“A determinação minha para o Comando da Aeronáutica é colocar ordem na casa, faça o que tiver que ser feito”. A frase é do presidente Lula, no seu programa de rádio semanal Café com o Presidente, reafirmando a “linha dura” contra os controladores de vôo “rebeldes” que insistem em se mobilizar por melhores salários e condições de trabalho. Lula fez um chamado direto às Forças Armadas para reprimir um movimento legítimo dos controladores de vôo, assumindo uma postura autoritária e ditatorial.

Na semana passada, Lula já havia autorizado a prisão dos controladores qualificados como “sabotadores”. Segundo informou a Folha Online, Lula disse ao brigadeiro Juniti Sato, comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), que “a Aeronáutica deve tomar todas as medidas que considerar adequadas para estabelecer o fluxo e a normalidade do tráfego aéreo”. A ordem de Lula autoriza, portanto a repressão aos controladores de vôo.

As primeiras prisões foram do presidente e do vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta), Carlos Henrique Trifílio e Moisés Almeida. Trifilo foi acusado de dar uma entrevista à rádio CBN no dia 14 sem autorização. Por se tratar de um militar, ele necessitaria de autorização de superiores para falar em público.

Na última sexta-feira, 22, a Aeronáutica afastou 14 militares controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo 1 (Cindacta-1), em Brasília. A acusação para os afastamentos de realização de “operação-padrão velada” e insubordinação ao comando militar.

“Nós precisamos manter o bom funcionamento dos aeroportos, a disciplina militar, porque pra isso eles entraram nas Forças Armadas, se formaram sargentos e, portanto, têm que respeitar a hierarquia e cumprir com a determinação que todos os outros brasileiros cumprem”, ditou Lula no programa de rádio, defendendo o controle militar no setor. “Nós detectamos que é preciso ter mais controladores, portanto nós temos que formar quantos controladores for necessário para que a gente tenha tranqüilidade de substituir pessoas que não queiram trabalhar, pessoas que queiram se aposentar, ou pessoas que queiram fazer movimento sem levar em conta a respeitabilidade que tem que ter com o povo brasileiro”, ameaçou.

Entenda a última crise
A última crise aérea teve início no Cindacta-1, em Brasília, no dia 19 de junho. Os controladores não estão em greve, mas passaram a cumprir padrões internacionais de segurança, com intervalos maiores entre um vôo e outro, para diminuir os riscos de segurança.

Desde o acidente com o boeing da Gol, que matou todos os passageiros que estavam no vôo, o governo tem responsabilizado os controladores pelas falhas. Há, ainda, um déficit de pessoal no setor que lhes impõe uma sobrecarga de trabalho. Os controladores apontam problemas técnicos, mas não são ouvidos.

Os controladores de vôo não podem dar entrevistas sem autorização dos seus superiores militares. Por isso, o que tem sido veiculado na imprensa é a versão do alto comando da aeronáutica e do governo.

Esta última operação-padrão iniciou por conta de problemas técnicos nos monitores, na terça-feira, 19. Segundo os controladores, as imagens não estavam nítidas nas telas. Na quarta, uma pane no sistema de comunicação da Embratel. Acrescentando a falta de pessoal, agravada pelos afastamentos, o resultado foram atrasos que chegaram, em média, a mais de 30% dos vôos e cancelamentos de quase 10%, segundo a Infraero.

Em nota, a Febracta esclarece que “os atrasos e cancelamentos de vôos no dia de hoje [19/6/2007], nada têm a ver com a chamada ‘operação-padrão´, atribuída aos controladores de tráfego aéreo. O que vem ocorrendo no Cindacta I é o desgaste natural dos equipamentos que estão em uso além de sua vida útil”. A nota informa, ainda, que “visando tão somente prestar um serviço seguro e ordenado, pilares do desempenho da função dos controladores de tráfego aéreo, é que foram adotadas medidas restritivas ao tráfego aéreo, pois não podemos colocar em risco a vida dos passageiros”.

A conclusão que se pode tirar desse episódio é que o governo e o alto comando das FAB estão punindo os controladores de vôo por não atuarem em situação de risco. Uma solução fácil para Lula, ao invés de “gastar dinheiro” com contratação e treinamento de pessoal, melhoria no sistema de controle de vôo e aumento dos salários, pressiona os controladores a trabalharem mais e em condições questionáveis.

A única solução para esse impasse, entretanto, é atender às reivindicações da categoria e desmilitarizar o setor, garantindo a livre organização da categoria. Quanto aos controladores, já está mais que provado que não podem ter nenhuma confiança nesse governo.

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