Uma passeata reuniu cerca de 20 mil pessoas, no último dia 20, na cidade de Jena, Louisiana. A manifestação teve grande repercussão nos Estados Unidos e reabriu o debate sobre o racismo no país.

Os manifestantes saíram às ruas em apoio a seis adolescentes negros que podem ser condenados por suposta tentativa de assassinato. Em dezembro de 2006, os seis supostos agressores, conhecido como “os seis de Jena”, foram presos e acusados de tentativa de homicídio após se envolverem numa briga de escola com outro aluno branco. Um deles já foi julgado em junho e considerado culpado por um júri exclusivamente branco.

De acordo com as leis norte-americanas, o crime de agressão é punível com até 15 anos de prisão. Na semana passada, uma corte de apelações cancelou a condenação. No entanto, a promotoria prepara uma nova apelação.

O estopim para toda a crise começou há pouco mais de um ano, no início do período letivo de 2006 da Escola de Ensino Médio de Jena. Durante uma reunião com a direção sobre a volta às aulas, um aluno negro perguntou à direção da escola se ele poderia sentar embaixo de uma determinada árvore localizada no pátio. A árvore era um ponto de encontro “exclusivo” de alunos brancos, onde negros e negras eram hostilizados. Constrangido, o vice-diretor da escola respondeu: “você sabe que pode se sentar onde quiser”. Mas a história não era bem assim.

Depois que um grupo de alunos negros passou a freqüentar o local, numa determinada manhã, três cordas de forcas apareceram penduradas na árvore. Uma alusão racista aos enforcamentos de negros nas primeiras décadas do século XX por grupos como a Klu Klux Klan.

Três estudantes brancos foram identificados como os responsáveis pela ação racista. O comitê que investigou a ação recomendou a expulsão de todos eles, mas a direção da escola, absurdamente “optou” por uma suspensão, alegando que a atitude “não teve conotação racista”. Como se não bastasse, o FBI – a polícia federal americana -, chamado para ajudar nas investigações, também concluiu que o ocorrido não se enquadrava nas definições de crime de racismo.

Pesos e medidas
A impunidade aos três estudantes alimentou ainda mais os constantes casos de racismo na escola. O colégio chegou a ser fechado por alguns dias. A decisão provocou reações da comunidade negra, e o caso ganhou as manchetes locais. Os manifestantes acusam as autoridades da justiça e da escola de racismo, pois enquanto os adolescentes negros são tratados com máxima severidade, o episódio realizado pelos jovens brancos foi tratado com a mais completa impunidade.

A manifestação do dia 20 tomou grande dimensão nacional e foi considerada uma grande vitória pelos organizadores. O protesto chamou atenção de artistas e intelectuais de todo o país. O cantor David Bowie, por exemplo, fez uma doação de US$ 10 mil para ajudar a defesa dos adolescentes negros.