Nobel de Economia prevê uma terceira depressão mundialA crise econômica internacional não terminou. Os últimos meses mostraram uma relativa recuperação, mas ela não é sustentável e novos sinais de queda já começam a aparecer. Não é mais um artigo catastrofista de esquerda prevendo mais um fim do capitalismo. É, antes, a percepção cada vez mais forte do mercado financeiro sobre o futuro da economia.

Isso se reforçou com os últimos indicadores mostrando uma desaceleração no mercado de trabalho nos Estados Unidos, assim como a queda no ritmo da recuperação econômica da Ásia e o aprofundamento da crise na Europa. A recente reunião do G20 e a polêmica colocada: a necessidade de estímulos fiscais versus plano de ajustes, mostram que a crise está longe do fim, chega a um impasse e mostra sinais de recaída para o futuro próximo.

Uma crise estrutural
A crise se expressou inicialmente em 2008 com o estouro do mercado imobiliário subprime, nos EUA, o mercado de financiamento de casas voltado ao público de baixa renda. A implosão desse setor trouxe à tona uma série de complexos mecanismos financeiros, como os tais derivativos, revelando que o período de “exuberância irracional” dos mercados nos últimos anos foi sustentado por um esquema semelhante à fraude da pirâmide.

A falência do centenário banco Lemanh Brothers, no final do mesmo ano levou o pânico desenfreado aos mercados e governos em todo o mundo. Os governos, com a Casa Branca à frente, apressaram-se em aprovar pacotes bilionários de ajuda aos bancos e empresas. Durante todo o ano de 2009, foram trilhões despejados de forma indiscriminada nos mercados financeiros como forma de conter a recessão. A tese da crise restrita à esfera financeira entrava em descrédito na medida em que uma profunda recessão se desenhava no planeta.

Os pacotes articulados pelos governos conseguiram conter a recessão e impedir uma depressão mundial. Mas mostraram-se financeiramente inviáveis, colocando países, principalmente os da Europa, à beira da falência. De tal forma que a fase agora é a da contenção dos gastos. O clamor pelos pacotes de ajuda foi substituído pela necessidade do ajuste fiscal e os cortes de gastos, passando a conta da fatura para os trabalhadores.

Apesar dos impasses entre EUA e Canadá e Europa na mais recente reunião do G20, a orientação para os países é a busca pelo “equilíbrio fiscal”. Ou seja, a política do Imperialismo agora é, sem deixar de lado os pacotes de estímulos, estender o ajuste fiscal que está provocando uma verdadeira rebelião social na Europa para o restante do mundo. Significa explicitar ainda mais a transferência de recursos públicos para os mercados.

Tempo de cortar
O grande problema é que os pacotes estatais de estímulo não foram suficientes para impulsionar o investimento privado. Se se cessam, a recuperação também para. Segundo o Instituto Internacional de Finanças, uma organização que reúne grandes bancos de todo o mundo, as políticas de ajuste fiscal devem reduzir o crescimento econômico dos países desenvolvidos de 2,5% para 1,8% em 2011.

Ao todo, os pacotes serão responsáveis pela redução de 1,25% no crescimento mundial no próximo ano. Isso se refletirá nos chamados “países emergentes”. Segundo o IIF, o Brasil crescerá 7,5% em 2010 e no ano seguinte não deve passar dos 4,4%. Por isso, a instituição dá como terminada a fase de rápida expansão dos emergentes que ocorreu nos últimos meses.

Futuro incerto
Nos Estados Unidos entre maio e junho foram criados 13 mil empregos quando eram esperados pelo menos 50 mil. Em contrapartida, 125 mil postos foram extintos. Já o mercado imobiliário se retrai à medida que o governo extingue sua política de estímulo. Os últimos 12 meses de acelerado crescimento refletiu no país a reposição dos estoques, vazios durante o período mais agudo da crise. O ritmo agora tende a diminuir, e o fim dos estímulos vai aprofundar essa desaceleração num momento em que a economia não consegue andar com as próprias pernas, colocando a perspectiva de uma nova recessão.

Já na Europa, cujo índice de desemprego na zona do Euro chega a 10%, os planos de ajustes vão aprofundar ainda mais a crise social que já explode em países como Grécia e Espanha. A Alemanha, maior economia e motor da União Europeia, detalhou seu plano de cortes nesse dia 5 de junho. O governo de Angela Merkel vai cortar o equivalente a R$ 171 bilhões em quatro anos, em uma série de medidas que inclui a demissão de 15 mil servidores públicos.

Tal cenário fez com que o prêmio Nobel de Economia e colunista do New Iork Times, Paul Krugman previsse uma nova fase recessiva e, mais que isso, uma nova depressão equivalente a 1929. Na verdade, o economista compara a atual crise à “longa depressão” de 1873, um período marcado por fortes instabilidades e recaídas. Para o colunista, essa terceira depressão do capitalismo vai ser o resultado da política econômica recessiva imposta pelos governos, que custará algo como “10 milhões de empregos”.

Krugman vem causando controvérsias com suas previsões consideradas catastrofistas. Os defensores dos planos de ajustes argumentam que o equilíbrio das contas públicas vai automaticamente gerar “confiança” nos mercados e ajudar a impulsionar novamente a economia. A realidade, porém, é que uma nova recessão, ou melhor, uma nova fase da crise está cada vez mais clara no horizonte.

E o Brasil?
Como ficou mais do que claro no final de 2008, o Brasil não é uma ilha. Se o país conseguiu evitar uma longa recessão através de pesados subsídios fiscais a bancos e empresas, ajudou para isso a rápida recuperação da demanda da China por minérios e demais commodities a volta do crédito.

O que está ficando mais certo, porém, é que o país não contará com as mesmas condições externas que tornaram possível o crescimento econômico dos últimos anos, apesar da política neoliberal. A demanda por commodities diminuirá, assim como o crédito e os investimentos diretos que, nos últimos meses, cobriram o déficit em conta corrente (prejuízo do que saiu e entrou no país).

Uma nova crise se desenha para o futuro e o país não terá as condições que o possibilitaram a retomar o crescimento. E também não terá Lula, ou seja, ficará mais difícil conter o movimento de massas na hora de impor planos de ajuste fiscal e reformas.