Hugo Chávez afirmou que a Venezuela entrou decididamente na etapa de “construção do socialismo”. Alguns intelectuais que o acompanham denominam este socialismo como “do século 21”, para destacar que teria características diferentes tanto da proposta mais geral formulada por Marx, no século 19, como das experiências que se realizaram no século 20, em diversos países. Será que a Venezuela realmente marcha nesta direção?

Uma mudança na realidade Latino Americana
Antes de entrar neste debate, nos parece importante destacar que sua própria realização demonstra o quanto mudaram a situação latino-americana e a consciência das massas do continente desde a década de 1990. Nesses anos, depois da queda do Muro de Berlim e da derrubada dos Estados do chamado “socialismo real”, o imperialismo lançou uma forte campanha ideológica sobre a “morte do socialismo” e o “triunfo do capitalismo”, acompanhada de uma ofensiva geral de privatizações de empresas estatais e ataques às conquistas sociais e trabalhistas obtidas nos anos anteriores, tanto nos países do Leste Europeu como na América Latina.

Essa política foi apresentada como o caminho para o desenvolvimento econômico e o “ingresso no Primeiro Mundo”. Uma parte do movimento de massas latino-americano, diante do fracasso do chamado “socialismo real”, acreditou por um tempo nessas idéias e, como conseqüência, governos como o Fernando Henrique no Brasil ou Carlos Menem na Argentina dominaram a cena.

 Mas a mentira tem pernas curtas e, em poucos anos, as massas comprovaram que o resultado era só o aumento da pobreza e da miséria, como parte de uma maior colonização imperialista dos países latino-americanos, e que teriam de lutar contra essa política e os governos que a aplicavam. Isso se expressou, no início do século 21, na explosão contínua de processos revolucionários em vários países – Equador, Argentina, Bolívia e Venezuela.

 Essas lutas, com suas reivindicações contra o capitalismo imperialista e a colonização (repúdio à dolarização da economia, nacionalização dos recursos naturais sem indenização, não pagamento da dívida externa, ruptura com o FMI…), voltaram a colocar o socialismo como uma perspectiva necessária para as massas. Parafraseando Marx, o socialismo é um “fantasma” presente que se nega a morrer.

Duas Alternativas 
As declarações e discursos de Chávez se dão no marco desta nova realidade continental e, para interpretar seu significado, temos duas alternativas. A primeira é que Chávez está encabeçando um processo que caminha realmente rumo ao socialismo. A LIT-QI e outros setores não estariam vendo isso e, a partir desta incompreensão, teriam uma política sectária e equivocada.

 A segunda alternativa é que Chávez não quer avançar na construção do socialismo, mas se vê obrigado a utilizá-lo em seus discursos, pela situação que analisamos, como um mecanismo para enganar o movimento de massas. Ou seja, fala de “socialismo” para encobrir seu projeto de que a Venezuela siga sendo um país capitalista. Cremos que essa segunda alternativa é a que responde à realidade.
 

Como fazer o debate?
Poderíamos iniciar o debate com um resumo das idéias e análises de Marx, o primeiro a formular a perspectiva da revolução socialista baseado em uma análise científica do capitalismo e dos processos econômicos e sociais que nele se desenvolviam (idéias que logo aprofundaram, e tentaram levar para a prática, Lênin e Trotsky na Revolução Russa de 1917). Nos parece, porém, que este seria um enfoque equivocado que levaria o debate a uma rua sem saída. Não apenas porque houve outras experiências que seguiram caminhos distintos (Iugoslávia, China, Cuba), mas porque a corrente chavista afirma que sua proposta é diferente da de Marx porque responde a uma realidade distinta.

Por isso, nos parece melhor enfocá-lo, de certa forma, pela negativa. Ou seja, analisar as políticas e medidas centrais levadas adiante pelo chavismo e verificar se elas representam ou não uma ruptura com o sistema capitalista-imperialista.

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