Quando este jornal chegar às mãos dos nossos leitores estaremos à pouco mais de uma semana das eleições.
José Serra, Ciro Gomes, Antony Garotinho e, inclusive, Lula em suas campanhas e programas eleitorais de rádio e televisão prometeram mundos e fundos para melhorar a vida dos trabalhadores e do povo. Como pretendem honrar o acordo com o FMI e o pagamento da dívida externa e interna aos grandes bancos, falam que vão garantir o cumprimento de suas promessas de gerar, por exemplo, oito ou dez milhões de empregos, apostando num crescimento econômico da ordem de 4% a 6% ao ano. Isto quando a dívida pública está prestes a explodir – já abocanha mais de 60% de tudo aquilo que o país produz num ano – e a economia da principal potência do planeta, os Estados Unidos, dá sinais de retrocesso.
O Império ataca novamente
Os quatro principais candidatos à presidência da República parecem que vivem noutro planeta ou, no mínimo, noutro país. Omitem vergonhosamente, como diria Nelson Rodrigues, a vida como ela é. Seus programas eleitorais na TV não deixam nada a dever à “Alice no país das maravilhas”.
Contrariando a ficção do horário eleitoral gratuito, no planeta Terra, a economia norte-americana vai de mal a pior. Um ano depois dos atentados de 11 de setembro, após o estouro da bolha especulativa das ações das empresas de informática e os escândalos da falsificação dos lucros das grandes corporações, vem à tona a verdadeira raiz da crise: a produção industrial retrocede e o país está de fato numa recessão. Por outro lado, a economia européia, a alemã em particular, mantém um crescimento econômico pífio que beira a estagnação e o Japão há mais de uma década patina numa recessão crônica.
Enquanto isso, George W. Bush, prepara uma nova guerra contra o Iraque. As grandes empresas do petróleo e a indústria armamentista dos Estados Unidos mais uma vez agradecem. Ao governo norte-americano lhe são muito mais caros os interesses dos magnatas do petróleo e das armas, do que a “defesa nacional” contra possíveis ataques terroristas. A “guerra preventiva” preparada contra o Iraque desmascara toda a mentira da política externa norte-americana.
O Brasil real que você não vê no horário político
No Brasil , o dólar atingiu a maior cotação dos últimos oito anos: ultrapassou a casa dos 3,5 reais. O risco país ultrapassou os dois mil pontos e a bolsa de valores de São Paulo vem operando em baixa há mais de uma semana. E isso se dá não porque o candidato preferencial do FMI e da Fiesp, José Serra, não decola nas pesquisas ou porque, mais recentemente, se ventila a hipótese de Lula vencer as eleições no primeiro turno.
As atuais turbulências no mercado financeiro se devem, em primeiro lugar, à crise da economia norte-americana e, em segundo lugar, à desconfiança do mercado de que o Brasil possa seguir remunerando os capitais especulativos com as taxas de juros mais altas do mundo.
Enquanto isso, o desemprego bate novo recorde: Somente no Estado de São Paulo são quatro milhões de desempregados. O custo de vida sobe, puxado pela alta do dólar que eleva a inflação, que é impulsionada por sua vez pelo próprio governo, que aumenta sucessivamente as tarifas públicas.
Seja lá quem for o presidente eleito no ano que vem, ele se dependerá com um sem número de batatas quente herdadas dos anos de “estabilidade” monetária de FHC. As “sólidas” propostas de geração de oito ou dez milhões de empregos se desmancharão no ar, com a constatação de que o país não crescerá nem 2 % ao ano e que o governo não terá dinheiro para investir nas áreas sociais porque o Orçamento da União terá que “honrar” os itens do acordo com o FMI. O conto de fadas do horário eleitoral gratuito se transformará, no primeiro dia do novo governo, num pesadelo bem real.
Voto útil é contra burguês
No 6 de outubro, cerca de cem milhões de brasileiros irão às urnas. Acreditamos que, nestas eleições, se refletirá de maneira distorcida a indignação dos trabalhadores e do povo contra o modelo neoliberal e o governo FHC, capacho do FMI e dos grandes banqueiros durante os últimos oito anos. Os mais de 10 milhões de votos do plebiscito popular contra a Alca, frutos de uma grande campanha que mobilizou dezenas de milhares de ativistas dos movimentos sociais, confirmam este estado de espírito das massas.
Diferente de 1998, quando FHC se reelegeu ainda no primeiro turno, José Serra, não somente não consegue ultrapassar o patamar de 20% das intenções de voto, como é o candidato com maior rejeição: 40% dos entrevistados nas últimas pesquisas não votariam em Serra. Isto se dá porque ele é o candidato de um governo que está sendo repudiado pela maioria da população.
Lula, o candidato do maior partido da classe trabalhadora deste país, ao invés de corresponder a este sentimento de repúdio e expectativa de mudanças, tem se preocupado em acalmar o mercado financeiro. Mas não se pode servir a dois senhores: ou se governa para os banqueiros ou para os trabalhadores. Ou se honra os contratos com a dívida externa ou se gera emprego. Ou se mantém o superávit primário ou se investe massivamente nas áreas sociais. Ou se realiza novas privatizações ou se reestatiza as empresas privatizadas. Ou se defende o grande latifúndio ou se faz a reforma agrária. Enfim, ou se subordina de joelhos aos Estados Unidos ou se rompe com o FMI e a Alca.
Diante do crescimento de Lula nas pesquisas de intenção de voto e da hipótese da vitória do PT no primeiro turno, muitos companheiros honestos nos perguntam se não retiraríamos a candidatura de Zé Maria para facilitar a vitória de Lula. Categoricamente respondemos: não retiraríamos. Quando lançamos a pré-candidatura de Zé Maria no final de 2001, dizíamos que não estávamos dispostos a dar um cheque em branco a Lula e ao PT. Agora que o cheque já foi preenchido e endossado pelo próprio Lula honrando o acordo com o FMI, a candidatura de Zé Maria se faz mais necessária do que nunca.
O voto útil nestas eleições é o voto naqueles que tiveram a coragem de defender a ruptura com o FMI e levantaram bem alto a bandeira da luta contra a Alca e o não pagamento da dívida externa. No dia 6 de outubro, vote contra a Alca outra vez, vote 16.
Post author
Publication Date