De 31 de janeiro a 5 de fevereiro de 2002 vai se realizar em Porto Alegre a segunda edição do Fórum Social Mundial. O primeiro evento, ocorrido em janeiro passado na mesma cidade, atraiu 16 mil pessoas de

117 países. Neste ano os organizadores esperam 50 mil participantes.
O sucesso da primeira edição do Fórum deveu-se a uma mudança na situação política mundial. Depois dos anos 90, em que assistimos a uma ofensiva neoliberal em toda a linha, as mobilizações de Seattle, Praga, apontavam uma nova situação. As ações diretas nas ruas contra as instituições símbolo do imperialismo (FMI, Banco Mundial, OMC) indicavam fenômenos mais profundos de contestação aos planos neoliberais.

O Fórum de Porto Alegre propunha-se a ser uma alternativa ao Fórum de Davos (reunião das grandes empresas internacionais, que se realizava na mesma data). Com isso ganhava visibilidade para apresentar um programa alternativo ao neoliberalismo.
De um lado Davos, com economistas, intelectuais, políticos ligados ao grande capital pensando como continuar os planos que lhes asseguram grandes lucros e escapar da crise econômica que já alcança os países imperialistas. De outro, em Porto Alegre, representantes da esquerda, intelectuais, ONGs, representantes das minorias discutiriam uma alternativa programática e de mobilização contra o neoliberalismo.

Uma alternativa reformista

Mas, na verdade, o Fórum foi uma iniciativa de setores que tinham pouco a ver com os que se mobilizaram nas ruas em Seattle, Praga ou Quebec. O empresário brasileiro do setor de brinquedos Oded Grajew; o francês Bernard Cassen, editor do Le Monde Diplomatique, Francisco Whitaker, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, Sérgio Haddad, presidente da Abong (Associação Brasileira de ONGs), mais representantes do IBASE , e da direção da CUT foram o núcleo criador do Fórum.

Setores ligados a parcelas da burguesia, da esquerda da social democracia européia, da direção do PT e da CUT projetaram o Fórum como uma alternativa reformista: afirmando mudanças parciais, sem ruptura com as multinacionais, nem a fundo com o modelo neoliberal.
Bernard Cassem, talvez o mais influente fundador do Fórum, além do Le Monde Diplomatique é também dirigente da ATTAC, uma entidade internacional que luta pela adoção da Taxa Tobin, uma espécie de CPMF a nível internacional que teria como objetivo conter os fluxos financeiros especulativos. A experiência brasileira já demonstra a superficialidade do ímpeto reformista da ATTAC.

Oded Grajew é o grande defensor de uma mobilização mundial dos consumidores. Estes conseguiriam com sua pressão, segundo ele, fazer com que as empresas pagassem salários justos, não poluíssem o meio ambiente, não especulassem. Bastaria que todos parassem de consumir um produto para que a empresa em questão mudasse seus rumos. Só falta convencer a população esfomeada do mundo que, quando tenha algum dinheiro para consumir, deixe de comprar tal ou qual produto apesar de ser mais barato, porque a empresa não é “socialmente correta”.

Os setores dirigentes do Fórum defendem a “cidadania” como grande objetivo para todos os explorados. Para eles, não existiriam trabalhadores com interesses contrapostos aos da burguesia, mas sim “cidadãos” com interesses comuns em saúde, educação, habitação, etc. Bastaria aplicar então um programa de “inclusão social”, mantendo a estrutura capitalista, com reformas pontuais ao estilo das prefeituras petistas (bolsa-escola, etc) e uma forma mais democrática (o orçamento participativo, por exemplo), para que o mundo fosse maravilhoso. Não por acaso o lema do Fórum é extremamente vago: “um outro mundo é possível”.

Um mundo socialista é possível

A primeira edição do Fórum discutiu estes e outros pontos programáticos, começando a gestar um programa na via da construção de uma organização reformista internacional, com um peso crescente em todo o mundo. Com a crise do neoliberalismo e da social democracia , uma nova alternativa “propositiva” e reformista estaria em gestação. Algo assim como uma 4ª via.

Mesmo em termos das mobilizações contra a globalização, o Fórum não se propôs a fazer um esforço de unificação. Durante a primeira edição, a direção do Fórum impediu uma manifestação do MST que seria feita em frente ao Mac Donald`s. A mobilização de Buenos Aires contra a Alca, ocorrida logo após, não contou com a presença nem com o apoio efetivo da direção do Fórum.

È que estes setores dirigentes apontam para um programa de mudanças cosméticas por dentro da estrutura capitalista, negociando reformas extremamente tímidas, sem uma contestação aberta do imperialismo e do capitalismo. Para de verdade construirmos um mundo novo será necessário derrotar o imperialismo e abrir as portas para a construção do socialismo. Para nós, “um outro mundo socialista é possível”.