Presidente norte-americano sai do país deixando para trás acordos comerciais, ameaças sobre o petróleo do pré-sal e 13 presos políticosO presidente norte-americano Barack Obama nem havia deixado o Brasil, e o balanço que a imprensa fazia de sua rápida visita já era contaminado de uma ridícula euforia e exagero. O discurso público da Cinelândia foi cancelado apenas um dia antes. A delegação alegou questões de segurança, mas houve quem atribuísse a desistência à falta de garantias de público e ao temor de protestos entre o público na praça.

Obama deixou para trás acordos comerciais e a garantia de petróleo para fazer funcionar a maior economia capitalista do mundo. Além disso, foi daqui do Brasil que o chefe do imperialismo ordenou o bombardeio na Líbia, diante do silêncio servil do governo brasileiro. Como se não bastasse, sua visita também deixou 13 presos políticos, detidos depois de realizarem uma manifestação pacífica contra sua visita.
Depois de serem enviados para presídios, sofrerem humilhações e terem suas cabeças raspadas, os ativistas foram libertados horas depois que Obama viajou para o Chile.

Mas a libertação só ocorreu graças a uma vitoriosa campanha que integrou entidades dos movimentos sociais, parlamentares, sindicatos e entidades dos direitos humanos (leia mais nas páginas 10 e 11).

O sentido da visita
Obama desceu no Brasil com dois objetivos. O primeiro, e declarado, foi estabelecer acordos comerciais, derrubando tarifas alfandegárias, a chamada TECA, na sigla em inglês. E a razão disso, o próprio norte-americano não escondeu: os EUA estão em crise e precisam aumentar as exportações, e o Brasil é um mercado grande e em expansão.

Mas os olhos de Obama estavam voltados mesmo ao pré-sal. “Estamos criando um novo diálogo estratégico sobre energia para garantir que as cúpulas dos nossos governos trabalhem conjuntamente para aproveitar novas oportunidades, em particular, como as novas descobertas de petróleo no Brasil”, discursou no Planalto ao lado de Dilma.

Com a instabilidade política no Oriente Médio, os EUA enxergam no Brasil uma oportunidade de ouro para espoliar o petróleo. Além da estabilidade, o governo norte-americano encontra aqui uma completa submissão aos seus interesses.

Os exemplos dessa submissão foram numerosos em tão rápida visita. Como na revista dos ministros de Dilma na entrada do pronunciamento de Obama aos empresários. Os ministros Guido Mantega (Fazenda), Edson Lobão (Minas e Energia), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) foram revistados por seguranças norte-americanos em seu próprio país. A situação lembrou o vexame do então chanceler Celso Lafer, no governo FHC, obrigado a tirar os sapatos para entrar nos EUA.

Apesar do discurso de igualdade, nem na aparência o governo brasileiro conseguiu esconder seu papel subalterno.


O outro objetivo de Obama foi midiático. O presidente tentou reforçar sua imagem popular e amigável, fazendo crer que nada tinha a ver com Bush e seus antecessores. E contou com a generosa ajuda da imprensa brasileira, que fez uma cobertura amplamente favorável ao norte-americano. O fato de Obama ser negro foi tomado como elemento de identificação com os brasileiros.

Os fatos, porém, mostram que por trás do sorriso dele se esconde o velho imperialismo ianque. Uma cena descrita no jornal Folha de S. Paulo ilustra bem isso. No início da tarde do dia 19, Obama participava de uma recepção oferecida pelo Itamaraty. Na hora do brinde, o presidente foi interrompido por um assessor, que lhe entregou um telefone. Após algumas poucas palavras, o presidente voltou ao seu brinde. Acabava de autorizar o bombardeio aéreo na Líbia.

O que essa visita mostrou?
A visita em si não teve grandes novidades e, ao contrário do tom eufórico da imprensa, não contou com manifestações de apoio na sociedade. Mas, por outro lado, revelou muito. Primeiro, o empenho do governo brasileiro em se mostrar fiel vassalo do imperialismo. O fato de Obama ter ordenado o bombardeio à Líbia de dentro do Itamaraty é simbólico. Mais simbólico ainda foi o silêncio do governo brasileiro, que fez uma declaração condenando o bombardeio só depois que Obama viajou para o Chile.

Os governos uniram-se para estender o tapete vermelho ao chefe do imperialismo. Até mesmo a Justiça mostrou sua submissão. A prisão dos 13 manifestantes na noite do dia 18, durante um protesto, foi um fato sem precedentes. O argumento do juiz que determinou a manutenção das prisões fala por si só: os detidos representariam “ameaça à ordem pública” enquanto Obama estivesse aqui e poderiam “macular” a imagem do país.

Mas não foi só isso. A ordem expressa do PT e do Planalto aos seus militantes, proibindo manifestações contra Obama, revela o caráter pró-imperialista do partido e desmascara seu papel nos movimentos sociais. Um fato inédito e histórico: uma ordem do Partido dos Trabalhadores para que seus filiados não comparecessem a um ato contra um presidente dos EUA, a um ato contra o imperialismo!

A visita de Obama, assim, mostrou um governo brasileiro ainda mais submisso, empenhado em entregar nosso petróleo ao imperialismo e abrir o mercado aos EUA. Revelou uma Justiça que se mostra capaz de atropelar a Constituição para defender os interesses dos EUA, como se estivéssemos em um estado de sítio.

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