A cantora Daniela Mercury lançou na última semana a música Proibido Carnaval. Mais uma composição da artista, desta vez com conteúdo político. Cantando ao lado de Caetano Veloso, o novo axé da baiana faz uma alusão a eventos recentes do cenário nacional, como no verso “e no sul, Yemanjá vai de rosa ou vai de azul?”. Ela também cita a revolta de Stonewall e dá o tom do que as LGBTs vão enfrentar no atual governo de Bolsonaro: “Abra a porta desse armário / que não tem censura pra me segurar”.
O Brasil é conhecido no mundo todo como o país do futebol e carnaval. Nada mais justo que o povo trabalhador tenha momentos de alegria e prazer, tendo em vista as lutas diárias que travam ao longo de suas vidas. Mas nem só de festa vive o povo! Prova disso são os números expressivos de ações diretas nas ruas, escolas, setores de trabalho que só avançaram de 2013 pra cá. Greves, paralisações e até festas recheadas de conteúdo político invadiram a Casa Grande e questionaram a sua ordem.
Há alguns carnavais, marchinhas como “A cabeleira do Zezé”, “O teu cabelo não nega” e “Maria Sapatão” estão na berlinda. Há mais de 50 anos sendo tocadas, supostamente sem incomodar ninguém, de uns tempos para cá, viraram objetos de discussões no movimento negro, feminista e LGBT. E com razão! As chacotas machistas, racistas, xenofóbicas e LGBTfóbicas não podem nem devem caber nas composições dos nossos blocos, nem das nossas fantasias. Aquilo que a classe dominante usa contra nós só serve para nos dividir e, portanto, não nos pertence!
Em 2018, escolas de samba nos brindaram com letras fortes e críticas sociais contundentes e diretas. A Paraíso do Tuiuti, agremiação nascida no morro de mesmo nome, em São Cristovão, no Rio, foi um desses exemplos. A escola surpreendeu o público durante o desfile com o samba enredo “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”. As críticas explícitas deixaram em silêncio os comentaristas da TV Globo, que transmite ao vivo os desfiles de Carnaval e mexeram com os brios da burguesia racista.
A Mangueira também trouxe, uma crítica direta ao atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que apareceu representado em um dos carros alegóricos como um boneco de Judas. O boneco do político evangélico era acompanhado da frase: “Prefeito, pecado é não brincar o Carnaval”. Neste ano a escola também trará um enredo marcante, abordando personagens apagados na história, incluindo a vereadora assassinada em 2018, M
arielle Franco. Inclusive, a companheira de Marielle, Mônica Benício, sairá em uma das alas da verde e rosa para mostrar que o luto se transforma em luta mesmo na forma de alegoria.
Dentre tantas agremiações e enredos que entram no sambódromo de punho cerrado contra os ataques dos governos e patrões à classe trabalhadora, a Acadêmicos do Tucuruvi, escola da zona norte de São Paulo, se prepara está ano para desfilar com o tema da resistência e luta dos povos indígenas e quilombolas. Inclusive, a escola vai apresentar na avenida uma ala que fala sobre os direitos trabalhistas e fala da greve geral.
Salvador: Berço do carnaval brasileiro
A capital baiana se prepara para mais sete dias intensos de folia. No entanto, como de praxe, a segunda-feira será palco de protesto. A Mudança do Garcia, bloco que todos os anos reúne movimentos sociais e políticos em marcha para enxertar no carnaval um ato político de grande magnitude, levará mais uma vez a marca do povo lutador. Estaremos presente com nossas bandeiras!
Quatro dias depois, ainda sob o signo da folia e da luta, o 8 de Março chega reunindo a mulherada guerreira que segue marchando para barrar a reforma da previdência e exigir mais investimento nas políticas de combate a violência contra as mulheres. Será outro momento de demonstrar que não estamos nem perto de qualquer derrota!
Não é só a realidade conjuntural de crise econômica, política e a polarização social que está em voga na festa mais popular do Brasil. Pelo fato de ser popular o carnaval está sendo ameaçado pelo ultra-conservadorismo da extrema direita. A ofensiva é uma resposta ao avanço na consciência do povo ao questionar o regime e as instituições do estado. Então, a lógica é: se é proibido lutar por direitos, é proibido o carnaval!
O ano de 2019 teve início com um projeto político federal que tem por objetivo retroceder as conquistas do povo trabalhador e, especialmente, dos setores mais oprimidos, para poder manter os lucros exorbitantes dos banqueiros e multinacionais instaladas no país. A política entreguista de Bolsonaro virá violentamente contra trabalhadoras e trabalhadores, bem como contra o povo negro e pobre das periferias. Mostraremos nossa força contra isso em todos os ambientes que estivermos!
Neste carnaval vamos gritar alto contra a exploração e a opressão! Parafraseando Daniela em sua nova canção: “A mulherada comandando a batucada, o trio elétrico cantava libertando a multidão”. Juntos tremularemos no ar a bandeira vermelha do PSTU. Carnaval também tem luta!