Governo apóia campanha pela anistia, mas disputas no PT e divisões no Congresso fazem com que Lula peça adiamentoPrincipal dirigente do Partido dos Trabalhadores e de seu “Campo Majoritário”, José Dirceu atua para recuperar seus direitos políticos, cassados pelo Congresso Nacional. Dirceu foi apontado como mentor do esquema do mensalão, que veio à tona em 2005. Em seu blog, ele diz que tudo foi “uma trama cujo único objetivo, ao me condenar, era golpear o PT, a esquerda e o governo do presidente Lula”. Com esse discurso, ele vem concedendo diversas entrevistas e preparando as condições para a sua anistia política.

Dirceu afirma que não será linha de frente na empreitada, mas participará de atos públicos, palestras e debates por todo o país, viajando com apoiadores. O “mensaleiro” vai apoiar-se na CUT, UNE e no MST, que vão atuar montando comitês em todo o país. As entidades também pretendem recolher 1,5 milhão de assinaturas, o número necessário para transformar a anistia em Projeto de Lei de Iniciativa Popular para o Congresso.

Mas além dos que vão para a rua pedir assinaturas, os principais apoiadores da campanha pela anistia ao ex-ministro corrupto vêm de dentro do PT e do governo. O atual tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Paulo Ferreira, acha que essa deve ser uma bandeira oficial do partido e se dispôs a viajar pelo Brasil para tocar essa campanha. No encontro do Campo Majoritário, no dia 4 de fevereiro, em São Roque (SP), o presidente do partido, Ricardo Berzoini, defendeu a mesma posição. José Dirceu recebeu ainda o apoio do assessor especial internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

O grupo ligado ao ex-ministro volta a aparecer no cenário político nacional, sobretudo após a volta à Câmara dos mensaleiros José Genoíno, Antônio Palocci e João Paulo Cunha, e da eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Casa. O PT e o governo Lula não tocam no assunto corrupção: jogaram uma pedra, soterrando o recente passado. Chinaglia chegou a dizer que não há fórmulas para evitar a corrupção, tratando-a como algo natural e inevitável.

Lula pede a Dirceu um recuo tático
A idéia inicial do chamado “grupo paulista” do Partido dos Trabalhadores era dar início à campanha pela recuperação dos direitos políticos de José Dirceu logo após a eleição para a presidência da Câmara. Um momento cogitado para isso seria a festa de comemoração dos 27 anos do partido, neste sábado, 10 de fevereiro, em Salvador (BA). Dirceu já confirmou presença e fará um discurso na festa de comemoração do aniversário do partido, para as cerca de três mil pessoas esperadas. Não se sabe se o ex-deputado terá a sua passagem e estadia pagas pelo partido, assim como os dirigentes atuais da sigla.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Lula enviou um emissário para pedir que Dirceu trave o projeto de anistia, pelo menos até julho, quando deve ocorrer o 3º Congresso do Partido. O presidente estaria preocupado com uma suposta guerra interna ao PT, entre o Campo Majoritário e o grupo de Tarso Genro, que defende uma “refundação” do partido.

Lula não quer, na verdade, que uma possível – e provável – repercussão negativa entre a população atrapalhe a aplicação do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, pois o governo precisa aproveitar o momento favorável de início de mandato para votar ataques e medidas impopulares. Aliás, ainda segundo a Folha de S. Paulo, ele já pediu aos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros, que agilizem a tramitação do PAC. O presidente também ainda está às voltas com os “curativos” na base aliada, após a disputa entre Aldo Rebelo e Chinaglia.

Dirceu tranqüilizou Lula, dizendo que vai esperar pela manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a acusação da procuradoria-geral da República, de chefiar o esquema do mensalão. A decisão do STF deve sair somente em setembro.