Enquanto Lula defende os interesses dos usineiros de álcool em plena assembléia da ONU, em Nova Iorque, no Brasil a reforma agrária continua parada enquanto centenas de milhares de sem-terras permanecem acampados em beiras de estradas. Tal situação provocou a mais recente onda de luta dos sem-terras.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terras desencadeou no último dia 24 uma série de mobilizações em diversas regiões em defesa da reforma Agrária. A jornada de lutas inclui ocupações dos prédios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em vários estados, bloqueios de estradas, ocupações de terras e manifestações públicas.

Os trabalhadores sem-terras ocuparam as sedes do Incra em vários estados como São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. Em São Paulo, cerca de mil ativistas do movimento realizaram uma manifestação na Assembléia Legislativa contra o projeto do governador José Serra (PSDB) que, segundo o MST, “regulariza a grilagem de terras no Pontal do Paranapanema”.

O movimento reivindica o assentamento de 150 mil famílias acampadas em todo o país. Só no estado paulista, mais de 3 mil famílias esperam ser assentadas enquanto permanecem acampadas precariamente nas beiras de estradas. O sem-terras exigem ainda crédito para habitação, produção, assistência técnica, educação e saúde, além da atualização do índice de produtividade, antiga promessa esquecida pelo governo.

O MST também reivindica a mudança da política econômica neoliberal do governo Lula, que privilegia banqueiros e latifundiários.

Ameaças e repressão
Além do governo, os trabalhadores sem-terras enfrentam também ataques e ameaças de grileiros e latifundiários. Em São Paulo, os sem-terras ocuparam o Incra e a Secretaria de Justiça, sendo duramente reprimidos. A ação deixou vários ativistas feridos. Em Alagoas, grileiros ameaçam de morte trabalhadores de uma ocupação do município de Piranhas. Cerca de 177 famílias ocupam uma área grilada de 1.000 hectares.

No Rio Grande do Sul, o MST promove uma marcha pelo estado e enfrenta também a violência dos latifundiários. A marcha já foi atingida várias vezes por fogos de artifício lançados contra os trabalhadores por capangas de ruralistas, sob a conivência da Brigada Militar. A polícia do estado, ao invés de prender os capangas e ruralistas, tentam acabar com a marcha.

O subcomandante-geral da Brigada, o coronel Paulo Roberto Mendes, encaminhou relatório ao Ministério Público Estadual pedindo a proibição da marcha. “Estou fazendo este pedido para que a marcha seja parada pela força da lei, antes que seja parada pela força da bala”, explicou o coronel, numa frase que pode servir como uma clara ameaça ao movimento.

Reforma agrária paralisada
Enquanto a reforma agrária não avança e a miséria no campo só se agrava, o governo Lula privilegia ainda mais os latifundiários. Para se ter uma idéia, o governo repassou R$ 50 bilhões para os fazendeiros custearem a safra 2006/2007. O MST denuncia que, para a agricultura camponesa, a linha de crédito disponibilizada através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar chegou a apenas R$ 10 bilhões. Para a safra 2007/2008, o agronegócio terá R$ 58 bilhões, enquanto o Pronaf apenas R$ 12 bilhões.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que também comanda a política de biodiesel do governo Lula, classificou a jornada do MST como uma “agenda da violência”. “Substituir a agenda da produção pela da violência, da ocupação do prédio público, atrapalha a reforma agrária”, declarou ao jornal Folha de S. Paulo.