Manifestação no dia 17
Foto de Agência Brasil

Quem estava no Rio de Janeiro, no dia 17 de junho, presenciou um dia histórico: a Avenida Rio Branco, totalmente tomada, da Candelária até a Cinelândia, por bem mais de 100 mil manifestantes. Não se via no Brasil uma manifestação com essa dimensão há 21 anos, ou seja, desde as grandes manifestações do Fora Collor.  
 
Foram 100 mil só no Rio de Janeiro (RJ) que se somaram às centenas de milhares de milhares de pessoas que ocuparam as ruas em todo o Brasil apenas poucos dias depois da brutal repressão policial, ocorrida dia 13/6,  nas manifestações contra o aumento das passagens que sacudiram várias cidades do país e deixaram um saldo de centenas de feridos e presos: só em São Paulo foram mais de 200 presos e dezenas de vítimas entre elas 7 jornalistas (dos quais um ameaçado de perder a visão).
 
Desta vez havia muito mais estudantes, muitos organizados pela Anel e vindos da UFRJ, da Uerj, da Unirio, da UFF, do Cefet e de escolas estaduais. Estavam ainda presentes, convocados por alguns sindicatos e pela CSP_Conlutas, os petroleiros, os servidores públicos federais e estaduais, bancários, comerciários, operários metalúrgicos do Rio, Baixada e Niterói. Além de integrantes dos movimentos de luta contra as opressões, como o LGBT, o Movimento Mulheres em Luta (MML) e o Quilombo Raça e Classe. 
 
A repressão desferida pelos governos estaduais e municipais, no caso Sérgio Cabral e Eduardo Paes no Rio, e que contou com apoio entusiástico do governo Federal, do PT, da burguesia e seus meios de comunicação, desta vez não pode se impor e os trabalhadores e a juventude puderam desfilar sua disposição de luta por toda a avenida.
 
Não é por 20 centavos, é por nossos direitos
Mas por que o Brasil foi às ruas neste histórico dia 17 de junho de 2013? Começou com a luta contra o aumento das passagens e por melhorias nos transportes públicos, mas desde a brutal repressão do dia13/6, as manifestações expressam um profundo descontentamento que vai desde os primeiros sinais da desaceleração da economia e aumento da inflação, dos baixos salários e do crescente endividamento das pessoas até a revolta contra o sucateamento dos serviços públicos e roubalheira bilionária das obras para a Copa do Mundo. 
 
E, em todos estes assuntos, a culpa é do governo Dilma, do PT, que respondem aplicando ainda mais o velho receituário tucano do neoliberalismo,  associado às políticas sociais compensatórias, pautado no superávit primário, juros altos e câmbio flutuante, aplicando mais cortes no orçamento da saúde e educação e diminuindio ainda mais o poder de compra dos salários.
 
Uma das expressões desse processo foi a primeira queda da popularidade da Dilma de 8 % e as vaias contra a presidenta durante a abertura da Copa das Confederações em Brasília tirando da sua zona de conforto nos índices de popularidade.
 
Chega de repressão! Dilma, assim não dá! O povo vai continuar na rua!
Há uma visível ofensiva da burguesia e dos governos contra o direito à manifestação e protestos. O governo Dilma e os governos estaduais reprimem greves de trabalhadores (como a dos operários de Belo Monte), manifestações indígenas (Terenas, no Mato Grosso do Sul) e, agora, qualquer tipo de manifestação contra os gastos da Copa e contra o aumento do transporte.  Como foi feito na África do Sul, sede da Copa anterior, o governo Dilma tenta impor um retrocesso aos direitos fundamentais da população. 
 
Ainda diversos manifestantes seguem presos arbitrariamente sob falsas acusações por parte da polícia e do estado. É necessário que mais entidades sindicais e populares e advogados dos movimentos sociais se coloquem a disposição do esforço pela libertação imediata desses verdadeiros presos políticos e o acompanhamento dos processos judiciais.
O povo vai seguir na rua. Dia 20/6, quinta-feira, estaremos de volta às ruas e agora a concentração será no Largo do Machado, às 17 horas. O PSTU estará presente exigindo:
– Revogação dos aumentos das passagens!
– Abaixo a repressão! Em defesa do direito de mobilização! Punição para os mandantes da repressão!
– Unificar as lutas em um dia nacional contra o aumento dos transportes e a repressão!
– Pelo transporte público e gratuito! Estatização dos transportes!
– Pela desmilitarização da PM! Fim da tropa de choque!
– Dilma, congele os preços dos alimentos e tarifas!
– Dilma, revogue as privatizações dos estádios como o Maracanã!
– Pela suspensão dos leilões do petróleo! Petrobrás 100% estatal!
– 10% PIB para educação!
– 2% do PIB para o transporte!
 
Lutemos juntos contra os governos
Tem sido comum ouvir os gritos de “sem partido” ou “abaixem as bandeiras” nas manifestações. Entendemos esse rechaço aos partidos dominantes pela prática corrupta e de defesa da burguesia dos partidos majoritários e nos somamos a ele.
 
Em particular, entendemos esse repúdio como uma expressão do desencanto com o PT, partido que se anunciava “contra tudo o que está aí” e que, quando está no governo, é o maior defensor do “que está aí”: a mesma corrupção, a mesma prática política.
 
Mas, infelizmente, nesta passeata ocorreu algo muito grave. Grupos anarquistas e neofascistas tentaram arrancar nossas bandeiras das mãos de nossos militantes, e vimos isto ocorrer em outras cidades. 
Nem a ditadura conseguiu fazer com que baixássemos nossas bandeiras e não vai ser qualquer grupo anarquista ou neofascista que irá fazê-lo. Todos têm direito de levantar suas bandeiras e faixas ou de não fazê-lo.
 
Entendemos o sentimento anti-partido da população, mas não vai se impor nenhuma visão autoritária baseada no atraso, pois rejeitaremos duramente qualquer tentativa de imposição autoritária e violenta sobre o que defendemos ou deixamos de defender, e isso inclui nossas bandeiras. 
 
Lutemos juntos contra os governos. Esse tipo de postura só divide e enfraquece o movimento. Enquanto a polícia nos atira bombas, é um enorme equívoco dividir a luta.