Redação

A concepção antideterminista e antidogmática da história desenvolvida por Trotsky e sua rejeição de todo automatismo economicista mostra seu vigor em sua História da revolução russa, obra que completa 75 anos em 2007 e que constitui, a meu ver, sua contribuição mais importante para a teoria marxista. Já o prefácio do livro anuncia um ambicioso projeto historiográfico que se coloca no entroncamento histórico de múltiplas temporalidades, na revolução: “a história da revolução é pra nós, principalmente, o resultado de uma irrupção violenta das massas nos domínios onde se pautam seus próprios destinos.” (TROTSKY, 1950, t. I, p. 10.) Mas o projeto não se esgotava em uma narrativa dos acontecimentos. Para além dessa narrativa ele tinha o objetivo de esclarecer as leis do próprio movimento histórico:

“A história de uma revolução, como toda história, deve antes de tudo relatar o que e como ocorreu. Mas isso não é suficiente. Depois da própria narrativa é necessário que se veja claramente por que as coisas ocorreram desse modo e não de outro. Os eventos não poderiam ser considerados como um encadeamento de aventuras, nem inseridos um após os outros sobre o fio de uma moral preconcebida, eles devem se conformar a sua própria lei racional. E a descoberta dessa lei íntima que o autor considera seu objetivo” (Idem, t. 1, p. 9).

A arquitetura da obra revela uma concepção da história que se afasta decididamente do determinismo economicista. “As peculiaridades do desenvolvimento da Rússia”; “A Rússia tzarista e a guerra”; “O proletariado e os camponeses”; “O tzar e a tzarina”, os títulos dos primeiros quatro capítulos bastariam para indicar que o autor pretende desenvolver uma análise histórica debruçando-se sobre um tempo multifacetado que revela as várias dimensões da sociedade russa. Respondendo às críticas que a historiografia oficial soviética dirigiu a sua obra, Trotsky explicou da seguinte maneira seu método e seus objetivos:

“Na História [da Revolução Russa] tentei partir não de minhas simpatias políticas, mas do fundamento material da sociedade. Considerei a revolução como um processo, condicionado por todo o passado de uma luta implacável das classes pelo poder. No centro de minha atenção estavam colocadas as modificações na consciência das classes que se produziam sob a ação do ritmo febril de sua própria luta. Não considerei os partidos e os homens políticos de outro modo que sob a luz das modificações e dos choques que sofriam as massas. Quatro processos paralelos, condicionados pela estrutura social do país criaram o pano de fundo de toda a narrativa: a evolução da consciência do proletariado entre fevereiro e outubro; as mudanças produzidas no estado de espírito do exército; o incremento da revolta camponesa; o despertar e sublevação das nacionalidades oprimidas. Revelar a dialética da consciência das massas deslocadas de seu equilíbrio significou, também, para o autor mostrar a chave que permitiria penetrar o mais diretamente e o mais intimamente em todos os acontecimentos da revolução” (TROTSKY, 1978, p. 100).

A ordem dos capítulos de História da revolução russa indica um movimento que a partir de níveis mais abstratos de análise se dirige àqueles mais concretos na busca da apreensão dessa dialética. Se nos primeiros capítulos são definidas as relações de forças objetivas, ou seja, a estrutura, a materialidade das classes sociais, nos demais são as relações de forças políticas e ideológicas as que ganham força. Do lento tempo do desenvolvimento do capitalismo, um tempo no qual os indivíduos não tem vez, ao tempo frenético dos combates de rua, nos quais a personalidade do tzar torna-se decisiva. Unificando essas diferentes temporalidades está a própria revolução, o encontro da estrutura com os atores.

Salta aos olhos, entretanto, que, embora o autor dedique-se exaustivamente à análise da conjuntura política, não há uma análise da conjuntura econômica em suas obras de análise das revoluções de 1905 – 1905 e Balanço e perspectivas – e de 1917 História da revolução russa, Lições de outubro (TROTSKY, 1971) e A revolução russa (Conferência) (TROTSKY, 1989). Evita-se, desse modo deduzir os movimentos revolucionários de fevereiro e de outubro das oscilações da economia, tão ao gosto do marxismo vulgar. Revalorizando o lugar da vontade humana na história, das classes sociais e de suas formas partidárias, Trotsky descarta todo automatismo e afirma a centralidade da política nos processos de revolução social. Na própria letra do texto seu autor se justifica a esse respeito:

“Em uma sociedade tomada pela revolução, as classes estão em luta. É, portanto, evidente que as transformações nas bases econômicas da sociedade e no substrato social das classes que se produzem entre o início e o fim de uma revolução, não são suficientes para explicar a marcha da própria revolução, uma vez que em um breve lapso de tempo ela derruba as instituições seculares, cria novas e as derruba novamente. A dinâmica dos eventos revolucionários é diretamente determinada pelas rápidas, intensas e apaixonadas conversões psicológicas das classes constituídas antes da revolução” (TROTSKY, 1950, t. I, p. 10).

