As mobilizações em Florianópolis (SC) contra o aumento das passagens de ônibus e a brutal repressão fizeram parte do noticiário nacional nas últimas semanas. Impulsionada pela juventude, a luta transformou-se em um movimento de unidade com os trabalhadores e organizações populares e sindicais. O que levou a população às ruas foi a decisão do prefeito Dário Berger (PSDB), de aumentar em 8,8% a tarifa do transporte coletivo, somando 228% de aumento desde 1997. O valor médio da passagem passaria a R$ 2,08, sendo que em algumas linhas chegaria a R$ 3.

Nesta semana, a prefeitura resolveu fazer um recuo e apresentou uma nova proposta, amenizando o aumento. O projeto encaminhado pelo prefeito à Câmara no dia 15 de junho sugere a revogação do aumento apenas das tarifas acima de R$ 2. A ação teria validade por três meses, com mais três prorrogáveis, e seria subsidiada pelo Orçamento municipal, mantendo o lucro dos empresários do transporte. A Câmara ainda vai analisar e votar o projeto.

A proposta do prefeito não conta com o apoio do movimento pela redução das passagens. Contra a vontade dos estudantes e trabalhadores mobilizados, a UCE (União Catarinense dos Estudantes), a UBES e a UNE estão apoiando o projeto da prefeitura. A medida mantém o aumento em uma parte das tarifas e garante os lucros das empresas através de subsídio público. Além disso, é uma ação temporária, uma manobra para desmobilizar a população. O recuo da prefeitura apenas serviu para mostrar a força da luta radicalizada e que esta pode pressionar os governantes e trazer uma vitória real.

Além de iniciar a análise sobre a proposta do prefeito, a Câmara encaminhou no dia 15 uma CPI para investigar nos próximos três meses as finanças das empresas de transportes de Florianópolis.

As mobilizações
O aumento foi rechaçado pela população, assim como em 2004, na “Revolta da Catraca”, que levou milhares de pessoas às ruas desde o dia 30 de maio. Os manifestantes decidiram realizar manifestações diárias até que as passagens retornem ao preço antigo. No dia 3 de junho, depois que 2 mil manifestantes realizaram uma passeata pelo Centro da cidade, a polícia prendeu 16 pessoas com acusações absurdas, como “formação de quadrilha”. Os presos foram espancados a tal ponto que alguns delegados se recusaram a recebê-los, pelo fato de necessitarem de atendimento médico. Enquanto isso, os ônibus que entravam na cidade eram parados, estudantes tiveram suas mochilas revistadas e, desde então, policiais passaram a ocupar vários locais da cidade.

Mesmo com a brutal repressão, as mobilizações prosseguiram. No dia 6, apesar da suspensão das aulas pela prefeitura, os estudantes realizaram um ato com mais de mil pessoas e se solidarizaram com a paralisação de 10 horas dos motoristas e cobradores.

Nos dias seguintes, novos atos ocorreram, e, em 9 de junho, uma grande mobilização, com cerca de 2 mil pessoas, contou com a participação de vários setores sindicais e principalmente de trabalhadores e desempregados que residem nos bairros mais distantes da ilha. Em resposta à provocação do prefeito, que afirmou à imprensa que “ninguém mija no meu pé e ri da minha cara”, os manifestantes depositaram litros e mais litros de urina na frente da prefeitura. Na seqüência, a mobilização foi engrossada por manifestantes que estavam no terminal do centro da cidade, chegando a reunir cerca de 3 mil pessoas, que, então, fecharam uma das principais vias para a ponte que liga a ilha ao continente. A repressão mais uma vez foi enorme, apoiando-se na tropa de choque, na polícia montada e em carros blindados.

Como foi visto nos telejornais do país inteiro, a repressão tomou conta da cidade. No dia 10, quando cerca de 100 universitários tentavam fechar as pistas da Beira Mar Norte, próximo à UFSC, a polícia não só investiu contra eles, com disparos para o alto, como tentou ocupar a universidade, no que foram impedidos.

No dia 14 de junho, estudantes armaram barracas e se acorrentaram no prédio da Secretaria de Transportes e Terminais, para exigir a redução das passagens. A ocupação, que contou com cerca de 50 pessoas, começou por volta das 14h e terminou às 18h30. Depois, os manifestantes também foram à Câmara dos Vereadores, onde seria votada a proposta enviada pelo prefeito Dário Berger.

A luta continua
Está marcado para esta quinta, 16 de junho, um novo grande ato pela redução das passagens e pela municipalização do transporte coletivo, em frente ao Terminal do Centro, a partir das 13h. A mobilização de Florianópolis mostrou o caminho, com radicalidade e unificando os trabalhadores e a juventude. Já existem reflexos dessa luta em todo o país, com levantes semelhantes em outras cidades do estado, como Criciúma (SC) e Blumenau (SC), ou país afora, como em Uberlândia (MG).

Para que elas sejam vitoriosas, contudo, não basta apenas a redução do preço. É necessária a municipalização do transporte sob controle da população. Para isso, é fundamental aprofundar a unidade com os trabalhadores, realizando plebiscito em cada bairro, escola e local de trabalho, e incorporar as denúncias de corrupção do governo, do PT e seus aliados, ignoradas pelas direções governistas, como a UNE e a CUT.