Carta é para enganar o povo brasileiroEnquanto parlamentares, governo e a oposição burguesa se afundam na lama, a CUT, a UNE e o MST lançam uma “Carta ao Povo Brasileiro”, numa atitude deliberada de confundir os trabalhadores.

Na carta, essas entidades afirmam que o governo estaria sob a ameaça de “golpe”, “patrocinado pelos setores conservadores e antidemocráticos do país” . E que: “De olho nas eleições de 2006, as elites iniciaram, através dos meios de comunicação uma campanha para desmoralizar o governo e o presidente Lula, visando enfraquecê-lo, para derrubá-lo ou obrigá-lo a aprofundar a atual política econômica e as reformas neoliberais, atendendo aos interesses do capital internacional”.

Na entrevista de lançamento da carta, tentaram de todas as maneiras desqualificar as denúncias de corrupção. “Isso aí (mensalão) é ‘forçação’ de barra, senão já teria vindo a público muito antes. É ‘forçação’ de barra da imprensa e de quem denunciou.”, disse João Pedro Stédile, da direção nacional do MST. Para Luis Marinho, presidente da CUT, o problema também não é tanto ético, mas de “logística”. “Não acredito na capacidade do PT em levantar esse valor”.

Para eles, dizer que o governo Lula é corrupto é fazer o jogo da direita e das elites, que estariam articulando um “golpe branco” contra o governo do PT.

Confusão deliberada
A “Carta ao Povo Brasileiro” procura criar confusão nos ativistas dos movimentos sociais e na população em geral. Apoiadas na justa desconfiança em relação a Roberto Jefferson – um corrupto confesso – , essas entidades dão uma cobertura de esquerda ao governo. Até explodirem as denúncias, Jefferson era, como disse o próprio Lula, um “parceiro” do governo. Se ainda continuava roubando nas estatais, foi porque o governo federal deixou.

O delírio da virada à esquerda
A Carta pretende gerar expectativas sobre uma possível “guinada à esquerda” do governo Lula: “Diante da atual crise, o governo Lula terá a opção de retomar o projeto pelo qual foi eleito, e que mobilizou a esperança de milhões de brasileiros e brasileiras.”

Depois desses dois anos e meio de governo, é absurda a expectativa de que ocorra uma guinada à esquerda no seu rumo. Criar expectativas de que o governo vai expulsar os partidos aliados de direita e compor uma maioria com os movimentos sociais é uma enorme farsa.

Para demonstrar isso, Lula, em vez de qualquer guinada a esquerda, está propondo uma reforma ministerial para diminuir o peso do PT e aumentar o do PMDB (ver página 5).

Elites não fazem golpes contra os seus próprios governos
Lula aprofundou o neoliberalismo e fez a festa dos banqueiros, dos latifundiários e grandes empresários, que nunca lucraram tanto como agora. Os números não mentem. No ano passado, os bancos tiveram lucros recordes da ordem de 18,4%.

Falar em “prioridade social” é piada de mal gosto. A reforma agrária não anda, as verbas da saúde e educação são cortadas para pagar a dívida externa, a miséria só aumentou.

Assim, as elites não teriam nenhum motivo para articular um “golpe” contra o governo. Pelo contrário, procuram preservá-lo, já que sua política econômica é amplamente favorável a eles.

Entreguismo domina a política externa
O que sobra então de progressivo neste governo que incomodaria as elites? Preocupado, João Pedro Stédile responde: “A crise instalada em Brasília é resultado de um movimento golpista que inclui motivações internacionais. Os interesses do capital internacional, representados pelo governo Bush e as transnacionais que atuam no Brasil, estão inquietos com a política externa do governo Lula, independente e de integração regional”.

Nem o próprio Stédile deve acreditar nisso. Todos sabem que a política externa do governo Lula é alinhada com os interesses de Washington.

Prova disso são os sucessivos elogios de Bush e Condolezza Rice à política do Itamaraty. Afinal, é Lula quem faz o serviço sujo do imperialismo no Haiti. Envia soldados brasileiros e lidera a ocupação do país. Leva recados de Bush para Chávez de modo a tentar “lulalizar” – domesticar – o presidente venezuelano. Faz o papel de bombeiro das crises políticas na América Latina, como as do Equador e da Bolívia. Em nenhum desses países, Lula apoiou a luta dos trabalhadores contra seus governos. Mas não teve dúvidas em apoiar até o fim os dois presidentes bolivianos derrubados pelas massas e concedeu um vergonhoso asilo político ao ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez.

Quais os verdadeiros motivos desse apoio de CUT, UNE e MST?
Criar expectativas em uma virada à esquerda do governo é, na verdade, uma tentativa deliberada de criar uma cortina de fumaça sobre a lama de corrupção que toma conta do Planalto. Por trás do discurso dessas entidades se oculta outro interesse: manter as suas vantagens materiais e financeiras, obtidas por meio do Estado burguês e do governo Lula.

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