Essas mudanças na psicologia das classes, ou seja, o processo de formação da consciência de classe, não se produzem, entretanto, de modo autônomo. Seguindo de perto Marx, Trotsky afirmava ser esta determinada pelas condições gerais de existência. É importante ressaltar que por tais condições o autor de História da Revolução Russa entende de modo abrangente as circunstâncias históricas da formação da sociedade russa em suas dimensões econômica, social e política, bem como a relação desse país com as potências estrangeiras. Daí que dedique os primeiros quatro capítulos a análise do desenvolvimento da sociedade russa e de suas forças internas, apresentando nos demais essas forças em plena ação.

Marxismo e sociologismo
Comentando o marxismo de Leon Trotsky, Nicolas Krassó acusou este de desenvolver, principalmente em sua História da Revolução Russa uma concepção impregnada de “sociologismo”. Segundo Krassó:

“Assim como assinalado freqüentemente, a História da Revolução Russa é, acima de tudo, um brilhante estudo da psicologia das massas e de seu oposto complementar, o esboço individual. Não é tanto uma explicação do papel do partido bolchevique na revolução como uma epopéia das multidões que dito partido conduziu à vitória. O sociologismo de Trotsky encontra aqui sua máxima expressão. O idealismo que necessariamente entranha, produz uma visão da revolução que rejeita explicitamente a permanente importância das variáveis políticas. A psicologia da classe, combinação perfeita dos dois membros do permanente binômio – forças sociais e idéias – converte-se na instância determinante da revolução” (KRASSÓ, 1970, p. 41-42).

A acusação central de Krassó é que essas forças sociais e idéias seriam consideradas “sem organizações políticas que interviessem como níveis permanentes e necessários da formação social” (idem, p. 20). A afirmação não deixa de ser surpreendente, já que Trotsky atribuía importância decisiva ao Estado na formação social do capitalismo russo. Sobre isso é necessário acrescentar, para ser rigoroso, que o conceito de Estado mobilizado por Trotsky em Balanço e perspectivas apresenta ainda alguns limites. e é possível encontrar em seu interior uma nítida contradição. O enunciado inicial do conceito é bastante convencional: “O Estado não é um fim em si. É apenas uma máquina em mãos das forças sociais dominantes” (TROTSKY, 1969, p 419). A afirmação carrega um viés fortemente instrumentalista e de modo compatível com esse viés Trotsky insinua a neutralidade do aparelho estatal, afirmando: “dependendo em que mãos se encontre pode ser a alavanca para uma revolução profunda ou o instrumento de uma paralisação organizada” (idem).

Não é este o lugar para apresentar de modo mais aprofundado a crítica ao conceito instrumental de Estado, mas para meus propósitos basta dizer que desde A guerra civil na França, redigido por ocasião da Comuna de Paris, Marx destacou que “a classe operária não pode se contentar em apossar-se do aparelho de Estado tal como se apresenta e de fazê-lo funcionar para seus próprios fins” (MECW, v. 22, p. 328). Assim, a mesma “alavanca” não poderia ser o instrumento de uma “revolução profunda” ou de “uma paralisação organizada” bastando mudar seu operador. A construção do socialismo exigiria uma máquina e ferramentas de outro tipo.

