Os ventos da tempestade europeia e a desaceleração chinesa rebaixam expectativas de crescimento da economiaApós a riqueza nacional (PIB) crescer apenas 2,7%, em 2011, a economia encolheu em março, pelo terceiro mês consecutivo, segundo publicado pelo jornal Valor Econômico, no dia 18 de maio. Os dados divulgados nesse dia pelo Banco Central (BC) sobre a atividade econômica, mantêm em tendência de queda as projeções do governo para o crescimento da renda nacional em 2012. O BC apontou uma expansão de 0,15% no primeiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores. Ou seja, o crescimento foi praticamente zero. Diante desse quadro, o governo Dilma acendeu o “sinal amarelo”. O temor não é sem razão: tempos turbulentos se anunciam.

Perspectivas não são animadoras
Outros dados também mostram que a economia brasileira apresenta uma tendência clara de desaceleração. A previsão do mercado aponta para um crescimento pequeno do PIB em 2012: entre 2% e 3% segundo divulgado jornal Folha de S. Paulo no dia 18, ficando abaixo das expectativas iniciais do governo. Se essa hipótese se tornar realidade, o governo deve se igualar à média de crescimento dos anos de FHC (2,9%) e ficar muito abaixo da média dos oito anos de Lula (4,1%).

Em consequência, as repercussões no mundo do trabalho serão inevitáveis: enquanto a geração de empregos e a renda média do trabalhador tendem a diminuir, o endividamento e a pressão por rebaixamentos salariais devem aumentar.

Mas há outro cenário possível. Se a crise da Europa evoluir para um novo mergulho recessivo em escala global, os efeitos negativos sobre Brasil se ampliarão. A definição das multinacionais de seguirem ou não com os investimentos no Brasil é chave para determinar os ritmos da economia no próximo período.

Produção industrial em queda
A crise global afeta o Brasil por diversos caminhos. Desde o fim de abril, nenhuma empresa se arriscou a acessar os mercados estrangeiros. No dia 20 de maio o jornal O Estado de S. Paulo mostrava que o crédito internacional secou. O aumento da aversão ao risco, que, ao lado de medidas adotadas pelo governo, levou o dólar a superar a barreira dos R$ 2, acentuou a saída de investidores. Em maio, a Bovespa já caiu 12,6%, o maior recuo desde outubro de 2008, auge da crise internacional.

Mas não para por aí. A desaceleração da economia chinesa, que teve a expectativa de crescimento revisada para 7,5%, em 2012, conduz a uma tendência de baixa dos preços das commodities (metais, soja, café, insumos, etc). Por exemplo, o preço do minério de ferro, que é responsável por 18% das exportações brasileiras, caiu cerca de 20% nesse ano.

Nesse cenário delicado, a indústria é a que mais sofre. Os números não deixam margem às ilusões: a produção industrial está em queda. No indicador do IBGE para o primeiro trimestre de 2012, a redução da produção atingiu oito dos 14 estados pesquisados. A média nacional dos locais atingidos ficou em -3%.

O recuou da produção industrial foi influenciado, sobretudo, pela redução na fabricação de bens de consumo duráveis (automóveis, por exemplo) e bens de capital (especialmente caminhões), além da menor produção em setores como extração mineral, têxtil, vestuário e metalurgia básica.

As pequenas reduções nas taxas de juros, estimuladas pelo governo, não surtiram o efeito esperado até agora. Em diversos setores industriais estão ocorrendo demissões. No setor automobilístico, por exemplo, férias coletivas e demissões massivas estão sendo cogitadas pelas montadoras, segundo revelado pelo Estado de Minas no dia 16 de maio.

Inadimplência aumenta e geração de emprego perde fôlego
Do ponto de vista das famílias trabalhadoras, as coisas também começaram a piorar. A inadimplência dos consumidores acelerou 4,8% em abril deste ano, na comparação com março. De acordo com o Indicador Serasa, divulgado no último dia 16, no primeiro quadrimestre de 2012, o índice apresentou variação de 19,6%.

Além do endividamento galopante das famílias, a geração de empregos perde intensidade. A criação de empregos formais no Brasil caiu nos primeiros quatro meses de 2012. Segundo o Ministério do Trabalho, foram criadas 702.059 formais de janeiro a abril – uma queda de 20,2% frente ao mesmo período do ano passado.

Governo sai em defesa dos patrões
O governo federal tem consciência da profundidade da crise internacional e sabe também de seus impactos por aqui. Seguindo os reclames da patronal, Dilma escolheu um lado para defender. Desde o início do ano, o governo vem anunciando uma série de medidas para proteger as grandes empresas e bancos. Os trabalhadores, mais uma vez, vão sair perdendo.

Em abril, lançou o programa “Brasil Maior”, que contém isenções fiscais, redução de impostos e outras medidas em favor dos empresários. O plano do governo prevê, por exemplo, uma redução de 20% da contribuição patronal para o INSS, gerando assim um rombo na Previdência Pública.

A desoneração da folha de pagamentos e outras isenções fiscais, em 2012, vão gerar perda de R$ 34,7 bilhões em arrecadação, segundo a Receita Federal. Dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação e moradia popular vai parar nos bolsos dos magnatas do Capital.

Neste contexto de turbulência, as incertezas econômicas contaminam a política. Agora, o governo Dilma se apressa em apresentar novas medidas em defesa dos empresários. Do outro lado, os trabalhadores, pressionados pelos baixos salários, saem em greves em diversas categorias país afora. As relações entre as classes vão adquirindo os contornos do novo momento econômico. Uma pergunta que fica é inevitável: para onde vai a economia do país?

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