Secretaria de Negras e Negros do PSTU
Secretaria Nacional de Negras e Negros do PSTU
Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por vários protestos por conta da divulgação de transcrições de conversas telefônicas, autorizadas pela justiça italiana, do jogador Robinho[1] condenado por estupro de uma jovem de 23 anos, na Itália, em 2013.
Nessas conversas com seus amigos, Robinho debocha da vítima, agradece por não haver câmeras filmando o fato e dá provas de que participou do estupro coletivo ao admitir que pôs seu pênis na boca da jovem. Em uma das conversas, Robinho ri do caso e diz “não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu”[2].
Entendendo o caso
Em 2017, Robinho foi condenado, em primeira instância, a nove anos de prisão pela nona seção da corte de Milão por participar do estupro coletivo de uma jovem imigrante albanesa, de 23 anos, em janeiro de 2013. Na época, Robinho jogava pelo Milan e os outros quatro acusados pelo estupro coletivo eram brasileiros e alguns eram seus amigos.
Quando Robinho foi condenado, ele já estava no Brasil jogando pelo Atlético-MG. Na época, torcedoras protestaram contra o silêncio do clube e por manter o contrato de um jogador condenado por um crime tão brutal[3]. Porém, nestes três anos, Robinho continuou jogando futebol e ganhando salários astronômicos no Atlético-MG e depois em dois clubes na Turquia, até agosto deste ano, quando retornou ao Brasil.
Robinho havia sido contratado pelo Santos FC há poucos dias, também sob protestos de torcedoras do Santos e de outros clubes paulistas como o São Paulo. Tanto o Santos como Robinho encararam os protestos com indiferença, mas após a divulgação das conversas abjetas do jogador, a coisa mudou. A indiferença inicial de ambos não resistiu à tamanha pressão nas redes sociais e ao rompimento dos contratos dos principais patrocinadores do clube de futebol que resolveram pular do barco, temendo a exposição negativa de suas marcas.
Robinho, um bolsonarista que se diz perseguido
Robinho estava confiante. Minimizava os protestos por seu crime acreditando que – assim como antes – seguiria jogando futebol sem ser incomodado. Em áudio enviado no WhatsApp o jogador disse que “deus estava no controle”, que a Globo era “uma emissora do demônio” que estava perseguindo-o assim como fez com Jair Bolsonaro nas eleições. Robinho ainda prometeu que comemoraria um gol com uma camisa em homenagem à Bolsonaro.
Se o vazamento desse áudio foi intencional, pode sinalizar que Robinho pede apoio à horda bolsonarista para defendê-lo nas redes sociais.
Pressionado, o Santos FC suspendeu o contrato com Robinho que, isolado, resolveu se pronunciar em entrevista para o UOL. Cercado por seus advogados, Robinho evitou responder as perguntas feitas pelo repórter[4], e se esquivou dizendo que não se lembrava do que havia dito na ocasião, que as frases estavam “fora de contexto” e que o processo estava “em segredo de justiça”.
Em determinado momento da entrevista Robinho, disse que era vítima do movimento feminista: “infelizmente, existe esse movimento feminista que não sei o que; muitas mulheres às vezes nem são mulheres…”. Ou seja, condenado por estuprar, com seus amigos, uma jovem imigrante albanesa alcoolizada, Robinho diz que ele é vítima das feministas e ainda por cima faz uma insinuação transfóbica, ao dizer que muitas dessas mulheres “nem são mulheres”.
Negros que oprimem e exploram não são nossos irmãos
Como muitos jogadores, Robinho veio de uma família muito pobre. Mas, hoje, ele é um jogador multimilionário sem nenhuma relação com os pobres e negros da classe trabalhadora.
Além disso, ele faz questão de apoiar um governo abertamente racista, machista e LGBTfóbico como o de Bolsonaro. Um governo que aproveita a pandemia da COVID-19 para retirar direitos dos trabalhadores e que não dá a mínima para as mais de 153 mil mortes pelo vírus no país.
Por tudo que dissemos até aqui, Robinho é indefensável. Inclusive porque, como é costume nesses casos, o jogador deve ter contratado um time de advogados caríssimos para defendê-lo.
Sabemos também que – assim como no Brasil – a justiça italiana é uma justiça burguesa que favorece os ricos e poderosos e que, por isso, Robinho pode ser inocentado numa segunda ou terceira instância. Porém, exigimos da justiça italiana a sua condenação, bem como reparação à jovem albanesa vítima do estupro e nos solidarizamos com todas as mulheres vítimas de tal violência, seja, no Brasil, seja na Itália ou em qualquer canto do mundo.
E finalizamos dizendo que a luta internacional das mulheres trabalhadoras também é nossa luta. Afinal, a maior a parte das mulheres deste mundo é composta por mulheres negras, árabes, asiáticas e indígenas e, por causa das guerras, pandemias e misérias causadas pelo capitalismo, boa parte dessas mulheres são imigrantes. Chega de machismo! Chega de LGBTfobia! Chega de racismo! Morte ao capitalismo!
Negros
Negros que escravizam
E vendem negros na África
Não são meus irmãos
Negros senhores na América
A serviço do capital
Não são meus irmãos
Negros opressores
Em qualquer parte do mundo
Não são meus irmãos
Só os negros oprimidos
Escravizados
Em luta por liberdade
São meus irmãos
Para estes tenho um poema
Grande como o Nilo
(Solano Trindade)
[1]Ver: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2020/10/16/robinho-diz-em-gravacao-estou-rindo-e-nem-ai-porque-ela-estava-bebada.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR0BxaFUZ3FeCaeQuYAOdI5qsnydAN—vjlYgy8IZW_mMpjzLvg-KnNIQWg&cmpid=copiaecola. Acesso em: 18 mar. 2020.
[2]Ver: https://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/futebol/times/santos/noticia/as-gravacoes-do-caso-robinho-na-justica-italiana-a-mulher-estava-completamente-bebada.ghtml. Acesso em: 18 mar. 2020.
[3]Ver: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/05/deportes/1512495028_735547.html. Acesso em: 18 mar. 2020.
[4]Ver: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2020/10/17/infelizmente-essas-feministas-as-vozes-que-ecoam-na-cabeca-de-robinho.htm. Acesso em: 18 out. 2020.