Corrupção e frustração com Lula provocam mudança na situação políticaExiste uma nova conjuntura política no país. O governo Lula vive a sua maior crise, sacudido por denúncias de corrupção. Todos os dias novas denúncias-bomba vêm a público, colocando o governo do PT cada vez mais na defensiva. É evidente que o governo patrocinou um amplo esquema de corrupção em benefício próprio, além de acobertar a corrupção dos partidos burgueses aliados (PTB, PMDB, PTB, PP). Todas as manobras do governo para evitar a CPI se esfarelaram, evidenciando o grau de crise e paralisia reinante no Planalto.

Não existe luz no fim do túnel para a crise, ao menos de imediato. A denúncia de Roberto Jefferson, da mesada paga aos deputados, teve um efeito demolidor, porque se trata do presidente do PTB, um dos partidos aliados do governo. Esse personagem é um corrupto de longa data, e não por acaso foi líder da tropa de choque do governo Collor. O simples fato de ser parte da sustentação do governo Lula mostra o nível que chegou o PT no poder. Jefferson, seguramente, terá muito mais o que contar. Além disso, seguramente virão agora mais denúncias em outras áreas com o mesmo conteúdo, colocando o governo nas cordas.

O governo teve o apoio da CUT, da UNE, do PCdoB e do MST, para tentar demonstrar que se tratava apenas de um ataque “da direita”. O PCdoB chegou a publicar em sua página na internet um artigo em que detalhava com orgulho como Aldo Rebelo estava cumprindo bem sua tarefa de líder do governo, em campanha contra a CPI. A CUT, que denunciava a corrupção do governo FHC, mais uma vez, saiu em defesa do governo Lula. Infelizmente a direção do MST também se integrou às manobras do governo, e seus dirigentes ligaram para parlamentares para que retirassem a assinatura do requerimento da CPI.

O governo deu um passo a mais na corrupção, comprando parlamentares com R$ 400 milhões na liberação de emendas, para evitar a CPI. Prometeu uma nova reforma ministerial, para segurar os partidos burgueses “aliados”. Mesmo assim, até o momento, não teve êxito, e a CPI pode ser instalada.

Entre as massas, as denúncias de corrupção parecem ter sido a gota d’água que fez o copo transbordar. O que vinha se acumulando de experiências negativas com a manutenção da política econômica neoliberal, a continuidade do desemprego e o arrocho salarial, as ameaças da reforma Sindical e Trabalhista, se precipitaram com as graves denúncias de corrupção.

Se Lula seguia FHC no modelo econômico, ainda sobrava a defesa da “ética na política”. Não sobra mais. Segundo o Datafolha, 65% do povo acredita que seu governo é corrupto. Um sentimento de indignação vai tomando conta do país, e tende a crescer no próximo período, com a crise em Brasília. Uma ruptura de amplos setores dos trabalhadores com o governo está em curso.

Não se trata só do governo, mas do regime democrático burguês. O naufrágio do PT no mar de lama da corrupção leva amplos setores do povo a aumentarem sua desconfiança dos “políticos” em sua totalidade. Nem todo mundo esquece que a oposição burguesa fez exatamente a mesma coisa, usou os métodos corruptos, tentou da mesma maneira abafar CPIs. Esta é a democracia dos ricos e corruptos, cada vez mais ricos e mais corruptos.

As más notícias para o governo não param aí. Uma boa parte da propaganda governista está apoiada no crescimento econômico. Mais precisamente na promessa de que o crescimento econômico atual vai resolver problemas como o desemprego e o arrocho salarial. Duas notícias ajudam a enterrar essa perspectiva: a primeira é a evolução do PIB no primeiro trimestre do ano (em relação ao último trimestre de 2004), com apenas 0,3% de crescimento, já com a indústria apresentando uma retração de 1%.

Existe claramente uma desaceleração da economia, que pode levar a uma crise aberta já no ano que vem. A segunda é a pesquisa que indica que as ilusões das massas no crescimento econômico estão vindo abaixo. Os que acham que a economia vai melhorar baixaram de 48%, em dezembro, para 35% hoje. Os que acham que o desemprego vai aumentar já são bem mais (48%) dos que tem esperanças de que vá diminuir (23%). Ou seja, a economia já está estancando, e as ilusões das massas estão acabando.

O governo apóia-se também na direção da CUT para desmobilizar as lutas salariais dos trabalhadores. Outra má notícia para o governo – parte dessa nova conjuntura é o surgimento de greves em todo o país, lutas nacionais como a dos trabalhadores da Previdência, ou de funcionários municipais de muitas e muitas cidades, e outras categorias. Lutas de caráter popular explodiram, como em Florianópolis (SC), contra o aumento das passagens de ônibus, que se unificaram com as greves do funcionalismo e motoristas, e enfrentaram a dura repressão da polícia.

Não temos ainda um ascenso como na Bolívia, que acaba de derrubar o segundo governo em menos de dois anos. Mas os exemplos da América Latina servem para mostrar o caminho.

Uma crise política muito séria no governo, o estancamento da economia, a ampliação na ruptura das massas com o governo e várias greves ocorrendo no país mudaram a situação política. Muitos ativistas se perguntam o que fazer agora. Nós apontamos para uma saída, que combina a luta das massas e a mudança das direções.

Para se enfrentar com o governo, é preciso romper com as direções governistas do movimento. É preciso romper com a CUT e construir a Conlutas. Chamamos a esquerda da CUT a romper com esta central, cuja direção não se envergonha de tentar abafar escandalosos casos de corrupção. As oposições sindicais, que defendem a ruptura com a CUT, têm uma enorme importância neste momento.

É preciso romper com a UNE governista, que vai querer em seu congresso apoiar a reforma Universitária do governo e defender Lula.

Precisamos apoiar as categorias em greve, porque cada vitória de uma categoria será a vitória de todos, e unificar as mobilizações, seguindo o exemplo de Florianópolis. Também apontar para uma mobilização política unificada no segundo semestre em Brasília, que está sendo convocada pela Conlutas e a Frente Contra a Reforma Sindical, que agora pode ganhar um novo peso e caráter, como uma resposta, além da reforma Sindical, também à crise política que deve se estender com a provável CPI.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 220
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