George Bezerra, de Fortaleza (CE)

Operários da construção civil saíram em coluna até o local do atoResgatar a o caráter classista e combativo do dia internacional da classe trabalhadora, relembrando a luta dos mártires de Chicago; unir os setores em luta para reivindicar moradia, reforma agrária e derrotar a investida contra os direitos trabalhistas, sociais e previdenciários, expressa nas reformas que o governo Lula pretende realizar; contrapor-se ao 1º de Maio da CUT, organizado pelo ministério do trabalho, prefeitura de Fortaleza, governo do estado do Ceará e os sindicatos patronais da construção civil e do comércio: foram esses os principais objetivos da atividade do 1º de Maio organizada pelas 32 organizações que compõem o Fórum Estadual de Luta Contra as Reformas Neoliberais. Certamente, os três objetivos foram alcançados.

A praça do Colégio do Liceu, localizada no histórico bairro da Jacarecanga, concentrou centenas de pessoas que deslocaram-se de diversos bairros da Grande Fortaleza. Destacaram-se os operários da construção civil que, por volta das 7h, começaram a chegar à sede do sindicato para tomar o “café da manhã do peão” com muita fruta, pão, leite e café. Logo após, uma bela coluna vermelha, com cerca de 150 operários, saiu do sindicato e chegou à praça do Liceu cantando “Eu sou Conlutas, eu sou peão, a CUT é do governo e do patrão”.

Do Barroso, bairro da periferia de Fortaleza, vieram os sem-teto da ocupação Nossa Senhora das Graças. O MLB (Movimento de Luta dos Bairros e Favelas) trouxe um ônibus lotado com moradores de ocupações localizadas em áreas de risco da cidade. Os índios Tapebas saíram da Caucaia, na região metropolitana, trazendo a antiga, mas atual, bandeira da demarcação das terras indígenas.

Por volta das 9h30, a manifestação tomou a forma de passeata, saindo da praça do Liceu com destino à praça do Bairro do Carlito Pamplona, local de importantes manifestações operárias e de memoráveis atos de 1º de Maio. A caminhada percorreu boa parte da Francisco Sá, avenida onde foram construídas as primeiras grandes fábricas de Fortaleza. Durante o percurso, motoristas, populares nas ruas e passageiros de ônibus expressaram apoio à manifestação.

Após 40 minutos, os manifestantes chegaram à praça do Carlito Pamplona. No local, as organizações sindicais, populares, estudantis e os partidos políticos que construíram o ato (PSTU, PCB, PSOL, PCR e MST) saudaram a mobilização e realizaram intervenções. Um momento importante foi a posse da nova diretoria do sindicato dos gráficos.

A atividade cultural ficou por conta de grupos musicais e de dança, organizados pelas comunidades da periferia que estiveram presentes no ato.

Conlutas se fortalece e se destaca na construção da unidade
O 1º de Maio em Fortaleza é uma prova do fortalecimento da Conlutas no Estado. A Conlutas foi a organização de maior representatividade no ato, com uma superioridade numérica indiscutível. Além disso, a coordenação esteve na linha de frente da construção da unidade expressa neste dia.

Infelizmente, a plenária do grito dos excluídos, composta pelas Pastorais Sociais, Assembléia Popular, MAB e MST, decidiu por um outro ato no 1º de Maio. Os companheiros expressaram acordo com eixo do ato proposto pela Conlutas (independente dos patrões e do governo, em defesa dos direitos dos trabalhadores, por moradia e reforma agrária), mas não concordaram que os sindicatos e partidos políticos falassem durante a atividade.

Mesmo com as mediações propostas pela Conlutas, não houve acordo em garantir um 1º de Maio unificado que, certamente, juntaria por volta de 1.000 pessoas. No entanto, vale destacar a iniciativa do MST que enviou uma delegação para o ato organizado pelo Fórum e falou da necessidade de realizarmos um dia 23 de Maio unificado.

Mobilizar para o dia 23 de maio
O próximo passo do plano de Lutas é a construção do dia 23 de Maio. Essa data pode ser marcada por um misto de fortes mobilizações operárias e camponesas. Além disso, pode fortalecer a construção da unidade contra os planos do governo Lula. Essa é a próxima grande tarefa das organizações que construíram o vitorioso 1º de Maio em Fortaleza. Sem dúvida, a Conlutas e o PSTU continuarão na linha de frente da implementação do plano de lutas deliberado pelo encontro do dia 25 de Março e na construção da unidade para lutar contra os ataques do governo Lula, dos patrões e do latifúndio.

O que foi dito no ato
“Lembro que, em 2002, fui vaiado no 1º de Maio organizado pela CUT, quando disse que, pelo marco de alianças que o Lula estava fazendo, seu governo não iria atender os anseios da classe trabalhadora. Hoje, vejo que nosso partido tinha razão. O que falávamos foi comprovado. Mas, não ficamos parados. Estamos construindo a Conlutas e a unidade necessária para a classe trabalhadora continuar lutando. E vai ser preciso muita unidade e luta para barrar as reformas.”
Raimundão, ex-candidato a senador, operário da construção civil e militante do PSTU

“Esta atividade é a expressão de um novo momento. Há uma recomposição das forças do campo socialista no Brasil. Se esse processo continuar se fortalecendo, estaremos em melhores condições para barrar os ataques do governo.”
Renato Roseno, ex-candidato a governador pela Frente de Esquerda Ceará Socialista e militante do PSOL

“Hoje é um dia histórico por dois motivos. Primeiro, estamos trazendo o 1º de Maio de volta para uma importante região operária de Fortaleza. Segundo, porque esse ato representa a unidade das organizações combativas e socialistas para derrotar os planos do governo Lula.”
Paiva Neves, ex-candidato a vice-governador e militante do PCB