira rebelião de base que passou por cima da direção do sindicato e da CUT. Durante a campanha salarial, apesar da falta de conversa dos patrões, a direção do sindicato se recusava a organizar a greve.

Indignados, os trabalhadores realizaram uma assembléia por conta própria e, no dia 16, aprovaram greve por tempo indeterminado. Após aprovarem a paralisação, os operários ocuparam a Dutra e atraíram a atenção de toda a imprensa. O presidente do sindicato, por sua vez, foi a um popular programa de rádio chamar os grevistas de “baderneiros”. Tendo que enfrentar os patrões, o sindicato e a CUT, os trabalhadores só encontraram apoio na Conlutas.

“Buscamos a Conlutas pois sabemos que, ao contrário da CUT, ela está do lado dos trabalhadores, ela é de briga”, afirma o encanador industrial Milson Gomes, o “Barba”. Um grupo de trabalhadores foi então à sede da Conlutas e lá encontraram Adilson dos Santos, o Índio, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Ele marcou uma reunião com o grupo e de lá para cá a Conlutas apóia diariamente a greve.

Desgaste da CUT
A greve foi a gota-d’água para a ruptura dos operários com o sindicato. A entidade desconta mensalmente 1% do salário de todos os 13 mil trabalhadores da categoria. Isso garante para a entidade fantasma R$ 145 mil por mês. Mas ela não representa ninguém, a não ser os próprios diretores.

A direção do sindicato organizou as últimas eleições em plena campanha salarial. “O sindicato nunca fez nada. Publicaram o edital de eleição só no sindicato, ninguém ficou sabendo de nada”, afirma Antonio Zeferino, o “Macumba”, um dos principais dirigentes da oposição. Apenas 272 pessoas votaram nas eleições fraudulentas. Por fim, com a recusa do sindicato em declarar greve, os trabalhadores viram que não poderiam contar com a entidade.

A indignação era tão grande que, durante uma assembléia, os trabalhadores arrancaram a camiseta da CUT que uma pessoa vestia e a rasgaram. Os trabalhadores aprovaram então uma comissão para negociar com os patrões, formada por representantes dos trabalhadores em greve, e de entidades como a Conlutas, o Sindicato dos Metalúrgicos, o dos Petroleiros, entre outras. “O sindicato que nos representa legalmente está vendido”, denuncia Milson.

A greve vem agitando a cidade. Outras categorias, estudantes e até donas-de-casa discutem o movimento dos terceirizados da Petrobras. “Aqui em São José temos claramente a seguinte situação: a CUT de um lado e a Conlutas de outro”, explica José Donizete de Almeida, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos.
Post author Diego Cruz, enviado especial a São José dos Campos (SP)
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