Embora o conceito de Estado mobilizado por Trotsky neste momento apresente limitações sua abordagem não deixa de ser sutil e mesmo criativa em vários aspectos. A afirmação do Estado como uma máquina não define senão o conteúdo de classe do Estado, e mesmo assim o autor não utiliza a palavra classe, preferindo “força social”, para, logo a seguir mencionar os “interesses de casta, dinastia, camada ou classe” (TROTSKY, 1969, p 419). Tais interesses são percebidos, por Trotsky de modo original como a “organização, desorganização e reorganização das relações sociais” (idem). Na esfera da política, a coerção estatal sobre as classes subalternas – mas não apenas sobre estas – se exerceria de um modo negativo como supressão de sua capacidade de organização autônoma, ao mesmo tempo em que Imporia, afirmativamente, formas controladas de participação. Na esfera da economia, a coerção estatal procuraria suprimir formas econômicas pré-capitalistas de produção e apropriação do excedente, ao mesmo tempo em que imporia novos modos de organização da produção, reconfigurando as relações sociais.

Os cuidados tomados lhe permitem analisar de modo inovador o Estado absolutista russo. Enquanto, afirma Trotsky, o absolutismo europeu nascia do equilíbrio de forças entre as classes dominantes, o que garantia ao aparelho governamental aquela independência que permitia a Luís XIV identificar-se com o Estado, na Rússia era a debilidade das classes sociais, da burguesia em primeiro lugar, o que possibilitava à autocracia se afirmar como um poder absoluto: “nessa perspectiva, o tzarismo é uma forma intermediária entre o absolutismo europeu e o despotismo asiático, e pode ser que se aproxime mais deste último”, afirmou (idem, p. 21). Era essa condição de forma intermediária o que permitia ao Estado russo operar com elevada autonomia perante as classes sociais e manifestar-se ativamente no próprio processo de organização/desorganização/reorganização das relações sociais. Uma autonomia que era para Trotsky relativa.

Mas a importância da política não é afirmada apenas nesse tempo expandido da formação social. Para Trotsky a política ocupa um lugar central nos processos revolucionários, daí a sua ênfase desde 1905 na questão da constituição das instituições políticas das classes trabalhadoras e, particularmente, dos soviets. Quem assumir seriamente a afirmação de Krassó ficará na difícil posição de explicar como o presidente do soviet de Petrogrado nas revoluções de 1905 e 1917 teria negligenciado… o soviet do qual era presidente.

E o que dizer dos capítulos chaves de sua História da Revolução Russa dedicados aos conflitos no interior das instituições políticas? O que dizer da reconstrução minuciosa dos conflitos no interior do governo provisório entre os diferentes grupos políticos; das disputas existentes no interior dos soviets; dos embates existentes entre aquele governo provisório e estes soviets que constituíram uma dualidade de poderes; e, por fim, das diferenças existentes no seio mesmo do partido bolchevique? O equívoco da afirmação de Krassó encontra-se assentado em uma concepção da política que primeiro restringe esta a suas instituições para depois reduzi-las a uma única: o partido. Seu argumento tem como pressuposto um reducionismo institucionalista. Ora, para o marxismo a política é o espaço dos conflitos pela apropriação do poder político e, portanto, as instituições que compõem esse espaço são de grande relevância, muito embora elas não o preencham completamente.

A questão não é apenas conceitual, o argumento de Krassó é equivocado porque suprime parte fundamental do argumento de Trotsky. O conhecido nexo que o revolucionário russo estabelece entre a crise da humanidade e a crise de direção revolucionária do proletariado já indica, claramente, o vínculo que estabelece entre classe e partido. Sobre esse nexo é esclarecedor, seu importante artigo de caráter teórico a respeito da Revolução Espanhola:
“o desenvolvimento da revolução consiste, precisamente na mudança incessante e rápida da relação de forças sobre o impacto das mudanças na consciência do proletariado, a atração exercida sobre as camadas atrasadas pelas camadas avançadas, a confiança crescente da classe em suas próprias forças. A mola principal, vital, deste processo é o partido, assim como a mola vital do mecanismo do partido é sua direção. O papel e a responsabilidade da direção em uma época revolucionária são colossais” (TROTSKY, 1985, p. 328. Grifos meus).

Rozhkov, Pokrovsky e a historiografia soviética
É na transição para o socialismo que a centralidade da política se manifesta de modo mais claro. Contrapondo-se às idéias do historiador Nicolai Rozhkov, Trotsky afirma a revolução proletária como a condição prévia do socialismo. O debate sobre as condições prévias para o socialismo ocupava então um lugar central entre a intelligentsia russa no começo do século XX. A partir de uma leitura reducionista de Marx, Rozhkov fixava três condições para o advento do socialismo na Rússia: 1) o predomínio “quase completo da produção em grande escala em todos os ramos da economia”; 2) o predomínio da produção cooperativa; e 3) “um desenvolvimento suficiente, no seio do proletariado, da consciência de classe a um grau necessário para realizar a unidade espiritual da esmagadora maioria das massas populares” (apud TROTSKY, 1969, p. 435). Atendidas essas condições seria possível “abater aqueles magnatas do capital e organizar, sem revolução nem ditadura, uma ordem econômica socialista” (idem, p. 438).

