No Ceará, a confecção é uma categoria formada por uma maioria de mulheres jovens e no primeiro emprego. Mas há um agravante: a situação de extrema pobreza do estado. Quase metade da população sobrevive com renda de até R$ 232 mensais e destes, 47% são beneficiados pelo Bolsa Família. Mais de 90% dos responsáveis legais destas famílias são mulheres. A maioria, trabalhadoras da confecção.

Grandes empresas, como Guararapes e Malwee, usam este exército de mão de obra do Bolsa Família para obter vantagens e aumentar seu lucro. Isso explica a ausência de crise no ramo têxtil, que representa cerca de 3,5% do PIB brasileiro, com faturamento médio anual de R$ 90 bilhões.

Com o argumento de “geração e distribuição de renda” conseguem contratos com ajuda dos governos. No entanto, atualmente o salário de uma costureira é R$ 642 e o de uma auxiliar, R$ 632.

Na confecção há um imenso batalhão no trabalho informal, sem representação sindical. Há imensos obstáculos para a participação das mulheres na vida política e sindical. Primeiro, a dupla ou tripla jornadas. Ao sair da fábrica, correm de volta para casa para os afazeres domésticos. Algumas ainda voltam a estudar, buscando melhores ocupações.

Sem creche no bairro e no trabalho, não têm onde deixar os filhos. O acompanhamento dos filhos e da casa ainda estão sob responsabilidade das mulheres, não sobrando tempo para a participação nos espaços do sindicato. Sob essas condições, a organização das mulheres nos sindicatos representa mais uma atividade na sua vida, inclusive para as que são da estrutura do sindicato.

Para reverter essa situação é preciso que o conjunto dos trabalhadores assuma a luta para libertar as mulheres das demais tarefas. Por isso a luta por creches, ampliação da licença-maternidade e por restaurantes e lavanderias coletivos e públicos ganha urgência na pauta das trabalhadoras, assim como a luta por melhores salários.

*Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Industria da Confecção Feminina e Moda Íntima de Fortaleza.