Esse fim de ano coincide com o início do segundo mandato de um governo de frente popular no Brasil, o primeiro da história. Há uma grande pergunta no ar: como será este governo? Governos como o de Lula são um enorme desafio para as organizações de esquerda, e a maioria acaba cooptada. O PSTU tem orgulho de ter se mantido
na oposição à Lula, e na linha de frente para a construção de uma alternativa ao PT, à CUT e à UNE no movimento de massas, como foi a construção da Conlutas. Nestas páginas, apresentamos a análise que deu base às nossas políticas perante o governo nestes últimos anos e nossas previsões para o segundo mandato.

Quem ganhou com o primeiro mandato?
No início do governo Lula, afirmávamos que seria um governo burguês que aplicaria um plano ainda mais neoliberal do que o de FHC. Muitos acreditavam que estávamos exagerando. Os fatos comprovaram o nosso acerto, talvez em um nível ainda mais amplo do que supúnhamos.

Continua existindo muita confusão. Por exemplo, os setores mais explorados e os maiores exploradores (uma parte importante dos banqueiros e das grandes multinacionais) sentem-se vitoriosos com a reeleição de Lula. Evidentemente, alguém está muito enganado nessa história.

Não é preciso ir muito longe para ver que não são os banqueiros, que já vinham tendo lucros extraordinários no governo FHC. Mesmo assim, nenhum governo da direita, nem mesmo a ditadura, fez com que os bancos lucrassem tanto como Lula.
Logo no início do governo, a meta de superávit primário foi elevada de 3,75% do PIB para 4,25%. Com o pagamento da dívida pública, o primeiro mandato de Lula vai gastar cerca de R$ 530 bilhões, mais do que os dois governos de FHC juntos (R$ 467 bi).

A cada ano, desde 2003 até agora, os bancos alcançaram um recorde histórico de lucros. No primeiro semestre de 2006, outro recorde: R$ 22,2 bilhões, 43% a mais do que em 2005.

Mais lucros, mais doações. Nas eleições de 2004, os banqueiros tinham sido os maiores doadores do PT, com R$ 7,9 milhões (R$ 4,5 milhões ao PSDB). Agora, em 2006, doaram R$ 10,5 milhões (a mesma quantia ao PSDB).

E para os trabalhadores? O governo petista aplicou no Brasil a recomendação do Banco Mundial: para garantir a viabilidade do neoliberalismo, é necessário ter planos de compensação social, como o Bolsa Família. Com 11 milhões de famílias recebendo em torno de R$ 95, Lula conseguiu estabelecer uma base social e eleitoral importante. É o mesmo princípio do “bônus Juanito Pinto” na Bolívia, das “missiones” venezuelanas ou dos “Planes Trabajar” para os desempregados de Kirchner. Os R$ 5,5 bilhões gastos com o Bolsa Família no ano passado são 50 vezes menor do que o valor destinado a pagar as dívidas em 2006 (R$ 272 bi).

Nos três primeiros anos de governo, o reajuste médio do salário mínimo foi de 3,5%, enquanto nos oito anos de FHC foi de 4,5%. Como queria ganhar as eleições, Lula deu um reajuste maior em 2006, de 13%. Insuficiente para as necessidades dos trabalhadores e bem longe da promessa de Lula em 2002, de dobrar o mínimo (o que daria algo em torno de R$ 550). Agora, reeleito, Lula volta ao patamar de antes, prevendo um reajuste de míseros 3% (R$ 367) em 2007.

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