Israel comemora 10 de maio como a data de sua “independência”. É o aniversário do dia em que as Nações Unidas, em 1948, decidiram dividir a Palestina em dois Estados, outorgando 54% do território para Israel. Naquele momento, mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas terras, em uma ofensiva assassina, na qual milhares foram massacrados pelos sionistas.

Os palestinos recordam esses eventos como a “Nakba”, o desastre. Todos os anos são realizados atos convocados por organizações palestinas dentro e fora de Israel.
Neste ano, porém, houve mobilizações ainda maiores. Milhares de palestinos marcharam sobre a fronteira de Israel nas colinas do Golã, na Síria, Líbano, Gaza e Cisjordânia. A resposta das tropas israelenses foi brutal, assassinando 21 palestinos e ferindo quase 200, segundo a imprensa internacional.

As mobilizações de março
O salto das ações na comemoração da Nakba ocorre após as mobilizações massivas realizadas em março na Cisjordânia e em Gaza. Os protestos exigiam que a Autoridade Palestina (que governa a Cisjordânia por meio de Mahmud Abbas) e os dirigentes da corrente islâmica Hamas (que governa Gaza) terminassem com seus confrontos e se unissem para enfrentar Israel.

Essas mobilizações deram resultado quase imediato: obrigaram as direções da Fatah e do Hamas a chegar a um acordo, o que veio acompanhado da decisão do novo governo egípcio de abrir sua fronteira com Gaza (fechada pela ditadura Mubarak em 2006, colaborando com o bloqueio israelense). Esses sucessos alimentaram o avanço da mobilização palestina.

A “reconciliação” de Hamas e Fatah
Sob a supervisão do governo transitório egípcio, no dia 4 de maio o chefe da Fatah, Mahmoud Abbas, e o líder do Hamas, Khaled Meshal, assinaram no Cairo um “acordo de reconciliação”.

Segundo diferentes fontes, o Hamas aceitaria que Abbas continue como presidente da Autoridade Palestina e siga negociando acordos de segurança com Israel.
Abbas e a Autoridade Palestina têm se alinhado como aliados de Israel há anos e têm colaborado com o bloqueio e os ataques sionistas à Faixa de Gaza. O Hamas, por sua vez, vinha recusando a perspectiva de um “Estado independente” negociado com Israel e os Estados Unidos por Abbas. Denunciava a Autoridade Palestina por seu papel cúmplice no bloqueio a Gaza em conjunto com a ditadura egípcia de Mubarak.

Junto com as mobilizações de março em Gaza e na Cisjordânia, um fator importante que promoveu a “reconciliação” foi sem dúvida a queda de Mubarak. Seu governo era muito importante para sustentar a orientação de Abbas de abandonar toda política de confronto e entrar nas negociações de paz com Israel e os EUA. Por outro lado, o bloqueio a Gaza por parte de Israel seria impossível se Mubarak não tivesse mantido fechada também a fronteira com a região.

Após a queda do ditador, o novo governo egípcio, mesmo que tenha ratificado o acordo de paz com Israel, anunciou em fins de abril que daria alguns passos para a reabertura de sua fronteira com Gaza. Imediatamente foi cogitada a reunião de “reconciliação” de todas as facções palestinas no Cairo.

Diante do acordo de reconciliação entre as frações palestinas, o premiê israelense Benjamín Netanyahu declarou: “A Autoridade Palestina deve escolher a paz com Israel ou a paz com o Hamas, não há nenhuma possibilidade de paz com ambos”.

Um acordo para controlar a revolução
A “reconciliação” foi recebida claramente como um triunfo pelas massas palestinas. E isto sem dúvida alentou a massiva participação em maio nas marchas realizadas nas fronteiras com Israel.

Ao mesmo tempo, o acordo entre Hamas e Fatah tem um aspecto muito contraditório. Noura Erakat, advogada palestina no exílio e professora do Centro de Estudos Árabes Contemporâneos da Universidade de Georgetown, em Washington, publicou um extenso artigo no qual diz: “A reconciliação entre Hamas e Fatah pode representar a primeira vitória do nascente movimento juvenil palestino do dia 15 de março.” Mas “se poderia dizer que a formação de um governo de unidade é uma tática preventiva para tratar de conter o crescente descontentamento palestino e a crescente relevância dos protestos juvenis, em uma Primavera Árabe”. De fato, no dia do anúncio (da reconciliação), forças de segurança do Hamas dispersaram violentamente cerca de cem jovens que celebravam na Praça do Soldado Desconhecido, em Gaza.

Em síntese, a “reconciliação” entre Hamas e Fatah alentou a mobilização das massas palestinas. Mas estas direções estão tratando de converter este acordo em um instrumento para que o povo palestino aceite algo que vai na contramão de seus próprios interesses.

Falta uma nova direção palestina
Nós, da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), sustentamos que a única perspectiva para defender real­mente os direitos do povo palestino (que estava inscrita na bandeira original da OLP) é a luta pela destruição do Estado de Israel e pela construção de um Estado palestino laico, democrático e não racista, em todo o território da Palestina.

Os jovens que pediram a unidade de Hamas e Fatah já estão começando a ver que essas direções não oferecem nenhuma saída. Pelo contrário. Só buscam os enganar e controlar. Para cumprir suas aspirações, as novas gerações de jovens ativistas palestinos independentes que saem à luta sob a influência da revolução árabe terão que tomar em suas mãos a velha bandeira, a do fim do Estado de Israel. Para isso, precisarão construir uma nova direção, que retome o caminho da luta intransigente pela destruição do Estado sionista e pela construção de um Estado palestino laico em toda a Palestina, batalha abandonada tanto pela Fatah como pelo Hamas. Neste sentido, terão que enfrentar também o engano, abençoado pelos EUA e pela ONU, de um pseudoestado palestino nos territórios ocupados.

* Artigo publicado em Correio Internacional (Nova Época) nº 5
Post author Gabriel Massa, de Buenos Aires *
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