No final de junho, o governo Dilma autorizou o início das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Os efeitos da construção do empreendimento, a maior obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já começam a ser sentidos pelos trabalhadores da região. Recentemente, cerca de 350 moradores de uma ocupação urbana na parte alta de Altamira (PA), que residiam no local há mais de 30 anos, foram violentamente expulsos pela polícia de suas casas, a mando da Eletronorte. A área onde habitavam está prevista para ser alagada.
Além disso, os preços dos alimentos e dos aluguéis disparam a cada dia, e a chegada de milhares de desempregados em busca de um emprego na construção da usina está inchando uma já precária estrutura urbana de serviços. E, isso tudo, com apenas um canteiro de obra em funcionamento. A expectativa é que a região de Atamira enfrente um crescimento demográfico de cerca de 100 mil pessoas. Qualquer semelhança com as obras da usina de Jirau e Santo Antônio (RO) não é mera coincidência. É a política do governo em favor do grande capital.
Povos indígenas
Dentre os impactos sociais, o que mais gera apreensão em todos é, sem dúvida, a questão indígena. Povos milenares, como os Juruna, os Xipó, os Curuara, os Paquiçamba e os Araras terão seus territórios alagados, serão expulsos de suas terras e perderão toda a base natural que dá sentido a sua cultura e permite o sustento de suas comunidades. No total, serão mais de 15 mil indígenas afetados caso a construção de Belo Monte se concretize.
O Painel de Especialistas e o Ministério Público (tanto o federal quanto o estadual), que são contrários à obra e travam uma batalha jurídica para barrar Belo Monte, alertaram o governo e a sociedade para os descalabros jurídicos e ambientais que estão sendo cometidos pelo governo Dilma através do IBAMA e da NESA (Norte Engenharia S.A – consórcio de empreiteiras responsável pela obra). O Painel denuncia o cumprimento parcial de somente três das 60 condicionantes que deveriam ser atendidas para iniciar as obras. Além disso, a vazão da volta grande do rio Xingu perderá 80% de sua capacidade em períodos de estiagem. Pelo menos 100 km da área do rio serão atingidos. Isso representará a morte de incontáveis espécies da fauna e da flora da região, muitas delas ainda desconhecidas.
Hidrelétricas por toda Amazônia
O projeto do governo e dos grandes empresários é transformar os rios da Amazônia em grandes barragens para gerar energia às empresas eletrointensivas. No total, são 182 hidrelétricas planejadas para toda a Amazônia. A energia que será gerada, caso Belo Monte seja construída, visará atender o centro-sul do país e os grandes empreendimentos na Amazônia, realizados pelas multinacionais, como as mineradoras Vale e a Alcoa. O objetivo do governo não é produzir energia para atender às necessidades da população, mas, sim, atender às empreiteiras que serão agraciadas com um total de 30 bilhões de reais para construir o “Belo Monstro”, que fornecerá energia quase que a preço de custo para as eletrointensivas.
Em função desse verdadeiro crime socioambiental, o movimento “Xingu Vivo para Sempre”, do qual faz parte o PSTU, está convocando para o dia 20 de agosto um Dia Mundial de Luta Contra Belo Monte, na esteira das diversas mobilizações que têm acontecido no mundo todo contra a construção da usina. Sheila Juruna, liderança indígena da comunidade de Boa Vista, no município de Altamira e integrante do comitê, já demonstrou, em recente entrevista concedida à grande imprensa da Amazônia, o tamanho da disposição de luta dos povos indígenas: “Não tem nenhuma maneira de se fazer Belo Monte. Ela não pode existir de maneira alguma. Não somos contra o desenvolvimento e nem contra a geração de energia, mas há outras formas de geração de energia. O que se gasta socialmente e ambientalmente com um empreendimento de barragem poderia ser transformado em pesquisas de outras fontes renováveis. Nós estamos prontos. Se o governo quer guerra, vai ter guerra” disse. Os protestos, no Brasil, fazem parte do calendário da jornada de lutas de 17 a 26 de agosto, convocada pela CSP – Conlutas e demais entidades.
Post author Willian Pessoa da Mota, de Belém
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