As declarações do governador do Rio, Sérgio Cabral, sobre a necessidade de legalizar o aborto para que as mulheres que vivem nas favelas não produzam mais marginais é um ataque direto e frontal à classe trabalhadora e ao povo brasileiro de conjunto. E merece nosso mais veemente repúdio, sobretudo por ser ataque violento às milhares de mulheres trabalhadoras e pobres que morrem por abortos mal-feitos ou ficam com seqüelas graves porque não têm dinheiro para recorrer a um hospital, como as mulheres ricas.

A legalização do aborto é uma reivindicação histórica das mulheres, para que milhares delas não continuem morrendo quando desejam interromper a gravidez. Cabral foi muito esperto, porque usou um discurso coerente, de que o aborto é um direito de toda mulher que deseja interromper a gravidez. Isso só lança mais confusão entre os trabalhadores. Mas não nos enganemos: ele o que faz é igualar o aborto a um crime, como faz a igreja irresponsavelmente.

Usar essa bandeira como discurso para pregar o extermínio de futuros e possíveis marginais, como fez Cabral, é no mínimo um desrespeito com as mulheres e demonstra a forma como os governantes e a burguesia encaram as nossas reivindicações. Cabral iguala o aborto a um assassinato e a uma medida preventiva, sanitária. Isso, dito por um governador, é no mínimo temeroso, porque indica que as políticas que o governo vai continuar aplicando daqui em diante continuarão levando a esse destino trágico para todo filho de uma mulher trabalhadora e pobre, que vive numa favela: ser um marginal.

É uma forma de o governo tirar de si a responsabilidade pela grave situação que vivemos. É uma forma de jogar a culpa nas mulheres pobres e trabalhadoras, que vivem precariamente nas favelas, vendo seus filhos ao relento, sem escola, sem saúde, sem comida e expostos a todo tipo de violência.

Enquanto isso, o governo Lula paga em dia a dívida externa, tira dinheiro dos serviços públicos, da educação, da saúde, dos programas de moradia, e manda para os banqueiros milionários. O governo mostra mais uma vez de que lado está e a serviço de quem está. A classe trabalhadora tem de repudiar essa postura e lutar pela legalização do aborto, para salvar a vida de milhares de mulheres, ao mesmo tempo em que deve exigir do governo que deixe de pagar a dívida externa e invista em serviços públicos.

Usar a bandeira do aborto como forma de acabar com a marginalidade é no mínimo absurdo. Só faltou Cabral dizer que toda mulher pobre tem de ser castrada para que não nasça mais nenhum bandido. E nós dizemos: os principais bandidos aqui são os Cabrais, os Lulas, os que estão no governo e roubam tudo o que podem, que jogam toda a riqueza nas mãos dos banqueiros, que privatizam todas as nossas riquezas, que colocam nossa economia a favor do imperialismo e deixam o povo e a classe trabalhadora à míngua. Esses são os verdadeiros bandidos que estão nos afundando numa barbárie cada vez mais terrível.