No período de seca, as desigualdades sociais se afloram ainda mais no sertão nordestino. Isso revela que o projeto de transposição do Rio São Francisco atende àqueles que mantêm a estrutura oligárquica reinante na região.

Em Sergipe, os municípios da região do semiárido estão numa situação critica. A estiagem já dura nove meses. A seca tem levado fome a pessoas e animais. No município de Porto da Folha, calcula-se a morte de mais de mil cabeças de gado. A maioria das famílias, em torno de três mil, vivem da renda leiteira.

Mas a falta da água não atinge somente o alto sertão. Em Aracaju, capital sergipana, o racionamento de água foi imposto pela Prefeitura. A população sofre com o rodízio de água: num calor de 40 graus, a água só chega a cada 48 horas.

De quem é a culpa?
Prefeituras, governo estadual e federal, numa só voz, acusam São Pedro pela situação. A falta da chuva é a grande culpada pela seca no sertão e pelo rodízio de água na capital sergipana. Mas essa é uma desculpa que não pode ser usada eternamente.

No sertão nordestino, encontramos os argumentos que desmentem a desculpa utilizada pelos governantes. Existem comunidades a cinco quilômetros da margem do rio São Francisco que não têm água para o consumo humano. Em contrapartida, grandes latifúndios possuem modernas irrigações para o cultivo de manga e uva. Uma cerca separa aqueles que não têm água para beber e para garantir sua sobrevivência daqueles que possuem água abundante para garantir o lucro e manter a estrutura oligárquica predominante na região há anos.

Em Sergipe, a política do governo estadual do PT é enviar 1,3 mil carradas de água mensais para os 70 povoados em situação critica. Isso garante somente 20 litros por dias por pessoa. A água é somente para o consumo humano. Porém a maioria das famílias vive do plantio agrícola e da criação de animais. Se seus animais morrem não tem como garantir o alimento da família. Essa é situação imposta ao sertanejo: matar sua sede ou matar a sede de seus animais para garantir sua alimentação.

Transposição do Rio São Francisco: solução ou problema?
A seca também desmascara o projeto de transposição do São Francisco. A falta de água e a fome estão presentes nas cidades sertanejas dos estados banhados pelo rio. O São Francisco, hoje, não é utilizado para garantir a vida da população, mas para garantir o sustento do grande latifúndio.

Outros projetos menores já implementados na região foram com esse objetivo. Nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), grandes latifúndios de cultivo de manga e uva possuem uma irrigação de alta tecnologia usufruindo das águas do Velho Chico. Enquanto isso, os povoados próximos a esses latifúndios passam sede e fome.

O governo Lula afirma que a transposição vai levar água aos que têm sede. Utiliza-se da pobreza, da fome e da seca dos nordestinos da mesma forma que as velhas oligarquias e a direita se utilizaram em períodos anteriores. O projeto de transposição levará água para matar a sede daqueles que tem sede de lucro, os latifundiários e os grandes criadores de camarões. Somente 4% da água serão destinados ao consumo humano.

A população ribeirinha já sofre as consequências desse projeto. A região do baixo São Francisco tem assistido à morte do rio. O rodízio de água em Aracaju está relacionado a essa situação. A maioria das casas da capital sergipana é abastecida pelas águas do Velho Chico. O restante, pelas águas do Rio Poxim, que também está seco e quase morto pela poluição das indústrias da grande Aracaju.

Investimento público para garantir a vida do sertanejo
É preciso mudar a política imposta na região pelo governo federal e seus parceiros. O governo Lula deveria ser rápido para garantir a vida do nordestino da mesma maneira como é rápido em destinar milhões para salvar os banqueiros.

A prioridade do governo Lula tem de ser invertida. O projeto de transposição do Velho Chico deve ser cancelado ou a morte do rio e do sertanejo será certa. Existem meios técnicos e científicos que podem garantir melhores formas de subsistência ao sertanejo. Seria possível acabar com a fome e a seca. Porém não é esta a intenção daqueles que tiram proveito da situação vigente.

A seca e a fome do nordestino favorecem a velha oligarquia e os governantes que fazem dessa situação um curral eleitoral, implantando políticas paliativas como o Bolsa Família. O mais interessante é o que o PT, onde governa, está aliado a esse setor oligárquico. Quem governa junto com a velha oligarquia, com certeza, não acabará com a fome e a seca de nosso povo.