Em 2006, Sakineh Ashtiani foi condenada pela justiça iraniana por ter mantido “relações ilícitas” e recebeu 99 chibatadas. Desde então, esta mulher de 43 anos está na prisão. Recentemente, ela foi levada ao tribunal e recebeu um novo julgamento. Foi novamente condenada e, desta vez, apesar de já ter sofrido uma punição, foi sentenciada à morte por apedrejamento. Nessa prática – de cruel extremismo – enrola-se firmemente a mulher, da cabeça aos pés, com lençóis brancos.
Depois, ela é enterrada na areia até os ombros e golpeada até a morte com pedras grandes. Essa violência é institucional no Irã, uma prática comum e legalizada desde 1978, defendida pelos fundamentalistas islâmicos.

O machismo extremista é visto neste e em muitos casos que viraram realidade cotidiana no Irã. O extermínio de mulheres tornou-se algo legal e natural e se justifica simplesmente pelo fato de uma mulher ter uma relação afetiva fora do seu casamento. No Irã, o divórcio é proibido para as mulheres, a não ser que se comprove que o marido roubou, matou ou é homossexual. Caso contrário, ela é obrigada a se manter casada. Ou seja, na sociedade iraniana, a mulher é uma propriedade privada do homem. Algo que só se diferencia de outras sociedades, como a brasileira, por exemplo, pelo fato de isso estar na lei, pois em sociedades como a nossa, embora tal fato não esteja legalizado, faz parte da ideologia machista que justifica a violência doméstica e a morte de dezenas de mulheres todos os dias.

Cinismo do imperialismo
Se por um lado, o apedrejamento de mulheres é algo bárbaro e abominável, não menos repulsivo é a tentativa do imperialismo de querer aparecer como “defensor dos direitos humanos”. A imprensa dos EUA não perdeu tempo e avançou em sua campanha de demonização do Irã. Mas não diz que tropas do imperialismo norte-americano e europeu travam hoje uma guerra fratricida contra o Iraque e o Afeganistão pelo controle estratégico da região, deixando para trás um rastro de sangue e destruição. Todos os dias, soldados ianques humilham, massacram e violentam mulheres muçulmanas.
Ao tentar tirar proveito do caso de Sakineh Ashtiani, o imperialismo tenta de forma habilidosa esconder o fato de ser o responsável pela miséria e desemprego, que cortam o caminho da emancipação feminina. Em outras palavras, a política de dominação do imperialismo fomenta a opressão das mulheres em todo o mundo.

Recuo do Brasil
No Brasil, o governo Lula disse que, “como cristão”, não acha certo que um Estado condene uma pessoa à morte. Pediu que o governo iraniano cancelasse a pena a que foi submetida a viúva Sakineh, mas disse que não pode virar “um apelador” e que as regras dos outros países devem ser respeitadas. Lula considerou que é preciso levar em consideração a legislação e a soberania de cada país.

Assim, embora o governo brasileiro tenha formalmente oferecido asilo a Sakineh e se posicionado contrário à sentença de morte, na prática ele recuou de suas declarações em nome das relações amistosas com o governo do Irã e do “respeito” às leis e aos costumes do país.

“É por eu ser mulher…!”
“É por eu ser uma mulher, é por eles acharem que podem fazer o que quiserem com as mulheres, neste país. É por estar em um país onde as mulheres não têm o direito de se divorciar dos maridos e estão privadas de direitos básicos”. É assim que Sakineh Ashtiani define o motivo pelo qual aguarda por uma das mais cruéis penas de morte do mundo.

Para ela, as autoridades iranianas estão mentindo. Estão envergonhadas com a atenção internacional dada ao caso e tentam desesperadamente distrair a atenção e confundir a mídia para a matarem em segredo. O advogado Houtan Kian, atual defensor de Sakineh, diz temer que ela seja morta a qualquer momento devido à desorganização do sistema judiciário iraniano. Ele diz que, embora o processo esteja sob a revisão da Suprema Corte, há registros de ocasiões em que instâncias inferiores cumpriram sentenças sem informá-la.

A TV iraniana transmitiu uma suposta confissão de Sakineh, na qual ela admite ter participado do assassinato de seu marido e critica seu advogado anterior, Mohammad Mostafaei, que fugiu do país e está asilado na Noruega. Seu advogado, imediatamente, rejeitou as imagens e disse que sua cliente havia sido torturada antes de dar a entrevista. O filho de Sakineh, Sajad, publicou na internet uma carta pedindo que a ONU intervenha. “Minha mãe não é uma assassina”, afirma.
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