Entrega dos cargos sela o acordo para que Lula tenha maioria no parlamento e implemente as reformas neoliberaisPassadas as disputas no interior do maior partido burguês aliado ao governo, o presidente Lula decidiu anunciar a sua reforma ministerial. No dia 14 de abril, após uma reunião com o presidente do PMDB, Michel Temer, o governo anunciou que vai entregar cinco importantes ministérios ao partido. Temer saiu todo prosa da reunião. Não é pra menos. Desde o governo José Sarney (1985-90) o PMDB não ocupa ministérios tão importantes. Somados, os orçamentos dos cinco ministérios atingem o valor de R$ 74 bilhões. Em troca, o PMDB vai garantir a maioria governista no Congresso, selando assim a chamada “coalizão” do segundo mandato presidencial.

O quadro do loteamento ministerial ficou assim: O deputado Geddel Vieira Lima (BA), um dos baluartes da oposição de direita no primeiro mandato, ficou com a Integração Nacional. José Gomes Temporão dirigirá a Saúde. Hélio Costa – homem de estreitas relações com as organizações Globo – permanece no Ministério das Comunicações, e Silas Rondeau, em Minas e Energia.

Produtor de “laranjas”
A novidade – e, em seguida, os constrangimentos – foi a nomeação do deputado Odílio Balbinoti (PMDB-PR) para a Agricultura. Blairo Maggi (PR), governador do Mato Grosso e o maior produtor individual de soja do mundo foi um dos que recomendaram Balbinoti, o maior produtor de sementes de soja do país, para o cargo. Em 2003, as fazendas de Balbinoti lucraram R$ 65 milhões. Seus negócios fazem dele o detentor da segunda maior fortuna de toda a Câmara Federal. Sua nomeação confirmaria a política do governo de fortalecimento o agronegócio brasileiro, já que a reforma agrária foi enterrada na prática pelo governo.

Mas o novo ministro da Agricultura sequer teve tempo de sonhar com o seu novo cargo. No dia seguinte, a indicação de Balbinoti já estava sendo motivo de constrangimentos para o governo. O deputado responde atualmente a um inquérito na Justiça por crimes contra a fé pública e por falsidade ideológica.

Em seguida veio à tona a informação de que o ruralista usou sem autorização o nome de alguns dos seus empregados para renegociar uma dívida de quase R$ 2 milhões com o Banco do Brasil. De repente, descobriu-se que o produtor de sementes de soja também produzia “laranjas”. O filho do ruralista tentou justificar dizendo que os seus empregados assinaram um contrato de parceria para produção de soja numa fazenda do deputado e que, por isso, assumiram “solidariamente” a dívida no banco. É muita cara-de-pau.

O escândalo obrigou o ruralista a desistir do cargo. Nos próximos dias, Lula deverá escolher alguém de confiança da bancada ruralista e ligado ao PMDB para ser o novo ministro da agricultura. Para evitar o mesmo problema, o presidente do PMDB está avaliando a “ficha corrida“ dos parlamentares. Tarefa que não será fácil.

Homens do presidente
Mas a história de Balbinoti coloca em evidência uma outra questão: o tipo de gente que Lula nomeia para o seu ministério. Pela esplanada já passaram malandros e picaretas de toda espécie, como Romero Jucá, Palocci, José Dirceu, sem falar em outros como José Janene, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, Anderson Adauto, Luiz Gushiken, Henrique Pizzolato, José Borba, Delúbio Soares, Sílvio Pereira. Enfim, a turma da lista da chamada “organização criminosa” do Ministério Público.
Nomeado para o Ministério da Integração Nacional, o peemedebista Geddel Vieira Lima, por exemplo, é outro que tem uma extensa ficha de denúncias de corrupção. Geddel foi um dos integrantes dos memoráveis “anões do Orçamento“. Ele e sua família são hoje proprietários de várias fazendas.

Legenda de aluguel
O PMDB, desde o fim da ditadura, nunca ficou distante do poder. É a maior legenda de aluguel deste país e está acostumado às benesses e aos cargos do Estado. Com as nomeações feitas agora, o partido vai repetir o que todos sabem. Vai ampliar a corrupção com o dinheiro dos ministérios e das estatais, transformados em balcões de negócios, algo que ficou mais do que exposto na crise do mensalão, em 2005. Por outro lado, como é a maior bancada do Congresso, o loteamento dos cargos sela o acordo para que Lula tenha maioria no parlamento e implemente as reformas neoliberais, como a previdenciária.

Com as nomeações do PMDB, falta agora Lula acomodar outros aliados. No loteamento ministerial, o governo poderá criar mais um ministério para acomodar seus amigos. Cogita-se a hipótese de criar a secretaria de Portos, cujo titular teria status de ministro. Seria uma forma de compensar o PSB pela perda do ministério da Integração Nacional, entregue ao PMDB. No entanto, a proposta desagrada o PR (o antigo PL do mensalão) que não está disposto e levar um Ministério dos Transportes que não tenha pleno comando dos Portos brasileiros.

O fortalecimento do PMDB significou o enfraquecimento do PT. Segundo informações da imprensa, a petista Marta Suplicy vai assumir o Ministério do Turismo, um cargo secundário. Mas ela pretende utilizá-lo como trampolim para a disputa da prefeitura de São Paulo em 2008. Tarso Genro, do PT, assume como Ministro da Justiça. Enfraquecido após a derrota para a presidência da Câmara, o PCdoB deve manter o Ministério dos Esportes.

Especula-se também que Paulo Skaf, atual presidente da Fiesp, seja nomeado para Desenvolvimento, no lugar de Luiz Furlan.

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