Corpo de Edson Luís é velado por estudantes, em 28 de março de 1968.
Redação

Estudante foi morto no dia 28 de março de 1968 e data virou Dia Nacional de Luta dos estudantes. Trinta e sete anos depois do assassinato, UNE abandona data e convoca marcha em apoio à reforma Universitária de Lula e do FMI, para o dia 6 de abril.1968. O mundo, em ebulição revolucionária, assiste aos protestos dos jovens contra a Guerra do Vietnã, o conservadorismo, o capitalismo e a Igreja. Na América Latina, Brasil e outros países vivem “anos de chumbo”, governados por ditaduras militares, apoiadas pelos EUA.

Neste cenário, há exatos 37 anos, no dia 28 de março, foi assassinado o estudante Edson Luís de Lima Souto, aos 16 anos, no Rio de Janeiro.

Naquele dia, os estudantes realizavam uma manifestação contra o aumento dos preços do restaurante Calabouço, criado para atender alunos carentes e custeado pelo governo. A Polícia Militar chegou ao local atirando, com ordem para “quebrar tudo” – desde 1964, a Lei Suplicy proibia mobilizações estudantis. Testemunhas contaram que Edson Luís, que nasceu no Pará e estudava no Rio de Janeiro, foi morto com um tiro à queima roupa. Diversos estudantes ficaram feridos e dois cidadãos foram atingidos pelos tiros “a esmo” dos policiais.

A morte de Edson Luís gerou uma onda de mobilizações e greves que se espalhou por todas as universidades do Rio de Janeiro e, logo, por todo o Brasil. Cerca de 50 mil pessoas acompanharam o enterro do estudante que se tornaria um mártir da luta contra a ditadura militar. A brutalidade e a inabilidade da polícia provocaram o repúdio até mesmo dos setores mais conservadores e da classe média. As cenas de violência, porém, estavam apenas começando.

Sete dias depois…
Dia 04 de abril, celebração da missa de sétimo dia da morte de Edson Luís. A polícia cerca e invade a Igreja de Nossa Senhora da Candelária. O repórter-fotográfico Alberto Jacob, que cobria a missa para o Jornal do Brasil, contou em entrevista à Revista de Comunicação, nº 39: “Ouvi o tropel e vi os soldados vindo com cassetetes e espadas por cima de todo mundo”. Na correria, ele fotografou uma senhora com uma criança debaixo das patas de um cavalo – a foto mereceria a primeira página do jornal e prêmios jornalísticos, mas foi destruída pelos policiais, que espancaram e prenderam o repórter.

Diante da violência dos policiais, os padres que celebravam a missa se uniram, formando uma corrente para proteger os estudantes de mais agressões. Zuenir Ventura conta o episódio, num trecho de seu livro 1968: O ano que não terminou: “Ainda paramentados com suas alvas, sobre as quais desciam as estolas roxas, porque era Quaresma, os 15 padres seguiam o vigário-geral, que por vezes tanto odiaram, nesse cortejo que caminhava lentamente em direção a um muro de cavalos indóceis e cavalarianos irascíveis“.

Bala, porrete… e marcha fúnebre
Nos meses seguintes, a revolta causada pelo assassinato de Edson Luís aumentou na mesma proporção que a repressão. Em junho, estudantes de todo o Brasil se mobilizaram contra a introdução da taxa de matrícula nas universidades federais. A gradativa transformação do ensino público em ensino pago era uma das exigências dos acordos firmados entre o governo militar e a Agência de Desenvolvimento dos Estados Unidos, o acordo MEC-USAID.

O projeto, a médio prazo, era transformar as universidades públicas em fundações – qualquer semelhança com a luta estudantil nos dias de hoje não é mera coincidência, há anos os organismos e nações imperialistas tentam implementar um modelo de ensino privatista e liberal, voltado para o mercado. Hoje, a luta dos movimentos estudantis é contra as mesmas propostas e o mesmo inimigo.

Ainda em junho, a repressão chegou ao limite. Depois de invadir uma assembléia clandestina, a polícia arrastou 400 estudantes para o campo do Botafogo, no Rio de Janeiro. Os relatos e imagens do que aconteceu naquele campo de futebol ainda impressionam: os soldados urinavam e batiam nos estudantes indefesos, deitados com as mãos na cabeça, e abusavam das jovens com cassetetes.

No dia seguinte, também no Rio, a população e os estudantes se enfrentaram com a polícia durante quase 10 horas. O episódio, conhecido como “Sexta-feira Sangrenta” deixou quatro mortos, vários baleados, espancados e presos. No dia 26, a Passeata dos Cem Mil tomou as ruas da capital, mas, por causa da grande adesão do povo, o governo decidiu não reprimir.

Em outubro, mais de 1.200 estudantes foram presos num congresso clandestino da UNE, em Ibiúna (SP) e um secundarista, José Guimarães, é morto em São Paulo, na chamada “Batalha da Rua Maria Antônia”, com grupos de ultradireita. Sem conseguir conter a revolta popular e estudantil, o general Costa e Silva aprofunda o regime criminoso e covarde que iria destruir a vida de milhares de jovens e ativistas brasileiros. No dia 13 de dezembro, ele edita o Ato Institucional nº 5 (AI-5), eliminando direitos individuais e permitindo ao poder executivo impor estado de sítio, fechar o Congresso, cassar mandatos políticos e aprofundar a censura.

Era uma “sexta-feira treze” e, como escreveu Zuenir Ventura, “nem a supertição podia adivinhar que aquele dia iria durar mais de uma década”.