Enquanto isso, Congresso se desmoraliza cada vez maisOs escândalos de corrupção sob o governo Lula se sucedem com uma velocidade impressionante, desgastando cada vez mais o Senado, a Câmara dos Deputados e o próprio governo. A cada semana uma nova crise explode em Brasília, expondo um diferente aspecto da falência destas instituições corruptas. Resta sempre a pergunta sobre quem será o próximo político a ser pego em algum novo escândalo.
Passados inúmeros casos de corrupção que estremeceram o governo, os parlamentares mal disfarçam suas manobras para impedirem qualquer tipo de investigação. Reflexo de um sistema que beneficia apenas uma minoria e de uma justiça desigual, que pune apenas pobres e trabalhadores.

Balança mas não cai
Um dos escândalos mais recentes envolve o presidente do Senado e terceiro homem na linha de sucessão do presidente Lula. Apesar da situação de Renan Calheiros (PMDB-AL) se complicar cada vez mais, os deputados da base governista e da oposição fazem de tudo para adiar o processo aberto no Conselho de Ética. A esperança dos senadores é que, com o recesso de julho e o acúmulo de novos escândalos, o caso seja esquecido.

O senador é acusado de ter contas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Júnior, através do lobista Cláudio Gontijo. Este repassava R$ 12 mil por mês de pensão à jornalista com a qual o senador teve uma filha há três anos. O valor da pensão seria incompatível com a renda declarada de Renan Calheiros.

Durante dias, a tentativa de Renan e de sua tropa de choque parlamentar foi provar que o senador possuía dinheiro para pagar a pensão. A tática buscava colocar a relação de Renan com a empreiteira Mendes Júnior em segundo plano. No entanto, não é preciso nenhuma grande investigação para constatar a fortuna acumulada pelo senador durante seus anos de política.

O nó da questão
Uma estimativa realizada pela revista ‘Veja’ constatou que o patrimônio conhecido do senador ultrapassa os R$ 10 milhões, grande parte conquistados a partir de 2002. Ou seja, dinheiro para pagar pensão Renan tem de sobra. No entanto, por que recorrer a um lobista? A relação com as empreiteiras, motivo que desencadeou a chamada Operação Navalha, foi “esquecida” tanto pelos senadores como pela imprensa.
Essa política deliberada não é por menos. Quando viram que sua tentativa de enterrar de vez o processo no Conselho de Ética não daria certo de imediato, Renan e seus aliados espalharam intimações veladas ao conjunto do Senado. As ameaças iam de revelações de casos extraconjugais dos colegas até corrupção. O senador cogitou até mesmo a hipótese de abrir uma “CPI das Empreiteiras”, mandando o recado aos senadores de que, caso caísse, não iria sozinho, espalhando o pânico entre os picaretas.

O governo, por sua vez, joga pesado na absolvição do senador. A queda de Renan não seria apenas mais um desconforto para o governo Lula. O “experiente” senador é um tradicional político que, governo após governo, mantém-se em destaque. Quando Fernando Collor foi presidente, ele foi líder de seu governo entre 1990 e 1992 na Câmara dos Deputados. Já no governo de Fernando Henrique Cardoso, Renan foi nada menos que ministro da Justiça. No governo Lula, foi eleito presidente do Senado em 2005 e reeleito no começo de 2007. A atual crise política ameaça derrubar um “peixe graúdo” do Congresso.

Operação Abafa
O terrorismo do grupo de Renan e o temor dos senadores de terem seus casos expostos surtiram efeito. A tática agora é empurrar o processo por quebra de decoro parlamentar aberto no Conselho de Ética com a barriga, entrando no recesso parlamentar, de 18 de julho a 1º de agosto. Até lá, os senadores contam com o inevitável aparecimento de novos escândalos que encubram o caso envolvendo Renan.
Mas o primeiro escândalo após este já apareceu. Se por um lado ele reforça a tática de salvar o presidente do Senado, por outro ajuda a desmoralizar ainda mais o Congresso Nacional.

Pensando na bezerra
Desta vez, quem está no centro do escândalo é o senador e ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB). O parlamentar foi pego numa gravação telefônica interceptada pela Polícia Civil do Distrito Federal combinando a divisão de R$ 2,23 milhões em um escritório de Brasília. A conversa foi gravada em 13 de março e o flagra combinando a partilha com o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin de Moura, que foi preso.

A chamada Operação Aquarela investiga o desvio de R$ 50 milhões do Banco de Brasília. Para explicar o recebimento do dinheiro, Roriz contou uma história mais absurda que a das vaquinhas de Renan. Segundo ele, o dinheiro foi um empréstimo do dono da companhia aérea Gol, para que Roriz pudesse comprar uma bezerra de R$ 300 mil.

O dono da empresa teria dado ao senador um cheque de R$ 2,2 milhões. Roriz teria repassado o cheque ao ex-presidente do banco, que sacou o dinheiro e o entregou ao senador. Roriz ficou com o empréstimo e teria devolvido o troco ao dono da Gol. Questionado pela imprensa sobre a complexa história, o empresário negou a existência de tal cheque. Mas no dia seguinte afirmou ter se “lembrado” do empréstimo ao amigo senador.

Essa história se soma a todas as outras lorotas contadas incansavelmente pelos congressistas a cada novo escândalo. Mostra sobretudo a ilegitimidade de investigações como as levadas a cabo pelas CPI’s ou pelo Conselho de Ética. São corruptos sendo investigados por corruptos. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, que é o órgão responsável pela investigação e punição dos parlamentares, nunca condenou ninguém.

Nenhuma confiança no Congresso!
A sucessão de crises e escândalos que terminaram em pizza, do mensalão aos sanguessugas, já provou que o Congresso Nacional não investiga nem pune ninguém. Além disso, o discurso da “ética na política” era a bandeira principal do PT e vimos no que deu. Por isso, consideramos um equívoco a deliberação da Executiva Nacional do PSOL, que aprovou a realização de uma campanha pelo “afastamento de Renan Calheiros”. O partido pretende “levar o povo às ruas” a fim de pressionar o Conselho de Ética e o Senado a investigar Renan.

O PSTU chama o povo e os trabalhadores a não depositarem qualquer tipo de confiança nesse Congresso corrupto. Apenas uma investigação independente, levada a cabo pelas organizações dos trabalhadores e da sociedade, poderá apontar os culpados. Defendemos também a abertura do sigilo fiscal e bancário dos acusados, assim como a prisão e o confisco dos bens de corruptos e corruptores.
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