É contra esse automatismo que Trotsky se levanta. O desenvolvimento técnico, a concentração da produção e a elevação da consciência das massas são condições prévias para o socialismo. Mas esses processos ocorrem de modo simultâneo e na sua articulação têm seus tempos acelerados ou freados. Não há, portanto, automatismo. Se fosse possível pensar um desenvolvimento técnico autônomo, seu valor limite seria um único mecanismo que suprimisse todo trabalho humano e tornasse prescindível o próprio capitalista. Ocorre que o capitalismo encontra-se constrangido pelas relações de classe a luta revolucionária. Para Trotsky:

“a questão é que esses processos que constituem as premissas históricas do socialismo não se desenvolvem isoladamente uns dos outros, mas se limitam mutuamente; e assim que elas atingem um certo ponto que depende de numerosas circunstâncias, longe, entretanto, de seus limite matemático, são afetadas por uma mudança qualitativa, sua combinação complexa engendra, então, o fenômeno que nós denominamos de revolução social” (idem, p. 440).

A discussão sobre as condições prévias, tal qual colocada até aqui não faz senão fixar os limites de uma época histórica e afirmar o socialismo como uma possibilidade histórica. E é sobre isso que Trotsky discute com Rozhkov. Mas para a análise da situação essas condições aparecem como constantes. A questão fica clara em sua polêmica contra Pokrosvky no prefácio à segunda parte de História da revolução russa. De 1918 até sua morte, em 1932, Pokrovsky foi figura chave da historiografia marxista soviética. Bolchevique desde 1905; foi presidente do Soviet de Deputados e Soldados de Moscou depois da revolução de Outubro de 1917 e vice-comissário para a Educação de 1918 a 1932, fundador e presidente da Academia Comunista; primeiro diretor do Instituto de Professores Vermelhos; e primeiro presidente da Sociedade de Historiadores Marxistas. A partir de 1925 Pokrovsky, o historiador sutil da sociedade russa, vinculou seu destino ao da camarilha stalinista: “toda a teoria histórica de Trotsky corrobora o veredicto negativo que o Partido pronunciou sobre o trotskismo”, afirmou ainda naquele ano (apud BARON, 1974, p. 393).

Comentando a interpretação da Revolução Russa, de Leon Trotsky, Pokrovsky o acusava Trotsky de sustentar suas teses em uma concepção idealista que se afastava dos fatores objetivos da revolução. “Entre fevereiro e outubro ocorreu uma formidável desorganização econômica”, que teria provocado a sublevação dos camponeses afirmava Pokrovsky (apud TROTSKY, 1950, t. II, p. 10). Era nesse deslocamento objetivo que radicariam as causas da revolução. Em sua obra Teoria da revolução proletária, Pokrovsky recorreu a uma leitura enviesada de Lenin para afirmar que apenas uma crise econômica, geral seria capaz de produzir uma situação revolucionária, indispensável para o triunfo do movimento de massas. Daí o veredicto: “É isso, precisamente o que Trotsky não compreende, razão porque expõe a teoria de que: resume-se nos transes de protesto da massa trabalhista, que responsabiliza capitalmente a crise econômica, a possibilidade de sublevação do proletariado” (POKROVSKY, s/d, p. 40).

A oposição entre o materialismo histórico de Trotsky e o materialismo econômico de Pokrovsky é flagrante. Em sua exposição de 1914 da teoria do materialismo histórico, o futuro presidente da Sociedade de Historiadores Marxistas resumia assim sua concepção que norteava seu trabalho: “Onde surge com mais clareza a dependência das relações econômicas é na organização política: (…): a cada regime econômico corresponde um regime político preciso, Tudo isto faz do materialismo histórico a hipótese mais fecunda que jamais teve à sua disposição a ciência histórica: dentre todas as interpretações possíveis das transformações históricas, o investigador tem o dever de atender antes de mais nada à interpretação ‘econômica’” (POKROVSKY, s/d, p. 15). Era por esta via que a posição de Pokrovsky aproxima-se certeiramente do positivismo. O materialismo econômico daria o estatuto de ciência à Historia, uma ciência que Pokrovsky não relutava em aproximar das ciências naturais e, particularmente, da biologia: “Em resumo, não há fundamento racional algum para negar que a história da cultura seja uma das ciências naturais e uma ciência não tão atrasada como às vezes se supõe. À proporção que a interpretação materialista da história vai conquistando um número cada vez maior de adeptos, entre os especialistas, nossa ciência vai alcançando, mais e mais, sua mais próxima vizinha e antecessora, a biologia” (idem, p. 19).

