No dia 4, os trabalhadores da Volkswagen tiveram uma vitória parcial. Graças à luta, os metalúrgicos obrigaram a empresa a suspender as 1.800 demissões. Mas nada está garantido. Novas negociações serão feitas, e a Volks tentará manter as demissõesDepois de seis dias de greve, os operários da Volkswagen conseguiram reverter parcialmente as demissões anunciadas pela empresa. A greve começou no dia 27, quando a Volks rompeu as negociações e demitiu através de cartas 1.300 trabalhadores da produção e 500 CFE (Centro de Formação e Estudo). Ao receber as cartas, os trabalhadores imediatamente foram parando as linhas de produção. Com isso, a direção do sindicato foi obrigada a defender greve já no turno da tarde daquele dia.

Muitos ficaram desconsolados. Foram demitidos trabalhadores com 20 anos de casa, com doença profissional e trabalhadores novos, deixando todos com ódio
da empresa.

O trabalhador da ala 14 Angelito Carlos de Almeida, que recebeu a carta de demissão, contou sua angústia ao Opinião Socialista. “Senti que o trabalhador não vale nada, um desrespeito. Tenho 16 anos de casa e estava completando naquele dia. Como presente recebi a carta dizendo que estava demitido”, disse.

A Volks alegava estar em crise e, portanto, precisaria fazer as demissões. “Isso é mentira. A empresa mesma diz que teve lucro no segundo trimestre e vive mostrando seu balancete. O que ela quer é ter mais lucro nas costas dos trabalhadores”, disse Angelito.

Sindicato queria parar a greve
A direção do sindicato queria acabar com a greve desde o início. Na quinta-feira, dia 31, foi realizada uma assembléia dos metalúrgicos que aprovou a continuidade do movimento. Dessa forma, os trabalhadores derrotaram a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que apresentou uma proposta de retomar a produção da empresa por área. Ou seja, a greve seria transformada em paralisações por setores da fábrica e a realização de algumas manifestações públicas contra as demissões. A direção do sindicato alegava que era necessário “mudar a tática”.Isso significaria, na prática, o fim da greve.

Já no dia anterior à assembléia, a direção do sindicato divulgou para todos os órgãos de imprensa que os metalúrgicos do ABC “mudariam de tática”.

A direção percebeu que a greve tinha virado um fato nacional e, conseqüentemente, estava prejudicando a candidatura de Lula, apoiado por eles. Durante a reunião da Comissão e do CSE, tentou recuar, mas recebeu um não da oposição e a sua própria corrente, a Articulação Sindical, ficou dividida. Mesmo assim José Lopez Feijóo, presidente do sindicato, apresentou a proposta de mudança de tática na assembléia. No entanto, cerca de 65% dos metalúrgicos votaram pela manutenção da greve total.

O boletim “Ferramenta”, distribuído antes da assembléia, defendia que os trabalhadores deveriam manter a greve total. Como já havia uma grande disposição de lutas dos metalúrgicos, o boletim apenas consolidou a proposta que derrotou a direção do sindicato.

Com a greve em São Bernardo, as unidades da Volks em Taubaté (SP) e em São José dos Pinhais (PR) enfrentaram problemas de fornecimento. Nessas fábricas, os operários tiveram que ficar parados por dois dias em função da falta de fornecimento. Tudo o que Volks queria era que os operários voltassem a trabalhar.

Enfrentamento dentro da fábrica
Na noite do dia 31, a empresa tentou fazer com que as máquinas da ala 1 (setor de prensa que faz peça para Taubaté e São José dos Pinhais) voltassem a funcionar.

Mas os trabalhadores soldaram as portas que davam acesso ao setor e fizeram uma barricada com caçambas e pneus. Os chefes do setor não puderam entrar.

Os operários já têm a experiência da greve do ano
passado, quando a empresa contratou seguranças particulares. Agora, mesmo com 500 seguranças, os operários conseguiram impedir suas ações. Em outras alas, houve enfrentamentos físicos entre o comando de greve e os seguranças.

Lavando as mãos
A primeira vitória do movimento foi a suspensão do empréstimo de R$ 497,1 milhões do BNDES à Volks. O governo foi obrigado a adotar a medida diante da mobilização dos trabalhadores. Mas a falta de comprometimento político do governo Lula na
defesa dos empregos dos metalúrgicos foi uma constante nessa greve.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, empregado licenciado da Volks do ABC, declarou à imprensa que o “governo não tem muito o que fazer” para impedir as demissões na empresa, lavando as mãos diante da ameaça de demissão de milhares de trabalhadores. Numa entrevista ao Jornal da Globo do dia 29, Lula foi colocado numa saia justa quando perguntado se não choraria caso os funcionários da Volks fossem demitidos. O presidente simplesmente não respondeu. Depois considerou as demissões algo “normal”: “Não se deve fazer cavalo de batalha sobre as demissões na Volks. No mundo do trabalho é assim. Quando uma empresa está produzindo mais, ela contrata mais, quando está produzindo menos, descontrata”, disse.

Movimento ganha solidariedade em todo o país
A greve dos trabalhadores da Volks provocou a solidariedade dos trabalhadores de todo o país. Muitos sindicatos ligados à Conlutas enviaram manifestações de solidariedade. A Conlutas teve um papel importante: fez adesivos, produziu um cartaz e distribuiu carta de apoio à greve. Um grupo de sindicatos da Baixada Santista parou a rodovia no sentido do Guarujá, provocando um congestionamento de 20 km. Várias entidades enviaram e-mails para o sindicato.

Em São José dos Campos (SP), os metalúrgicos fizeram assembléias em solidariedade aos trabalhadores e contra as demissões na Volks.

Também foi construído um comitê na faculdade da Fundação Santo André, e está sendo formado um comitê de todo o ABC em solidariedade aos trabalhadores da Volks.

Vitória do movimento
No dia 4, numa tarde fria e nublada, os trabalhadores da Volks ouviram a proposta de suspensão das demissões e retomada das negociações. Os trabalhadores estão muitos desconfiados da direção do sindicato. Mesmo com a suspensão, cerca de 15% dos metalúrgicos votaram contra a proposta de retomar o trabalho.

A empresa ainda tem como objetivo demitir os trabalhadores. Uma nota do diretor-executivo de Relações Trabalhistas da Volks do Brasil confirma essa intenção: “A Volkswagen reafirma a necessidade de adequação do seu quadro de pessoal em 3.600 pessoas nos próximos anos, porém está aberta para discutir as condições para sua realização”. Quer dizer, vão procurar “melhores condições” para seguir demitindo.

A vitória do movimento é importante, mas não podemos confiar nessa direção do sindicato, parceira da empresa e do governo. A assembléia autorizou a direção a negociar, mas isso não significa que eles estão autorizados a negociar as demissões com a Volks.

No dia 12, haverá uma nova assembléia dos trabalhadores. Os metalúrgicos devem estar preparados, pois se a empresa voltar a propor as demissões os trabalhadores devem retomar a greve.