O ministro do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, concedeu habeas corpus ao empresário Zuleido Veras, dono da empreiteira Gautama, na noite desta terça-feira, dia 29. Zuleido é acusado de chefiar o mega-esquema de fraude em licitação pública e estava preso desde o último dia 17. O ministro também concedeu liberdade a quatro funcionários da empreiteira presos na operação.

O empreiteiro havia se recusado a prestar depoimento ao Superior Tribunal de Justiça no dia 26. Para o ministro do STF, no entanto, não haveria razão para a manutenção da prisão preventiva. No despacho que determinou a soltura dos presos, Gilmar Mendes faz uma ressalva ponderada sobre o perigo de um “Estado Policial”, fazendo eco às recentes críticas do governo contra a atuação da Polícia Federal. “É a boa aplicação dos direitos fundamentais de caráter processual – aqui merece destaque a proteção judicial efetiva – que permite distinguir o Estado de Direito e o Estado Policial”, afirmou.

Com isso, nenhum dos 48 detidos pela operação deve permanecer preso. O mais recente escândalo de corrupção uniu governistas e oposição de direita na defesa no parlamento. Juntos e sob o comando de Lula, tentaram desmoralizar as ações da Polícia Federal, classificando como “exagero” as investigações e prisões efetuadas contra o dono da Gautama e uma série de políticos da base do governo e da oposição.

A cadeia de corrupção generalizada revelada pela Operação Navalha já é um dos maiores escândalos de corrupção do governo Lula. O caso explicita toda a podridão do Congresso Nacional e do governo, atingindo tanto o PT, PMDB, PSB, PP e PR, da base de Lula, até o PPS, PSDB e DEM (ex-PFL) da oposição de direita. Expõe também toda a impunidade que prevalece nos casos de corrupção de colarinho branco.

Renan se complica
O aprofundamento da Operação Navalha, que investiga fraudes em licitações de obras públicas, chegou logo a um dos principais nomes da base aliada do governo, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL). Calheiros foi acusado de receber dinheiro do lobista da construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, para pagar uma pensão à jornalista Mônica Veloso, com a qual o senador tem uma filha de três anos.

Segundo denúncia publicada pela revista Veja, o lobista repassava R$ 12 mil à jornalista por conta da pensão alimentícia de Renan. O senador realizou então um discurso teatral na tribuna do senado no dia 29 negando as acusações. Calheiros afirmou que sua renda extra vem de “empreendimentos agropecuários”. Apesar do senador negar que o lobista repassava recursos à mãe de sua filha, afirmou publicamente não possuir provas de que efetuava os pagamentos da pensão de sua própria conta.

No dia seguinte, inexplicavelmente o advogado do senador anunciou possuir as provas do suposto pagamento realizado à jornalista. A situação de Renan Calheiros, porém, só piora a cada dia. Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram outro lobista da Gautama, Sérgio Só, afirmando ter sido convidado para um almoço na casa do senador. O lobista diz ainda que a Eletrobrás ficaria nas mãos de Renan e de José Sarney, “o que para nós é muito bom”, diz a gravação.

Mais pizza a vista
Apesar do PSOL ter pedido a investigação do presidente do Senado no Conselho de Ética, tudo leva a crer que nada será encaminhado. Os senadores cerram fileiras na defesa de Renan temendo que o senador caia e leve alguns parlamentares.

O recém-eleito presidente do Conselho de Ética do Senado, Sibá Machado (PT-AC), nem bem tomou posse e já adiou a discussão sobre Renan para o próximo dia 6 de junho. Seguindo a tendência dos últimos escândalos de corrupção que estremeceram o Congresso, os parlamentares e o governo farão de tudo para esconder a sujeira para debaixo do tapete, sem maiores alardes.