Trotsky respondeu as acusações destacando aquele que é o ponto central, a crítica ao economicismo: “Graças a uma louvável clareza na maneira de colocar as questões, Prokrovsky revela do melhor modo a inconsistência de uma explicação vulgarmente econômica da história que se faz passar, freqüentemente, por marxismo” (TROTSKY, 1950, t. II, p. 10). As causas da revolução não podem, entretanto, ser procuradas nas mudanças conjunturais da economia. As bases sociais da revolução se desenvolvem ao longo de um tempo estendido no qual a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais se estabelece. Mas este tempo define uma época histórica e não uma situação, e menos ainda uma crise revolucionária.

Conclusão
Uma aguda sensibilidade para o tempo histórico caracteriza a obra de Trotsky. Ele próprio teve ilustres antecessores no Partido Social-Democrata Alemão, onde vários dirigentes exerceram a atividade de historiador. Dentre os mais conhecidos, August Bebel escreveu sobre a questão da mulher, investigando as origens históricas da opressão; Karl Kautsky pesquisou as origens do cristianismo; e Franz Mehring desenvolveu estudos sobre a história da Alemanha. Eram estas as primeiras tentativas de mobilizar o método do materialismo histórico procurando demonstrar sua capacidade explicativa.

Embora surpreendam pela erudição, nas obras de Bebel, Kaustky e Mehring o método de investigação assemelha-se à interpretação “econômica” advogada por Pokrovsky. Como foi visto acima, não é uma interpretação desse tipo o que poderemos encontrar na História da Revolução Russa de Leon Trotsky. Sua analise dos acontecimentos de 1917 tem seu foco colocado sobre as relações de forças entre as classes e sobre as lutas que convulsionam essas relações. Com sua História da Revolução Russa, Trotsky permitia, assim, que o marxismo retornasse finalmente à tradição historiográfica inaugurada por Marx em A luta de classes na França e O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte e assumisse o próprio presente como objeto da pesquisa histórica.

Referências
BARON, Samuel H.. Plekhanov, Trotsky, and the development of soviet historiography. Soviet Studies, v. 26, n. 3, Jul. 1974.

KRASSO, Nicholas. El marxismo de Trotsky. In: KRASSÓ, Nicholas; MANDEL, Ernest; e JOHNSTONE, Monty. El marxismo de Trotsky. Córdoba: Pasado y Presente, 1970.

MARX, Kart; ENGELS, Friedrich. Collected works. Nova York: International Publisher, 1976ss. (Citado como MECW).

POKROVSKY, Mikhail N. Teoria da revolução proletária. São Paulo: Calvino, s/d.

TROTSKY, Leon. Histoire de la Rèvolution Russe. Paris: Seuil, 1950, 2 t.

TROTSKY, Leon. La révolution permanente. Paris: Gallimard, 1963.

TROTSKY, Leon. 1905 suivi de Bilan et perspectives. Paris: Minuit, 1969.

TROTSKY, Leon. Lecciones de octubre. Buenos Aires: Biblioteca Proletaria, 1971.

TROTSKY, Leon. Qu’est-ce que l’objectivite historique? Résponse à certains critiques de l’Historie de la Révolution Russe. (1er avril 1933). In Œuvres. Paris: EDI, 1978, v. 1

TROTSKY, Leon. Le marxisme en tant que science. (11 avril 1933). In: Œuvres. Paris: EDI, 1978a, v. 1.

TROTSKY, Leon. Classe, parti et direction: porquoi le prolétariat espagnol a-t-il été vaincu? (Questions de théorie marxiste). In: Œuvres. Grenoble. Institut Léon Trotsky, 1985, v. 20.

TROTSKY, Leon. A revolução russa. São Paulo: Informação, 1989.