O PT afirma que inverteu as prioridades do neoliberalismo e que o crescimento proporcionou distribuição de renda. No Brasil real é assim mesmo?

Os frutos do crescimento econômico nos últimos 8 anos não foram repartidos de forma igualitária. Os empresários levaram muito mais do que os trabalhadores.
A prova disso é que o Brasil, sétimo país do mundo em produção de riquezas, é o 85ª na distribuição de renda, segundo o ranking Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Não é possível mudar o Brasil de braços dados com os ricos, junto com os países imperialistas, as multinacionais e o capital internacional. Lula falou que era “barato e fácil cuidar dos pobres”. Estendeu o alcance do Bolsa Família, ampliou o crédito e aumentou o salário mínimo. Tudo isso somado com um forte crescimento econômico mundial entre 2002 e 2008, deu uma sensação de desenvolvimento e inclusão social.
Mas, ao optar por governar com os ricos, teve que entregar muito mais para eles, impedindo uma verdadeira distribuição de renda no país. O governo gastou em 2012 mais de 40 vezes com o pagamento da dívida aos banqueiros do que gastou com o Bolsa Família.
 

Uma das piores rendas do mundo

A cartilha do PT tenta mostrar que a distribuição de renda no país avançou muito. Para isso, faz um malabarismo com os números.
Existem dois índices que medem a desigualdade nos países. O índice de Gini vai de zero a um. Quanto mais próximo de 1 maior é a desigualdade, quando mais próximo de zero maior a igualdade. No gráfico abaixo, é possível ver que o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo.
Os pequenos ganhos no governo Lula não alcançam os índices que tínhamos em 1960. Ainda hoje, dos 187 países analisados, o Brasil só ganha de 12 países, entre os quais Angola, Bolívia, Haiti e Namíbia. Em 1872, ainda sob o regime da escravidão, o índice de Gini era estimado em 56,0. Passados 140 anos, o índice está em 53,9.
Porém, o índice de Gini é insuficiente para analisar a distribuição de renda no país. Isso porque a distribuição da renda entre capital e trabalho não são avaliados por essa pesquisa. Abaixo, apresentamos (em azul) outro índice que compara a remuneração dos trabalhadores com a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas do país. Ele mostra que, apesar de haver uma pequena melhoria no governo Lula, a parte dos trabalhadores na renda nacional é menor do que era nos anos 1970 e 1980 .  
Nos debates eleitorais de 1989, Lula dizia: “Para o conjunto da classe trabalhadora começar a ganhar um pouco mais, é preciso que aqueles que ganharam muito durante os últimos 30 anos, deixem de ganhar o que estão ganhando para distribuir em forma de salário.” Já no governo, fez outra coisa e não atacou os lucros dos patrões.
Analisando a distribuição funcional da renda vemos que a parte que coube aos trabalhadores correspondia a 49%, em 1995, e estava em 50%, em 2008. A pequena melhoria que houve durante o governo Lula retornou aos índices que tínhamos em 1995, auge do neoliberalismo. Em 1995 os empresários arrancaram 36% da renda, mas em 2008 chegaram a 40%.

“Epresários ganharam como nunca”

Os governos petistas não atacaram os lucros dos patrões, como Lula defendia em 1989. Em uma entrevista em 2007, Lula expressou sua satisfação: “Estou satisfeito porque a minha relação com o empresariado brasileiro é boa. Tenho consciência de que estão ganhando dinheiro no meu governo como nunca”.
E, de fato, Lula fala a verdade. Entre 2003 e 2011, as 500 maiores empresas do país faturaram R$ 15,3 trilhões.
A resposta do governo em relação à crise mundial favoreceu ainda mais os patrões com a desoneração da folha de pagamento, a isenção de impostos etc. Segundo a Receita Federal, as desonerações e renúncias fiscais geraram uma perda de R$ 46,4 bilhões aos cofres públicos em 2012. Neste ano, as desonerações vão atingir
R$ 53 bilhões, quase metade dos lucros das 325 maiores empresas do Brasil.
Os patrões reclamam do “custo Brasil”, se referindo aos salários que seriam muito altos. Uma piada de mau gosto, pois no Brasil, a média do salário pago por hora na indústria é de US$ 5,41 dólares. Na Alemanha custa US$ 25,80 e nos EUA US$ 23,30 dólares, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

 

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