PSTU Ceará

PSTU-Fortaleza

O primeiro turno da eleição municipal em Fortaleza acabou sem muitas novidades. A disputa se encerra reeditando a polarização entre o PDT e o Capitão Wagner (PROS), que aconteceu em 2016. Ao PT coube novamente a terceira posição na casa dos 17%.

Mas a aproximação do Capitão Wagner de Bolsonaro (que vem se fortalecendo desde a eleição de 2018) coloca um elemento novo nessa disputa, transformando o segundo turno em um duelo entre o bolsonarismo e os Ferreira Gomes. Nós do PSTU acreditamos que, nessa disputa entre dois projetos burgueses, os trabalhadores não tem um lado a tomar. Nossa tarefa é preparar as lutas contra os ataques que virão, seja quem for que ganhe a eleição.

O resultado eleitoral no Ceará

O resultado das eleições que aconteceram no domingo, 15 de novembro, refletem mais um passo dos Ferreira Gomes como grupo político hegemônico no estado do Ceará. O PDT (legenda em que a família Ferreira Gomes se encontra nesse momento) sai da eleição com um resultado ainda maior que o da eleição de 2016. Até agora, o PDT já garantiu a eleição em 66 dos 184 municípios cearenses e, as pesquisas indicam que ganhará também Fortaleza, indo a 67 (cerca de 36% das prefeituras do município, 18 mais que em 2016, se se consolida a vitória em Fortaleza). Em relação ao número de vereadores, o PDT conseguiu eleger mais de 580 vereadores, em 2016 tinham sido 391. Em relação aos vereadores de Fortaleza, a bancada composta pela coligação do Sarto à prefeitura elegeu 25 vereadores, a do Capitão Wagner, 12.

Outra característica importante dessas eleições foram as abstenções, que alcançaram o maior número desde 1992. 21,84% dos eleitores não compareceram às urnas (quase 400 mil pessoas). Apesar de a pandemia influenciar no número de pessoas que não foram votar, esses números já vinham crescendo ano após ano e, nesse pleito, alcançou um aumento  significativo em relação ao anterior. Com a soma de brancos e nulos esse número chega a quase 30% dos eleitores que não escolheram nenhum dos candidatos (mais de 540 mil).

O PT, diferente do cenário nacional, seguiu crescendo. Em 2016 tinha tido uma queda no número de prefeituras e vereadores eleitos em relação a 2012, caindo de 183 para 134 vereadores eleitos e de 26 para 15 prefeituras. Em 2020 retoma ao patamar de 180 vereadores eleitos e alcança 18 prefeituras. Uma grande derrota sofreu o PCdoB, que viu seus votos caírem e perdeu 6 das 8 prefeituras que havia conquistado em 2016 e caiu de 87 para 42 em seus vereadores.

O PSOL ocupou um espaço superior que nos anos anteriores, elegendo 2 vereadores em Fortaleza e uma prefeitura em Potengi. Votamos na candidatura do PSOL em Fortaleza no primeiro turno, apesar de muitas críticas aos rumos que esse partido tem tomado, inclusive a sua aproximação com partidos como o PT e mesmo partidos muito mais a direita, como o PDT, PSB e REDE, em cidades em que se encontram com possibilidades eleitorais.

Nossa campanha defendeu um projeto socialista e revolucionário para Fortaleza

Nos sentimos orgulhosos da nossa campanha. Apresentamos um projeto socialista e revolucionário, a defesa de uma saída para os trabalhadores de Fortaleza que não passa por tentar melhorar esse sistema capitalista que cada dia dá mais provas de sua podridão.

Nossa campanha foi feita junto com os trabalhadores em seus locais de trabalho e moradia. Conversamos com vários homens e mulheres da nossa classe apresentando um programa de saída pra crise que faça com que os ricos paguem por ela. Discutimos com jovens, negros, mulheres e LGBT’s que a solução para as opressões passa por combatê-las agora com todas as forças, mas lutar pela superação desse sistema que lucra com elas.

O sistema eleitoral é antidemocrático. Privilegia as candidaturas dos ricos que possuem grandes aparatos a seu favor. Pela primeira vez, com a aprovação de mudanças ainda mais antidemocráticas na legislação eleitoral, o PSTU não teve nenhum tempo de TV para apresentar suas ideias e seu programa. Fizemos uma campanha humilde, como são os trabalhadores e o nosso povo, enfrentando candidaturas que gastaram milhões vindos de uma distribuição desigual do Fundo Eleitoral e de “investimentos” feitos pelos empresários nas grandes candidaturas que lhes retribuirão após eleitos com privatizações, entrega de direitos dos trabalhadores e repressão aos que lutam.

Nossa campanha, apesar dos poucos votos, teve a força do nosso povo que não se vende e não se rende. Apresentamos o nosso programa socialista com a convicção de quem não faz acordos e nem se rebaixa para eleger parlamentares e nem abre mão de seus princípios em troca financiamentos de empresários para angariar mais votos. Temos muito orgulho de nossas candidaturas e dos votos que obtivemos.

