Os dois primeiros dias de abril foram marcados por manifestações que balançaram Londres na véspera e no dia da reunião do G20. Ativistas antiglobalização, partidos, ONGs e sindicatos protagonizaram na capital inglesa uma retomada do movimento que contestou o neoliberalismo no final da década de 1990.

Na semana anterior, milhares já haviam ido às ruas na cidade na manifestação batizada de “put people first” (primeiro as pessoas), que reuniu em torno de 40 mil pessoas. Nesse mesmo dia, também ocorreram manifestações na França, na Itália e na Alemanha.

Queimem os banqueiros
Desta vez, as mobilizações atingiram os bancos no centro financeiro de Londres. Pichações com slogans anticapitalistas como “burn a banker” (“queime um banqueiro”) tomaram as paredes dos bancos, enquanto janelas e portas foram quebradas. Mais radicalizadas que os protestos da semana anterior, as manifestações sofreram dura repressão por parte da polícia britânica.

Relatos à imprensa dão conta da extrema violência utilizada pela polícia contra os manifestantes. Foram presos mais de 100 manifestantes. Um homem morreu em meio aos protestos. A causa não foi ainda esclarecida, mas a polícia alega ter sido um ataque cardíaco. O manifestante, identificado posteriormente como Ian Tomlinson, 47 anos, foi encontrado atirado ao chão dentro de um cordão policial, próximo ao Banco da Inglaterra, centro dos protestos.

A polícia utilizou uma tática contra as manifestações batizada de kettle. Através de cordões policiais, isolava milhares de manifestantes em pequenos espaços por horas a fio. Ninguém entrava ou saía. Para liberar, fichava e fotografa os ativistas. Tal tática, que transformou o centro de Londres numa região sitiada no dia 1º de abril, atentando contra a liberdade de ir e vir das pessoas, conseguiu diminuir as mobilizações no dia seguinte, mas não as impediu.

Os protestos em Londres retomavam ainda a Stop War Coalition, o movimento antiguerra contra as ocupações do Iraque e do Afeganistão.

Dias depois, foi a vez de a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) sentir a fúria dos manifestantes. A reunião de comemoração dos 60 anos da organização militar em Estrasburgo, na França, foi cercada por uma manifestação que reuniu 30 mil. Os atos eram contra a guerra e os EUA. Um hotel de luxo foi incendiado pelos ativistas. A polícia reprimiu violentamente o protesto. Na Alemanha, as manifestações contra a Otan reuniram quase 10 mil.

A radicalização das manifestações expressa não só a gravidade da crise, mas o momento político pelo qual passa a Europa, um continente em ebulição.

A França já passou por duas greves gerais, enquanto uma paralisação total acaba de balançar Grécia e Itália, países que também passam por uma série de mobilizações. Não só o neoliberalismo é contestado, mas o próprio capitalismo.

Post author Movimento antiglobalização volta mais radicalizado e mira o capitalismo
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