Alca pode intensificar dominação cultural, que é parte dos planos imperialistasO rapaz na fila do caixa do McDonald’s, ao fazer o pedido, gagueja: “um McFish com Cheddar McMelt”. A moça do caixa grita ao garoto da chapa: “salta um filé!”. Alguns chamam esse fenômeno tão recorrente de “globalização”. As fronteiras do mundo teriam se aberto, criando uma inter-relação entre todas as culturas. Isso mascara, na verdade, uma imposição cultural que avança a cada dia, silenciosamente, como parte do avanço imperialista sobre o mundo.

A cultura imposta pelo imperialismo não está presente apenas nos termos em inglês que invadem o vocabulário, mas atinge as pessoas em cada detalhe de suas vidas, pois é a imposição de todo um modo de vida. É eficiente como as bombas, mas está disfarçada de “democracia”, de “liberdade” e de “globalização”.

O modo de vida

Por cultura, entende-se o modo de vida de uma sociedade, o que envolve não somente as artes, mas a religião, os costumes e as regras sociais, que também fazem parte dos mecanismos de invasão cultural.

O McDonald’s não é somente uma marca multinacional que traz consigo o vocabulário estrangeiro. É também uma cultura alimentar imposta no cotidiano de milhares de pessoas.

O modelo norte-americano de vida chega também pela televisão, cinemas, moda, que ditam o que as pessoas devem vestir, o que devem calçar, com quem devem se parecer. Indicam o modelo de beleza a ser perseguido pelas mulheres, o comportamento conformista que as pessoas devem ter diante da vida.

Os reality shows escancaram não apenas as intimidades, mas os modelos de alienação, de individualismos. Como se não bastasse o Big Brother e suas derivações, o mais recente sucesso importado para a televisão brasileira é O Aprendiz.

O programa da Record é uma versão do reality show recordista de audiência nos EUA. Lá, a apresentação é do bilionário Donald Trump. No Brasil, o empresário Roberto Justus representa a si próprio e escolherá um dentre 16 candidatos para empregar em uma de suas empresas. Os outros 15, ele demitirá ao longo do programa.

O programa, além de expor as veias do individualismo, da competitividade, das regras selvagens do sistema capitalista, traz ao telespectador os valores que ele deve seguir na sociedade desumanizada e alienada em que vive. Justus e Trump são os patrões que têm todo o poder sobre os outros, que decidem quem fica e quem sai e definem as regras. Os competidores representam tudo o que devem fazer aqueles que se propuserem e puderem entrar no sistema: uma briga selvagem e individualista.

A arte e os lucros

A arte, no capitalismo, é tratada como mercadoria, assim como tudo o que o ser humano criou. Tudo pode gerar lucros, pode ser colocado numa prateleira e num comercial de televisão. Tudo (e também a arte) obedece às leis de mercado e faz parte dos planos imperialistas.

Os filmes em cartaz nos cinemas brasileiros são, em sua esmagadora maioria, produtos enlatados de Hollywood. A invasão cultural imperialista suplanta a produção cultural brasileira e impõe padrões estéticos comerciais. Não é o fato de eles serem norte-americanos, porém, que caracteriza a invasão cultural.

O cinema hollywoodiano não impõe somente os padrões estéticos da arte. As telonas também difundem o modo de vida norte-americano. Os papéis sociais, o comportamento, os estereótipos do mocinho, daquele que é pobre e se torna rico pelo seu esforço, todos os supostos personagens fictícios são modelos sociais a serem seguidos, propagando o american way of life (o modo de vida norte-americano) e impondo-o ao planeta, reproduzindo padrões de comportamento. A questão é que o imperialismo usa a arte como arma para impor ao mundo sua visão da sociedade.

O que se questiona, portanto, não é a participação da cultura norte-americana na cultura brasileira. É inegável e de grande importância as contribuições na música, seja na Bossa Nova, que tem influência do jazz, ou no rap, que influencia toda uma cultura de periferia. Tendo em vista um conceito de cultura que englobe todo modo de vida, a invasão cultural dá-se quando se usa das artes para impor um modo de vida.

A arte, como parte da cultura na sociedade, deve ser baseada na independência e também na liberdade “antropofágica” reivindicada pelos modernistas, para ingerir o que vem de fora e, a partir daí, criar o novo e potencialmente revolucionário.

Como já dizia o manifesto da Federação por uma Arte Independente e Revolucionária (Fiari), escrito por Leon Trotsky e pelo artista surrealista André Breton, em 1938, “a independência da arte, para a revolução, a revolução para a liberdade definitiva da arte”.
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