Presidente do júri faz declaração desastradaA negritude e a questão racial estiveram no centro da 32a edição do Festival de Cinema de Gramado, encerrado no dia 21. Primeiro porque os dois filmes mais premiados – As filhas do vento, de Joel Zito Araújo, e Vida de Menina, de Helena Solberg – têm esses temas no centro de sua narrativa. Segundo, porque uma lamentável declaração do presidente do júri, Rubens Edwald Filho, quase fez com todos os premiados de As filhas do vento devolvessem seus kikitos (a estatueta do Festival).

Apesar de tocarem em temas semelhantes, os filmes, que só entrarão em cartaz entre o final deste ano e o início de 2005, são bastante distintos. Vida de Menina conta a história de Helena Morley, uma garota de ascendência inglesa que escreveu um diário enquanto vivia em Minas Gerais, entre 1893 e 1895, ou seja, pouco após a “abolição” da escravatura.

Já As filhas do vento é uma história sobre a trajetória de duas gerações de uma família negra também em Minas, mas na atualidade. O filme provavelmente irá entrar para a história como o que reuniu um dos maiores elencos formados por negros.

Joel Zito Araújo – autor de um livro e de um documentário sobre a representação dos negros na telenovela, ambos intitulados A negação do Brasil – foi premiado como melhor diretor e causou polêmica quando, no dia seguinte à premiação, Rubens Edwald, declarou que os filmes eram todos “sofríveis” e que a premiação tinha sido planejada, afirmando: “Ou alguém acha que foi à toa que demos prêmios para seis atores negros em um estado como o Rio Grande do Sul, que sempre foi acusado de desprestigiar o negro”.

Considerando que a declaração não só desqualificava o filme, como também tem algo de racista ao insinuar que negros e negras só conseguiriam prêmios como favor paternalista, toda a equipe decidiu devolver os kikitos. Diante de uma enxurrada de declarações de apoio aos atores e ao diretor, Rubens Edwald teve de se retratar publicamente.
Post author Wilson H. da Silva, da redação
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