“O Haiti é o símbolo do fracasso do capitalismo global e da falência das políticas coloniais”. A conclusão é de Carole Pierre Paul-Jacob, integrante da Solidariedade das Mulheres Haitianas (SOFA), que realizou uma palestra no último dia 19, sexta-feira, na PUC-SP.

A palestra contou com a participação de estudante e professores e é parte de outras atividades nacionais realizadas por uma delegação de três haitianos que estão no Brasil para denunciar a ocupação militar da ONU, liderada pelo Brasil.

Durante sua fala, Carole Pierre destacou três aspectos da ocupação militar. O primeiro foi sobre o caráter ilegal da ocupação. “Não foi algo solicitado pela população do país, mas sim algo imposto ao povo haitiano, e toda propaganda sobre uma suposta solicitação popular da intervenção é falsa”, destacou.

Para Carole, o segundo aspecto da ocupação é o seu objetivo de reforçar a colonização do país. Ela lembrou que desde a época que Ronald Reagan era presidente dos Estados Unidos, o imperialismo tem um projeto de transformar o Caribe numa imensa região fornecedora de mão-de-obra barata.

A haitiana destacou que o neoliberalismo trouxe conseqüências catastróficas ao Haiti, que teve praticamente todas as empresas estatais privatizadas, desmantelamento dos serviços públicos e hoje amarga um índice de desemprego de 67%.

“O Haiti é o país com as taxas alfandegárias mais baixas do Caribe, de 3%. Isso levou à destruição da agricultura e da produção nacional, levando ao um aumento indiscriminado das importações”, destacou. Carole denunciou que uma parte deste projeto é a instalação de Zonas Francas no país, que empregam trabalhadores em situação de total exploração, sobretudo, mulheres. “O papel da Minustah [Missão para Estabilização do Haiti] é de justamente reprimir qualquer mobilização dos trabalhadores que se levante a esse projeto”, disse.

Repressão e mortes
O Haiti vive um intenso processo de lutas pelo aumento dos salários. Desde o início do mês os haitianos saem as ruas às ruas para pedir o reajuste do salário mínimo. Os protestos cobram a implantação de uma lei aprovada em abril pelo Congresso Nacional do Haiti que reajusta o salário mínimo de U$ 1,7 diários (R$ 2,30) para cerca de 4 dólares diários (R$ 7,80).

No entanto, há pelo menos três semanas a Minustah reprime brutalmente as manifestações. Carole Pierre Paul-Jacob denunciou que soldados da ONU chegaram a invadir na semana passada a Universidade do Haiti, lançando bombas de gás lacrimogêneo e espancando estudantes.

“Lançaram bombas até nos bairros populares que cercam a universidade. O gás lacrimogêneos chegou até o Hospital Universitário, onde haviam centenas de doentes, mulheres idosas e outras em trabalho de parto”, destacou a haitiana. O resultado da repressão levou a morte de dois estudantes, um deles foi executado a bala, outro recebeu golpes de coronhada de soldados da Minustah.

Carole recordou que essa não foi a primeira fez que os soldados da ONU agiram com brutalidade contra a ocupação. Em janeiro de 2007, soldados da Minustah promoveram um massacre nos bairros mais pobres da capital, Porto Príncipe. Uma das zonas mais castigadas foi Cite Soleil, onde 300 mil haitianos vivem em condições de extrema pobreza. Até hoje não sabe quantas pessoas desapareceram.

Um obstáculo
Por fim, a haitiana denunciou que a ocupação coloca as instituições do Haiti sob tutela e fragiliza ainda mais o país. Ela lembrou que os gastos anuais da ocupação (orçados entre 500 a 600 milhões de dólares), representam mais do que o dobro do que é destinado a realização de programas sociais.

“A missão contribui para a fragilização das instituições, controla a polícia e a justiça do país. Além disso, causa a depressão econômica. Seja qual for o projeto de desenvolvimento econômico para o Haiti, a Minustah é um obstáculo”, concluiu.