O Grupo Baader-Meinhof retrata a história dos guerrilheiros que agitaram o cenário político alemãoAgressão militar dos EUA, a luta palestina contra a ocupação israelense, a ditadura no Irã. Os temas que poderiam muito bem figurar no cenário internacional hoje constituem, na verdade, o pano de fundo no qual se desenrola a história do filme alemão O Grupo Baader-Meinhof, dirigido por Uli Edel e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
O longa, baseado num livro de Stefan Aust nos anos 80, retrata a história do grupo alemão Facção do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão), batizado de Baader-Meinhof pela imprensa germânica. Fundado no final dos anos 60, a curta história do grupo de militantes de esquerda que partiram para a luta armada é marcada por assaltos a bancos, atentados a bomba e assassinatos. Assim como uma dura repressão estatal da então República Federal da Alemanha.
Janis Joplin, Jimi Hendrix e Vietnam
Se os protagonistas internacionais são os mesmos de hoje, a situação política era, no final da década de 60, bem diferente. Era o auge da guerra no Vietnã. No Irã, a ditadura não era a dos aiatolás, mas a do xá, aliado dos EUA. Na Palestina, a Frente Popular para a Libertação da Palestina era ainda um grupo armado destinado a combater Israel até as últimas consequências.
Foi nesse contexto que na Alemanha Ocidental, em pleno movimento estudantil explosivo, excitado pela onda que viria a desembocar no Maio de 1968, jovens radicalizados se decidem pela luta armada e partem para o combate direto contra o Estado.
O filme de Edel começa justamente durante uma manifestação contra a visita do Xá na Alemanha, em 1967. O protesto é duramente reprimido, e um ativista é assassinado. A polarização entre militantes de esquerda de um lado, Estado e jovens fascistas de outro se acirra, enquanto, no imaginário da esquerda, permanecem vivas as imagens românticas dos guerrilheiros da América Latina, com a silhueta de Che estampada nos pôsteres e camisetas.
Em tom documental, o longa alterna ficção com imagens reais de reportagens da época. Os dois principais integrantes do grupo, o jovem impulsivo Andreas Baader e a conhecida jornalista Ulrike Meinhof, mostram dois aspectos do fenômeno guerrilheiro. De um lado a impulsividade e o chamado à ação dos estudantes e, de outro, a radicalização de setores da classe média, que percebem cada vez mais restritos seus espaços de atuação política, justo num momento de grandes turbulências. Tudo embalado numa trilha de Janis Joplin e Jimi Hendrix.
Um dos trunfos de Edel é apresentar um amplo panorama da época. Tanto da situação internacional quanto do interior da Alemanha pós-nazismo. Um dos principais elementos que o filme coloca como impulsionador do Baader-Meinhof é o trauma da geração de jovens que nasceu em plena Segunda Guerra e a sua determinação em não repetir os erros de seus pais, ou seja, a passividade diante do nazi-fascismo.
Ao mesmo tempo, o filme coloca de forma contundente a liberação sexual dos anos 60. Como na cena em que, em pleno treinamento militar na Jordânia, os militantes árabes da FPLP se deparam com as guerrilheiras alemãs nuas, banhando-se sob o sol do deserto. Ao serem repreendidos pelo dirigente do campo de treinamento, Baader dispara: “transar é o mesmo que atirar”.
Sonho e desilusão
O filme não escapa dos estereótipos dos militantes guerrilheiros da época. Se, por exemplo, O que é isso companheiro, traça um perfil dos militantes como se fossem robôs idiotizados repletos de frases feitas, no filme alemão, Baader é representado como um psicótico surtado. O que, felizmente, contrasta com a complexa imagem de Meinhof e seu desenvolvimento ao longo da história. Da ruptura com sua classe social à desilusão com a luta armada e seu definhamento psíquico na prisão.
A difícil transição entre a euforia do sonho guerrilheiro ao choque de realidade e a desilusão é marcada de forma dura. Assim como a dramática marginalidade social do grupo. Se a esquerda armada na América do Sul, em via de regra, sofreu ao desprezar o movimento de massas e se lançar de armas na mão contra o Estado, dá pra imaginar como isso se deu na Europa.
Como Adeus Lênin e A Vida dos Outros, que enfocavam a vida na Alemanha Oriental, O Grupo Baader-Meinhof vem, assim, na esteira de bons filmes alemães que tentam reinterpretar o passado, desta vez no lado capitalista.
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