O Governador do Estado de São Paulo João Doria, durante coletiva de imprensa sobre coronavírus e balanço do Plano SP. Dia: 03/06/2020 Foto: Governo do Estado de São Paulo
PSTU-SP

Fabio Bosco, São Paulo

Na sexta-feira do dia 3 de julho, o governador João Dória e o prefeito Bruno Covas (ambos do PSDB) anunciaram a antecipação da reabertura parcial de academias, teatros e cinemas na capital a partir de 27 de julho.

Na segunda-feira de 6 de julho, bares e restaurantes voltaram ao funcionamento limitado às 6 horas por dia com encerramento obrigatório às 17h, conforme fora anunciado em 26 de junho. Salões de beleza e barbearias também voltaram a funcionar.

A medida foi considerada como precipitada e até mesmo genocida pela maioria dos especialistas em saúde pública.

Para o reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e coordenador do estado que investiga a prevalência do coronavírus em cidades brasileiras, Pedro Curi Hallal, “o que está sendo feito no Estado é uma atitude apressada”.[i]

Já o professor Domingos Alves, do campus de Ribeirão Preto da Faculdade de Medicina da USP afirmou que a preocupação com a saúde público na Estado “foi para o espaço”. Afirmou ainda que “são medidas midiáticas, eleitoreiras e que buscam retomar a economia. Mas as pessoas doentes e mortas não vão fazer compras, nem vão aos bares”.

A população foi liberada para ir ao abatedouro. A palavra é dura, mas será um genocídio. Nenhum governo estadual teve coragem de falar em fila única de saúde, e esses pacientes, em sua maioria pobres, não terão assistência. Vão morrer em casa. É fácil botar a culpa na população, mas a responsabilidade de estabelecer regras e de dar segurança é dos governantes” completou o professor.[ii]

Um transmissor a cada vinte paulistanos

A prefeitura de São Paulo realizou um inquérito sorológico através de 5.416 exames em 96 distritos com moradores do município acima dos 18 anos escolhidos por sorteio no final de junho.[iii]

O resultado apontou que a cidade de São Paulo tem 1,16 milhão de infectados pelo coronavírus, quase 10% da população.

Este número é cerca de dez vezes maior que o número de casos oficialmente confirmados.

O levantamento apontou ainda que a taxa de letalidade é de 0,5% dos infectados. Ou seja, a cada mil infectados, cinco pessoas morrem.

A única conclusão que o secretário municipal de saúde não apontou é que, com 10% da população infectada e a taxa de transmissão ao redor de 1 para 1 (uma pessoa contaminada transmite para mais 1 pessoa), hoje temos no município meio milhão de transmissores ativos que equivale a 5% da população, ou seja, um a cada vinte habitantes.

Ao “liberar geral”, Covas e Dória não alertaram a população da cidade que num ônibus com 40 passageiros, há 2 pessoas contaminadas em média. Em um vagão do metrô, com capacidade máxima de 500 passageiros, mesmo que circulando apenas cem pessoas terá 5 pessoas contaminadas em média. Não é por acaso que especialistas usam adjetivos como “genocídio” para o liberou geral em São Paulo.

O número real de óbitos é 33% maior

Na quinta-feira, dia 2 de julho, o epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo, Paulo Lotufo divulgou um levantamento sobre o aumento de mortes naturais no município de São Paulo.[iv]

A cidade de São Paulo contabilizou 20.852 mortes naturais (sem causas externas) entre março e junho deste ano. Já a média de mortes naturais entre os anos de 2019 e 2018 no mesmo período foi de 14.915. Ou seja, são 5.938 mortes a mais durante a pandemia do novo coronavírus, responsável direta ou indiretamente por essas mortes.

Do total de “excesso de mortes”, 76% foram oficialmente atribuídas à Covid-19 e os outros 24% seriam por outras causas. Ou seja, o número real de mortes relacionadas com a Covid-19 é cerca de 33% maior que os números oficiais apontam.

Quando temos uma pandemia, temos uma parte da mortalidade que é devido à própria infecção, mas nós temos outra parte que é devido tanto à alteração de pessoas com doenças crônicas, neste caso as doenças cardíacas, como aquelas que não conseguem ter o atendimento porque o sistema está congestionado. Em praticamente todos os lugares do mundo houve excesso de mortes em relação aos anos anteriores”, afirmou Lotufo durante coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes.

Pobreza é o principal fator de risco

Ao contrário da Europa onde o principal fator de risco da pandemia era a idade avançada e comorbidades, a pobreza é o principal fator de risco no Brasil.[v]

Os dados do município de São Paulo confirmam essa realidade.

No sábado, dia 4 de julho, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou os dados de óbitos por Covid-19 em cada um dos 96 subdistritos da cidade.[vi]

Os distritos com o maior número de óbitos são Sapopemba, Brasilândia, Grajaú, Jardim Ângela, Capão Redondo, Sacomã, Cidade Ademar, Jardim São Luís, Tremembé, Jabaquara e Cidade Tiradentes.

Todos esses distritos têm em comum uma população submetida a condições de vida que facilitam a contaminação e a morte por coronavírus. Moradias superlotadas e muitas vezes sem acesso regular à água potável, presença majoritária nas atividades essenciais, impossibilidade de ficar em casa devido à ausência de meios econômicos, falta de acesso à saúde pública de qualidade são algumas das condições às quais estão submetidas grande parte da classe trabalhadora em São Paulo.

Quarentena para valer, Fora Bolsonaro e Mourão, e a luta pelo socialismo

A classe trabalhadora tem seu direito à vida negado pelo prefeito Covas e governador Dória que se uniram ao presidente Bolsonaro no esforço de salvação das grandes empresas capitalistas em detrimento das vidas dos trabalhadores e trabalhadoras.

A quarentena para valer, com meios econômicos para as famílias da classe trabalhadora ficarem em casa, realocação para moradias adequadas, provimento de água potável 24h por dia, ajuda aos pequenos comerciantes são condições necessárias para a defesa da vida mas que nunca foram garantidas pelos governos nem pelos capitalistas.

Estas condições terão que ser arrancadas pela classe trabalhadora em sua luta por emancipação, em enfrentamento contra Bolsonaro, Dória, Covas e as instituições do Estado capitalista.

Nesse sentido a jornada de lutas convocada para os dias 10, 11 e 12 de julho se faz mais que nunca necessária como um primeiro momento de uma luta maior pelo poder dos trabalhadores e trabalhadoras e pelo socialismo.

Quarta (dia 8)| PSTU-SP promove debate “O liberou geral de Doria e Covas e o Fora Bolsonaro”
Com a participação da pré-candidata à prefeitura, Vera, e do coordenador do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres. A mediação é da professora Flávia.

📲 Vai ser às 19h com transmissão pelo Facebook e Instagram do PSTU-SP

[i] https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,especialistas-criticam-reabertura-de-espacos-em-sp-para-cidades-na-fase-amarela,70003353443

[ii] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/03/portal-covid-19-brasil-distanciamento-social.htm

[iii] https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/23/cidade-de-sp-pode-ter-12-milhao-de-infectados-pelo-coronavirus-aponta-mapeamento-da-prefeitura.ghtml

[iv] https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/03/mortes-naturais-na-cidade-de-sao-paulo-durante-pandemia-estao-40percent-acima-de-anos-anteriores.ghtml

[v] https://www.pstu.org.br/por-que-nao-existe-isolamento-social-nas-periferias/

[vi] https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/07/cai-o-ritmo-de-aumento-de-mortes-por-covid-19-na-capital-paulista.shtml