Nem Capitão Wagner e nem Sarto irão governar para os trabalhadores: no segundo turno é voto nulo

Muitas correntes da esquerda tem defendido o voto no Sarto (PDT) no segundo turno para derrotar o bolsonarismo. Não nos resta dúvida nenhuma de que nenhum trabalhador deveria votar no Capitão Wagner (PROS). Wagner representa o que existe de mais atrasado na política nacional. Tenta passar uma imagem de “independente” em relação ao Bolsonaro e de que uma relação próxima com o governo federal irá favorecer o município. Nada mais falso.

Seu padrinho político e aliado é um corrupto, defensor da ditadura e o principal responsável pelos quase 170 mil brasileiros mortos por COVID-19 no país. É o responsável pelo terrível avanço do desmatamento da Amazônia e do Pantanal em benefício do agronegócio. É o responsável pela reforma da Previdência, que vai dificultar a aposentaria de milhões de brasileiros pobres. É o principal responsável (e impulsionador) pelo aumento da violência machista, racista e LGBTfóbica no país. Capitão Wagner carrega consigo a responsabilidade de apoiar Bolsonaro e ser apoiado por ele. E seguirá os mesmos passos de seu padrinho caso seja eleito.

Mas não podemos ter nenhuma ilusão em relação ao Sarto, e nem defender um posicionamento no segundo turno que jogue qualquer ilusão na classe trabalhadora e no povo pobre do nosso município. Sarto não fará um mandato melhor que Capitão Wagner. Sarto é um político que tem décadas como deputado e nem de longe possui uma trajetória de defesa dos direitos dos trabalhadores e dos pobres. Ao contrário. Só para citar o exemplo mais recente, foi o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará que encaminhou a votação da reforma da Previdência estadual do governo Camilo Santana, enquanto reprimia duramente os trabalhadores que protestavam do lado de fora da ALECE.

Seu grupo político, liderado pela família Ferreira Gomes, tenta passar uma imagem nacional de “progressista” e “desenvolvimentista” (e para isso recebem o aval do Lula e do PT e, inclusive, do PSOL), mas já governaram o Ceará por várias vezes, inclusive agora governam o estado através do petista Camilo Santana, e nem de longe fizeram governos que atendessem aos interesses dos trabalhadores. Foram responsáveis por inúmeras privatizações no estado e pelo sucateamento da saúde com o que chegamos para encarar a pandemia. Apesar de estarem há muito tempo à frente do governo do estado, de várias prefeituras e de mandatos no Congresso Nacional e cargos importantes em vários governos federais, não resolveram problemas simples e importantes, como o saneamento básico, por exemplo, que deixa mais de 60% da população do nosso estado sem cobertura de esgoto.

Apesar de tentarem passar uma imagem de “nacionalista” e “desenvolvimentista” os parlamentares do PDT votaram, por exemplo, na recente medida do presidente Bolsonaro que privatiza as empresas estatais de saneamento básico. Ou ainda, apesar de todas as críticas que fazem à principal medida apresentada pelo Capitão Wagner para a educação, que é a militarização das escolas públicas, a verdade é que Camilo Santana, governador aliado dos Ferreira Gomes, foi um dos governadores que se incorporou ao programa do governo Bolsonaro de militarizar escolas estaduais.

É falso o argumento de muitas correntes da esquerda de dizer que é necessário votar em Sarto porque se reedita agora a mesma disputa que se deu no segundo turno das eleições presidenciais passadas, em que disputaram Bolsonaro e Haddad. Em 2018 nós do PSTU votamos 13 no segundo turno, contra o Bolsonaro. Fizemos isso porque Bolsonaro defendia a militarização do governo e ameaçava um autogolpe, que mudaria o regime político no país, instaurando uma ditadura. Isso dificultaria em muito a possibilidade de organização independente dos trabalhadores. O que temos nesse segundo turno em Fortaleza não tem nada a ver com isso.

Pelo contrário, o segundo turno em Fortaleza é uma disputa de dois grupos de direita. Um representado pelo bolsonarimo que é o que existe de mais atrasado e reacionário na política nacional. Outro representado pelos Ferreira Gomes que não tem nada de progressivo, ao contrário, governarão para a burguesia, como sempre fizeram, e manterão a mesma arrogância e violência contra os lutadores e o povo pobre e negro de nosso Estado.

Muitos trabalhadores nos perguntam se, anulando o voto, nós não estamos nos omitindo na disputa. Achamos o contrário disso. Nosso voto nulo representa uma posição política clara de que nenhum dos dois grupos estão a serviço da nossa classe. Na verdade, achamos que faz muita diferença para o candidato que sair vitorioso da disputa, se ele conta com mais ou menos votos, se as abstenções são maiores ou menores. Quanto mais votos recebe o candidato eleito, mais ele sai fortalecido para aplicar os ataques que planejam contra a classe trabalhadora. Por isso o voto consciente no segundo turno é o voto nulo, contra o bolsonarismo e os Ferreira Gomes.

Preparar as lutas

Como dissemos acima, independente do ganhador nessa disputa, os trabalhadores já devem esperar novos ataques. Certamente o novo prefeito eleito irá, por exemplo, encaminhar para votação na Câmara Municipal, o projeto de reforma da Previdência do município que só não foi feito por Roberto Claudio pela proximidade da eleição. Nós, da nossa parte, devemos estar preparados para enfrentá-los nas ruas. O PSTU se coloca à disposição da classe trabalhadora cearense em sua luta contra qualquer um dos dois projetos burgueses que sair vitorioso das urnas no próximo domingo.