No fim de semana entre os dias 18 e 19 de fevereiro, trabalhadores rurais sem-terras ocuparam 13 fazendas no Pontal do Paranapanema e Alta Paulista, região oeste do estado de São Paulo. As ocupações foram lideradas por José Rainha Jr. e por uma ala do MST e contaram com a participação de sindicatos de base de agricultores, ligados à CUT.

Os sem-terra denunciam a farsa da reforma agrária no governo Lula e exigem a demissão do atual ministro do Desenvolvimento Agrária, Guilherme Cassel. O ministro substituiu Miguel Rosseto na pasta, ambos fazem parte da Democracia Socialista, corrente antigamente identificada com a esquerda petista.

Apesar dos sem-terra reivindicarem audiência com o governador José Serra (PSDB), o secretário de Justiça do Estado, Antonio Guimarães Marrey, afirmou que o governo tucano não negociará com os trabalhadores enquanto durarem as ocupações.

Governo Lula mente
A explosiva situação no campo é provocada pela ausência de uma real política de reforma agrária. O governo Lula não faz a reforma e ainda maquia números e estatísticas, mentindo sobre o desempenho do Incra e do ministério de Desenvolvimento Agrário. O governo divulgou que o primeiro mandato de Lula teria assentado 381 mil trabalhadores sem terra, 95% da meta do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA).

No entanto, o governo contabilizou nesse número os assentamentos do governo de São Paulo e os realizados em governo anteriores, até mesmo pela ditadura militar. Do total de assentamentos que o governo Lula afirmou ter realizado, pelo menos 48% teriam sido fruto de governos anteriores.

Além disso, o governo na prática alterou o PNRA, que previa a desapropriação de terras como meio prioritário para a reforma Agrária. Na prática, o governo rejeita tal método, utilizando apenas terras do Estado para concretizar os parcos assentamentos. Desta forma, mantém-se a brutal concentração de terras no país e o problema dos sem-terra persiste.

Contradições
A recente onda de ocupações, como sempre, provocou demonstrações de indignação na grande imprensa, sempre solidária aos fazendeiros e latifundiários. No entanto, desta vez o clima de sensacionalismo veio acompanhado por um “perigo” a mais. Isso porque as ocupações foram noticiadas como uma série de ações conjuntas entre MST e a CUT no campo.

Infelizmente, tal parceira na luta pela reforma agrária não é um fato. A coordenadora da CUT na região de Presidente Prudente, Sonia Auxiliadora, afirmou ao jornal Estado de S. Paulo que a central “não se responsabiliza pelas ocupações”. O presidente estadual da CUT, Edílson de Paula, seguiu a mesma política e não quis se comprometer com as ações dos trabalhadores rurais.

A própria direção do MST não reconhece as ocupações, que teriam sido impulsionadas por grupos locais do movimento sob a liderança de Rainha. Tal contradição não é difícil de se explicar. Se por um lado a CUT está totalmente comprometida com o governo Lula e sua política, por outro a direção do MST também está atrelada ao governo, através de cargos no Incra e repasses de verbas oficiais. Porém, tais ações mostram a disposição de luta das bases, tanto do MST quanto da CUT, apesar de suas direções, por reforma agrária.

Todo apoio às ocupações
O PSTU garante apoio incondicional às ocupações de terras e à luta dos trabalhadores sem-terra no campo. A reforma Agrária só será realizada através da ação direta dos trabalhadores, inclusive com ocupações de terras de latifúndios, produtivos ou não.