Foto: Reprodução TV Globo

Lucas Antônio, do Rio de Janeiro (RJ)

25 mortos. Até então não foram divulgados nomes com exceção do policial civil morto. A maior chacina da historia do Rio de Janeiro. Os policiais em coletiva de imprensa juram que as demais vítimas eram todos bandidos e traficantes. Uma pergunta aos policiais: os dois baleados que foram feridos no metrô também seriam bandidos? É evidente que não, tanto que os próprios delegados lamentaram.

Ou seja, como a polícia pode ter certeza de que todas as vítimas fatais tinham ligações com a criminalidade? E, mais ainda, havendo ligações como as provam? Esse julgamento cabe aos policiais? Quais crimes foram cometidos e quais deles dão liberdade aos policiais para assassinarem estas pessoas? Neste caso, não há crimes no geral, crimes só podem ser individualizados e específicos. Na coletiva da Polícia Civil nada disso ficou claro.

O que foi esclarecido é que na cabeça dos policias a situação atual está deste jeito por conta de um suposto “ativismo judicial” que “protege bandidos”. Claro, a culpa da criminalidade é dos Defensores Públicos ou do Sistema Judicial, sem sistema jurídico e sem mecanismos de defesa seria mais fácil acabar com o crime.

Então o que propõe estes delegados? O que está subentendido nesta fala da Polícia Civil do Rio de Janeiro? Acabar com a defensoria e liberar o assassinato em massa de supostos criminosos onde os próprios policiais em operação decidam quem pode viver ou morrer? Isso não apenas é legitimar o genocídio, como não resolveria nada. Só substituiria os criminosos.

Veja, os maiores crimes que se pode cometer é tirar a vida de alguém, e em nome de defender a sociedade contra criminosos que tiram a vida de alguém liberemos Agentes do Estado a tirar a vida de quem achar que merece. Chegamos ao cúmulo do delegado de polícia dizer que a ação se justificou porque o tráfico está aliciando menores, o que é um crime abominável evidentemente. A pergunta que me faço é: há algum menor entre as vítimas fatais? Poderia ter havido? Mesmo que não haja, poderia ter havido por como se deu a operação. Ou seja, em nome de defender os menores do aliciamento dos traficantes pode os policiais matarem os menores? Quanta lógica.

Na real, o que está provado pela brutalidade da ação, pela sua natureza e justificação, é a conotação elitista e racista. Tal ação seria impensável, por exemplo, na Barra da Tijuca. Ou em um bairro nobre. E sim há muitos bandidos nesses lugares.

Leia também

Chacina em Jacarezinho: mais uma operação criminosa em favelas do Rio de Janeiro

Resultado final da operação

Chegamos ao ato final desta tragédia com os policias mostrando, de forma efusiva, o resultado da operação na coletiva de imprensa. Foram apreendidos 16 pistolas, 6 fuzis, 12 granadas, 1 submetralhadora e 1 escopeta e mais quilos de drogas. Além de seis presos.

A direita desse país como a família Bolsonaro são defensores desta violência racista e elitista da polícia.  Gostam de falar que quem critica a ação da polícia não sabe como é na pratica a luta contra a violência, narcotráfico etc. Então vamos aos resultados práticos reais da operação.

Na sociedade capitalista em que vivemos, quando uma mercadoria fica mais escassa, o que acontece? O preço aumenta. É assim quando há problemas na colheita do tomate, na produção de carro ou no narcotráfico. Ou seja, a consequência desta apreensão de drogas ao invés de dar um baque no negócio do tráfico apenas altera seu preço.

Outro resultado é sobre as armas. Aprenderam de fatos dezenas de armas que saíram de circulação. O que poderia ser encarado como a queima de um “capital” investido pela empresa “tráfico de drogas” para garantir a segurança de seus negócios de venda de entorpecentes. Este custo será repassado para o preço dos produtos negociados. E com o capital gigante que move este negócio isto é facilmente recuperado.

Quanto aos recursos humanos do tráfico, se quem morreu foram de fato traficantes (o que é óbvio carece de provas e duvido muito que sejam todos traficantes), longe de significar necessariamente uma queda da força humana do tráfico, apenas acelera a sua renovação, que encontra solo fértil na brutal desigualdade, desemprego, e desamparo que vive as periferias do Brasil, que tornam os jovens pobres reféns do aliciamento.

Por isso faça o que a polícia fizer, o tráfico segue aí a todo vapor. A violência ora aumenta, ora diminui, mas sempre está presente. E independentemente do que acreditam os policiais, a atual política de segurança não está protegendo a sociedade, os policiais não estão acabando com a criminalidade, há décadas e décadas de experiência prática que mostram justamente isso. Na melhor das hipóteses, estão na superfície do problema.  Sim delegados da Polícia Civil, governo do RJ e presidente, são as bases sociais desse sistema capitalista doente, o começo da resposta!