Apesar de toda a propaganda do governo e da mídia, o crescimento econômico não se sustenta e uma nova crise avizinha-seO governo apresenta o crescimento da economia como produto de seus acertos. Agora, Palocci anunciou a “saída do FMI”, para mostrar sua independência. Na esteiras desta história, a mídia, com a Globo à frente, gera expectativas nas massas dizendo que é possível superar os problemas sociais, em particular o desemprego.

O crescimento atual, entretanto, é parte de um ciclo internacional do capitalismo, e o governo segue tão servil ao FMI como antes. Ao contrário das expectativas geradas, os problemas sociais não serão solucionados, e tendem a se agravar.
Pior ainda, como em todos os ciclos econômicos, já existem sinais que apontam para uma nova crise, que pode ser ainda mais grave que a anterior.

O auge de mais um ciclo. Depois virá mais uma crise
O atual crescimento da economia mundial teve início em 2002, puxado pelo coração imperialista, a economia dos EUA. Em 2004, houve um crescimento, em todo o mundo, de 4%. Os EUA cresceram 4,4%; a Europa, 2,3%; o Japão, 2,6%; e a América Latina, 5,5%.

Agora, estamos no auge de um ciclo. A duração desses ciclos é variável, em geral, de cinco a sete anos, incluindo os períodos de crescimento e de crise.
A última crise (registrada entre 2001 e 2002) teve uma enorme gravidade, sendo considerada por vários economistas marxistas como a pior desde a Grande Depressão de 1929. Afetou, simultaneamente, os principais países imperialistas. Nos EUA, algumas empresas enormes faliram (como a Enron) e US$ 15 trilhões foram torrados na queda da Bolsa.

Na América Latina, essa crise internacional se abateu com muita força, tendo sérias conseqüências sociais e políticas, como as crises revolucionárias ocorridas na Argentina, no Equador e na Bolívia. No Brasil, os reflexos foram sentidos na crise do Plano Real, no desgaste de FHC e na eleição de Lula.

Em todo ciclo, porém depois, do crescimento, como agora, começa a queda e uma nova crise pode estar no horizonte. Nos EUA, a massa de lucros caiu 4,8%, no terceiro trimestre de 2004. O FMI já fala de um crescimento menor em 2005, tanto para os EUA como para o restante do mundo. Ninguém pode prever com certeza quando virá, mas provavelmente em um ou dois anos o capitalismo viverá uma nova crise.

Um crescimento sustentado no armamentismo
A próxima crise da economia mundial pode ser ainda pior que a passada. O governo Bush desenvolveu uma política econômica apoiada na indústria armamentista para escapar da crise anterior. E, para isso, ampliou fortemente os déficits comercial e fiscal dos EUA.

Os gastos militares passaram de 3,1% do PIB, em 2001, para ultrapassar 4% do PIB em 2005, chegando a US$ 500 bilhões. Só com a ocupação do Iraque e do Afeganistão, os EUA gastam US$ 4 bilhões mensais. Um analista afirma que, em 2003, 60% do crescimento dos EUA poderiam ser atribuídos aos gastos de guerra, que incluem reposição de armas, manutenção das tropas etc.

Além desses brutais gastos militares, Bush cortou os impostos das grandes empresas. Essas medidas permitiram a recuperação econômica, mas o país passou a ter sucessivos déficits fiscais. Em 2001, o déficit foi 0,7%, chegando a 3,6% do PIB em 2004 (ou US$ 412 bilhões). O mesmo país que impõe planos de superávits fiscais em todo o mundo, apresenta déficits como esse.

Os EUA têm outro déficit, em conta corrente (que mede as trocas comerciais, serviços, etc), que chegou a US$ 665 bilhões, em 2004. A balança comercial (relação entre importação e exportação) foi parte fundamental deste rombo, com um déficit de US$ 617 bilhões de dólares.

Como se financiam os chamados “déficits gêmeos”? São cobertos por um fluxo de capitais que vêm de fora, que chega a US$ 2 bilhões por dia, e equivale a quase 70% do fluxo de capitais de todo o mundo. Pode-se dizer que o mundo inteiro financia a economia norte-americana (e suas agressões militares), em uma situação cada vez mais parasitária e artificial.

A expressão deste desequilíbrio crescente na economia mundial é a desvalorização progressiva do dólar. Desde 2002, a moeda norte-americana caiu cerca de 30% em relação ao euro (8% em 2004). Isto significa que o fluxo de capitais para os EUA, que garante a continuidade dessa ciranda, é cada vez menos rentável por significar investimentos em dólares. As nuvens acumulam-se no horizonte da economia imperialista. Essas contradições tendem a explodir na próxima crise cíclica, agravando-a em um nível superior a de 2001.

O Brasil é parte do crescimento internacional… e da crise


O crescimento atual da economia brasileira (5,2%, em 2004) é parte desse ciclo internacional. Toda a propaganda de Lula, ressaltando os “acertos” de seu governo, não passa de conversa fiada. Na América Latina, houve crescimento tanto nos governos de direita (como o Peru, com 4,8%, ou o México com 4,1%) como nos de “centro-esquerda” (como a Venezuela, com 18%, e a Argentina, com 8,2%).
No entanto, como parte deste ciclo, uma crise já aponta no horizonte. Basta ver os índices para sentir a tendência geral da economia brasileira.

Uma parte importante das exportações brasileiras (42% do superávit comercial) deve-se ao agronegócio, como a soja. Esse setor está enfrentando uma queda no preço das matérias-primas no mercado mundial, com previsão de queda de renda entre 12% e 16% neste ano.

O próprio governo diz que os números de 2004 não se repetirão em 2005, embora ainda aponte para 3,5% de crescimento. Está claro que uma nova crise já se anuncia, e que o governo fará de tudo para que ela não chegue antes das eleições de 2006.

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