Quando a oposição de direita, liderada pelo PSDB, conseguiu derrubar a CPMF, o governo anunciou um corte de R$ 20 bilhões no orçamento para compensar parte das perdas. Posteriormente, constatou-se que o governo teve alta recorde na arrecadação, mesmo sem o imposto do cheque. Nos meses seguintes, foi anunciado com entusiasmo o crescimento de 5,4% do PIB em 2007. O que o governo faz diante desse cenário? Aumenta o aperto fiscal para R$ 30 bilhões.

Empregado exemplar
Diante da crise financeira dos EUA, o governo quer sinalizar ao mercado internacional que conterá os gastos para cumprir sua meta de superávit primário (a economia para pagar os juros da dívida), hoje estipulada em 3,8% do PIB. A medida também visa impedir uma eventual inflação provocada pelo aumento do consumo.

De acordo com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, os cortes, considerando o já efetuado na votação do Orçamento, podem chegar a R$ 30 bilhões. O congresso já cortou cerca de R$ 12,5 bilhões da peça orçamentária votada em março e sancionada recentemente por Lula. Agora, Lula analisa três possibilidades de cortes extras: R$ 14,5 bilhões, R$ 16,5 bilhões ou R$ 19,5 bilhões. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o presidente estaria pendendo para a alternativa do meio, de R$ 16,5 bilhões.

Durante reunião realizada por Lula e sua equipe econômica no Palácio do Planalto no último dia 2, no entanto, o ministro da Fazenda Guido Mantega defendeu um corte adicional de R$ 20 bilhões. Segundo ele, esse aperto fiscal faria com que o Banco Central não cumprisse sua ameaça de elevar a taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Duas opções, uma só política
A imprensa vem enfocando um suposto atrito entre o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Porém, essa disputa se resume a duas opções recessivas: aumentar ainda mais a taxa de juros, encarecendo o crédito para diminuir o consumo, elevando também a dívida pública, ou um brutal aperto fiscal nas contas públicas, com a inevitável deterioração ainda maior dos serviços públicos como saúde e educação.

Diferentemente do enfoque, o governo Lula vem na prática aplicando uma política com todas essas medidas: uma das maiores taxas de juros do mundo e um aperto fiscal que impede investimentos em áreas sociais como saúde e educação, privilegiando o pagamento dos juros da dívida.

O anúncio dos cortes mostra que nem mesmo o governo acredita na tese do “descolamento” da economia brasileira, e mostra como Lula se prepara para a crise: com mais arrocho fiscal e uma política recessiva contra os trabalhadores.