Em 1968, ocorreram as primeiras greves operárias depois do golpe com os metalúrgicos de Contagem (MG) e Osasco (SP). A violenta repressão sobre os grevistas, com tropas militares cercando as cidades, sindicatos sob intervenção, prisões e demissões levaram o movimento a derrota, mas deixaram raízes.

Com a alta dos preços do petróleo e juros internacionais, há o crescimento da dívida externa, consequentemente aumento da inflação e da dívida interna. O crescimento econômico baseado no endividamento externo começou a ficar cada vez mais caro. O ciclo de expansão econômica iniciado em 1969 se esgota. Instaura-se um ciclo recessivo na economia.

Com a crise econômica veio à crise política. Nas fábricas, comércio e repartições públicas, o povo começou a manifestar seu descontentamento passando a reclamar do governo.

Para enfrentar a crise, o governo Geisel planeja um processo de abertura política que deu o nome de “distensão, lenta e gradual”, um processo de transição para a democracia sem “acerto de contas” com o passado.

Mas, em novembro de 1974, o voto na oposição evidenciava o grau de repúdio da população. Setores médios se colocavam abertamente contra a ditadura: jornais independentes, estudantes, sindicalistas, intelectuais e profissionais liberais. Geisel reage com o “Pacote de Abril”, medidas que visam manter o controle do poder pela ditadura.

Em abril de 1977, militantes da Liga Operária (LO), depois Convergência Socialista, são presos no ABC paulista, distribuindo panfletos do 1º de maio. Entre eles os operários Celso Giovanetti Brambilla, José Maria de Almeida e Márcia Bassetto Paes, além de Ademir Mariri, Fernando Antonio de Oliveira Lopes e Anita Maria Fabri. Foram barbaramente torturados. Incomunicáveis, corriam risco de morte nas mãos da polícia, que não reconhecia as prisões.

A LO teve a política de buscar apoio no movimento de massas, especialmente no estudantil. Operários vão a Universidade de São Pulo (USP) pedir solidariedade. Ela veio no dia 2 de maio, quando estudantes da USP entram em greve contra as prisões. Os protestos chegam a Universidade Federal de São Carlos e na Unicamp. A greve se alastra por todo o estado de São Paulo, são mais de 80 mil universitários parados. No Rio de Janeiro e na Universidade de Brasília (UnB), são registrados protestos.
Com as manifestações estudantis de 1977 e o começo das greves operárias em 1978, a resistência à ditadura passa a utilizar os métodos da classe operária.

CLASSE OPERARIA VOLTA A CENA
A posse de João Baptista Figueiredo, em março de 1978, é marcada pelo crescimento da crise econômica mundial e a quebra de muitos países.

Em maio de 1978, a greve da Scania iniciou uma onda de greves de metalúrgicos, professores, bancários e trabalhadores da construção civil. De 1978 a 1988 foram mais 2.188 greves no país. Os trabalhadores exigiam reposição salarial com base nos índices de inflação de 1973. A luta reivindicatória agia como faísca para a luta política.

Em 1979, num piquete na metalúrgica Sylvania, em São Paulo, a PM mata a tiros o líder operário católico Santo Dias da Silva. Mais de 10 mil protestam em seu enterro. Neste ano, 80% dos 270 mil metalúrgicos na cidade entram em greve, seguidos por trabalhadores de Osasco e Guarulhos (SP). O pelego sindical, “Joaquinzão”, acaba com a greve com poucas conquistas e a oposição não consegue tomar o controle da situação.
No Rio, se desencadeiam greves metalúrgicas em 9 cidades, entre elas Volta Redonda (RJ) nas obras de expansão da CSN. Em Minas Gerais novamente os metalúrgicos de Belo Horizonte, Contagem e Betim.

Em agosto, é morto o operário da construção civil Orocilio Martins, em Belo Horizonte, quando participava de um piquete. Durante três dias os operários da construção civil tomaram as ruas da cidade depredando e saqueando lojas. Na primeira sublevação operária na ditadura.

Em novembro, o governo decreta uma nova lei salarial que garante reajuste automático de salários semestralmente e dá um reajuste de 10% para todos os trabalhadores que ganham até 3 salários mínimos. Os metalúrgicos voltam a greve em 1º de abril de 1980. São 330 mil metalúrgicos parados em todo estado de São Paulo.

O TRT decreta a greve ilegal. O Ministro do Trabalho decreta a intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, mas a greve continua.
O governo dá ordens para ocupar o ABC e desmantelar a greve. O general Milton Tavares, à frente do II Exército, prepara a volta de uma brutal repressão. Rearticula o DOI/CODI e efetua uma longa lista de prisões de sindicalistas, advogados, deputados e ativistas de várias correntes políticas. Lula é preso com mais 13 lideres sindicais, entre eles José Maria de Almeida.

Mas toda esta articulação repressiva é derrotada pela resistência operária e popular. A mobilização atinge os bairros operários e as comunidades.
A solidariedade chega com 80 mil toneladas de alimentos aos grevistas, e uma arrecadação de 14 milhões para o fundo de greve. Para o ABC vão dirigentes políticos e sindicais de todo pais. Sindicalistas, dirigentes partidários, deputados e senadores.

A ditadura necessitaria de um banho de sangue para sufocar o movimento. Surpreendidos com a capacidade de mobilização, o governo recua e chama o general Milton a Brasília.
No dia 1º de maio, a greve completa 31 dias. Com a presença de 150 mil trabalhadores, uma manifestação sai da Igreja da Matriz para reocupar o Estádio de Vila Euclides, fazendo o exército recuar e abandonar São Bernardo. Uma derrota categórica contra a ditadura que é golpeada profundamente.

Nas eleições sindicais em 1980 foram derrubadas 27 diretorias pelegas, segundo Bernardo Kucinski, em seu livro Abertura, a história de uma crise. Mesmo com o PCB, agora acompanhado pelo MR-8 e PCdoB, sustentando os velhos pelegos, assessorando e dividindo as oposições como em São Paulo.

Em 1983, foi formada a CUT, que junto com as vitórias dos novos governadores de oposição impulsionam as mobilizações. A inflação dava saltos de 211%, em 1983, para 223%, em 1984, até 235%, em 1985.

Em 1983 foram 178 greves no estado de São Paulo envolvendo quase 320 mil trabalhadores. Em 1984 são 306 greves com 820 mil trabalhadores. Já em 1985, foram 298 greves mas que envolveram quase 2 milhões de trabalhadores, segundo o livro Três anos de greves em São Paulo, 1983-1985, de Márcia de Paula Leite.

Em 28 de junho, é convocada a Assembleia Nacional Constituinte que funcionou até 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a nova Constituição. Em 1984 ocorreu o gigantesco movimento pels “Diretas Já” que, junto com as greves operária e estundantis foram determinantes na derrubada da ditadura.
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