O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou nessa quarta-feira a libertação dos 15 militares britânicos detidos por Teerã por terem invadido a costa marítima do país no dia 23 de março. Ahmadinejad disse que “anistiou” os prisioneiros e que “os 15 marinheiros receberam nosso perdão, e oferecemos sua liberdade como um presente ao povo britânico”. Londres, por outro lado, não reconheceu a invasão às águas iranianas. “Não apresentaremos desculpas, nem reconheceremos ter entrado em suas águas”, declarou um porta voz do governo Blair. Segundo o jornal The Sunday Telegraph, o governo Blair se comprometeria ante Teerã que a marinha inglesa jamais entraria novamente nas águas desse país sem autorização. Algo que a história recente comprovou que não merece o mínimo crédito.

No entanto, aparentemente, foi um acordo entre o Irã e a Grã Bretanha que permitiu a liberação dos militares. Um dos indícios desse acordo foi a libertação de um diplomata iraniano, no dia 14, um dia ante do anúncio da liberação dos militares britânicos, seqüestrado dois meses atrás por uma unidade do exército iraquiano a serviço de Washington.

Segundo o jornal britânico The Independent, os EUA ainda tentaram seqüestrar, em janeiro, um general e outro diplomata iraniano no norte do Iraque. A ação de ataque se deu na cidade de Irbil e foi apoiada por helicópteros. No entanto, a tentativa de rapto fracassou, pois os dois “alvos” não se encontravam no local.

Pressões sobre Teerã
Desde o início do ano, as pressões sobre o Irã se intensificaram. Várias denúncias de que o governo Bush estaria preparando um ataque contra o país foram publicadas. Hillary Mann, ex-diretora do Conselho Nacional de Segurança para Assuntos Iranianos e Golfo Pérsico, que atuou com Bush entre 2001 e 2004, declarou em entrevista que os Estados Unidos “querem impulsionar um conflito provocador e acidental”, como pretexto para justificar “ataques limitados” contra infra-estruturas nucleares e militares do Irã.

Soma-se a isso uma ampla campanha de “demonização” do país, classificado por Bush como integrante do “eixo do mal”. Campanha essa que simplesmente fingia a não-existência de seqüestros iranianos pelas forças imperialistas. Ou, ainda, que porta-aviões norte-americanos estão há meses posicionados próximos à costa do Irã.

Temia-se que a invasão dos soldados britânicos às águas iranianas pudesse significar um ato de provocação que justificasse um ataque do imperialismo. Há casos na história recente que justificam esse temor, como, por exemplo, a farsa das armas de destruição em massa que, supostamente, Saddam Hussein possuía, mas que nunca existiram. Ou o celebre caso do Golfo de Tonkin, um suposto ataque das forças armadas do Vietnã do Norte contra navios ianques, que justificou a entrada massiva dos EUA na guerra do Vietnã em 1964. O ataque norte-vietnamita nunca existiu.

Desde a revolução iraniana, que varreu a ditadura do Xá Pahlevi, o imperialismo, segue determinado em tornar o Irã um país servil aos seus interesses na região. Isso porque o país possui imensas fontes de petróleo. Mas, apesar do caráter burguês e reacionário do regime dos aiatolás, o Irã manteve uma relativa independência com relação ao imperialismo.

As pressões contra o Irã também têm um outro significado: obrigar os aiatolás a assegurarem seu apoio ao imperialismo no objetivo de “pacificar” Bagdá. Buscam comprometer o governo iraniano apontando os canhões contra o país.